Sobre florescer mesmo no caos | Bordado sobre papel
Tem que ter paciência, dizia ela na beira da janela
Olhando a rua lá fora
Tão estranha a sensação de não estar ali
Ir e vir
Mas como sabemos
Somar pra tudo isso
Não se propagar
Faz parte da multiplicação
De uma forma de afeto
Para com os outros
Somos esse movimento
De cura
Faz parte, ela disse
Ter paciência
Mas às vezes
Parece que não temos competência
Tarefa muito difícil
Esperar o mundo se alinhar
Pra gente voltar
Mas estamos sempre indo, dizia ela
É que parece que
Dá uma ardência nos olhos,
de querer ver logo a vida correr
Mas nessa onda, que fez a gente recuar
Busque profundo, dizia ela
Compreenda que
A cada dia
É menos um, mais perto de lá onde tudo é possível
Tudo sempre é o agora
E conviver com a ansiedade é passageiro, percebemos e acolhemos essas sensações, sabendo que de repente transmutam
Pois é, às vezes,
as surpresas nos causam contrastes
Mudam a rotina,
as certezas,
faz parte
Mitti Mendonça
Mitti Mendonça (São Leopoldo-RS, 1990-) é artista visual independente. Em 2017, criou o selo Mão Negra Resiste, motivada por fomentar diálogos e protagonizar poéticas negras no universo da arte. Sua pesquisa aborda territórios negros, memória, afeto e ancestralidade. Tem uma produção que perpassa as linguagens de bordado, colagem, gravura, desenho e arte sonora. Além disso, elabora publicações, como fanzines. Atua no circuito de feiras de arte impressa e exposições.
>> @mao.negra (Instagram)