Conversa Mesa-redonda: Tradução e autoria afrodiaspórica

Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil

6ª, 30.08.2024

10:00 - 11:15

Fundação Biblioteca Nacional

Mesa-redonda com Jess Oliveira, Lígia Ferreira e Vagner Amaro

Na sexta-feira, 30 de agosto, às 10h, as tradutoras e pesquisadoras Jess Oliveira e Lígia Ferreira conversam com o editor Vagner Amaro, fundador da Editora Malê sobre os desafios para a tradução de literatura contemporânea de autoria Negra e afrodiaspórica para o português brasileiro. A mesa apresentará um panorama das mudanças recentes no mercado editorial nacional, o papel dos profissionais da tradução como curadores e a importância das parcerias entre editoras, instituições e tradutores para a difusão de pensadores renomados e de nomes da literatura contemporânea.

O encontro acontece na Fundação Biblioteca Nacional, gratuitamente, no âmbito da Cerimônia de Entrega da 3ª edição do Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil. A iniciativa é uma parceria entre a Embaixada e o Goethe-Institut, como parte da cooperação francoalemã Juntes na Cultura.
 

Tradução de literatura de autoria Negra de expressão alemã

A literatura de autoria Negra e afrodiaspórica de expressão alemã tem uma longa e notável tradição, que ganhou vida em muitos movimentos. Nos últimos anos, a presença da literatura contemporânea em língua alemã de autoria Negra aumentou significativamente no campo literário. Romances como “1000 Serpentinen Angst”, de Olivia Wenzel, “Adas Raum”, de Sharon Dodua Otoo, ou “Brüder”, de Jackie Thomae, só para citar alguns, tornaram-se o foco da discussão literária. Prêmios como o Ingeborg-Bachmann-Preis para Otoo ou o Prêmio da Paz da Câmara do Comércio Livreiro Alemã para Tsitsi Dangarembga estão atraindo mais atenção. Festivais como o "Resonanzen - Schwarzes Internationales Literaturfestival", que, pela terceira vez em 2024, fez parte do Ruhrfestspiele Recklinghausen, tornam visível a diversidade de perspectivas e poéticas negras. E nas universidades alemãs, os Estudos Negros Alemães estão se estabelecendo cada vez mais como um campo transdisciplinar de pesquisa que abre a presença afrodiaspórica de longa data na Alemanha e explora suas tradições literárias e "intervenções" estéticas. 

A demanda para ver mais autoras e autores e posições não brancas na cena literária e torná-las mais visíveis é a resposta a uma prática de longa data de marginalização social, que também se refletiu em critérios supostamente objetivos de valorização literária. Os protestos do Black Lives Matter, em 2020, aumentaram a conscientização sobre o racismo institucional na Alemanha entre setores mais amplos da população e inspiraram a reflexão sobre como o setor literário e teatral alemão pode refletir sobre sua branquitude e combater a falta de diversidade. No entanto, ainda há muito a ser feito, como afirmou Sharon Dodua Otoo em 2022. Como ainda "não há um número suficiente de autoras e autores Negros que são publicados pelas grandes editoras, que são resenhados, que são convidados para leituras e eventos literários, que recebem prêmios literários", uma dimensão político-ativista deve complementar a estética.

A questão é que essa lacuna também é visível quando falamos de tradução, e tradução para o português brasileiro.

Além de ampliar o acesso ao público, as traduções de obras literárias feitas por pessoas Negras de territórios diversos possibilitam a troca de conhecimentos acerca da experiência diaspórica em diferentes regiões do mundo. A circulação de saberes, memórias e produções estéticas enriquece o campo cultural e permite uma compreensão mais ampla de legados históricos e estratégias de luta por reparação e igualdade.
 

Prêmio de Tradução

O Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil recompensará a tradução de uma obra francófona em português (ficção ou não-ficção) publicada no Brasil entre 1° de maio de 2023 e 30 de abril de 2024. A mesa que ocorrerá durante a cerimônia de premiação é fruto de uma cooperação cultural franco-alemã no Rio de Janeiro. Desde a renovação de um tratado histórico de amizade entre Alemanha e França, no dia 22 de janeiro de 2019, em Aachen, o Goethe-Institut Rio de Janeiro e a Embaixada da França no Brasil têm intensificado sua parceria para a realização juntos de ações culturais.
 

Programação completa:

09h30 | Abertura institucional, com Marcos Lucchesi, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, François Legué, Conselheiro de Ação e Cooperação Cultural da Embaixada da França no Brasil e Isabel Hölzl, Diretora do Goethe-Institut Rio de Janeiro

10h00 | A tradução e autoria afrodiaspórica: Mesa-redonda com Jess Oliveira, Lígia Ferreira e Vagner Amaro, e mediada por Stephanie Borges

11h15 | Prêmio de Tradução da Embaixada da França no Brasil: Mesa-redonda com João Vicente, Juliana Estanislau de Ataíde Mantovani e Maria da Glória Magalhães dos Reis

12h15 | Entrega do Prêmio

12h30 | Coquetel/brunch
 

Participantes da mesa

Jess Oliveira é tradutora, pesquisadora, professora e poeta. Possui Bacharelado em Letras (Alemão e Português) pela Universidade de São Paulo (USP) e mestrado em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sua dissertação de mestrado apresenta a produção poética de May Ayim (1960-1996), o surgimento do movimento negro alemão contemporâneo e o processo tradutório dessa poeta no Brasil, contextualizando a obra de Ayim no âmbito da Filologia Alemã, ao mesmo tempo que explora seus significados no âmbito estético vernacular na Diáspora Negra. Integrou entre 2017 e 2022 o grupo de pesquisa Traduzindo no Atlântico Negro da UFBA, onde se doutorou em Literatura e Cultura. Foi bolsista DAAD/CAPES (2021-2022) de doutorado sanduíche na Universidade Bayreuth, Alemanha. Em 2020, foi finalista do prêmio Jabuti na categoria Tradução e integra, com Bruna Barros, o cocoruto art-duo, plataforma de experimentação em tradução.

Lígia Ferreira é tradutora e pesquisadora brasileira. Fez sua graduação em Letras e Linguística na Universidade de São Paulo (USP). Obteve um doutorado em letras (mundos lusófonos) na Universidade Paris 3, com uma tese sobre o escritor, jornalista e abolicionista negro brasileiro Luiz Gama, tema de vários trabalhos inéditos. Ao retornar ao Brasil, passou a lecionar na Universidade de São Paulo, onde se tornou diretora do Centro de Línguas. Desde 2009, é pesquisadora e professora na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ocupando a cátedra de francês e literaturas de expressão francesa.
Nos últimos anos, tem se interessado especialmente pelo fenômeno do plurilinguismo e da autotradução entre escritores não francófonos de expressão francesa. Em 2018, recebeu a condecoração das Palmas Acadêmicas do governo francês.

Stephanie Borges é poeta e tradutora. É autora de »Talvez precisemos de um nome para isso« (Cepe, 2019) e da plaquete bilingue »Made of Dream/ Feito um sonho« (Ugly Ducking Presse, 2023). Traduziu autores como Audre Lorde, Margaret Atwood, Claudia Rankine e Jericho Brown. Publicou ensaios na revista Serrote e colabora com veículos como Folha de S. Paulo e a Revista 451. Integrou o coletivo curador da Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2023 e, em 2024, foi curadora da programação literária do pavilhão brasileiro da Feira Internacional do Livro de Bogotá (Filbo). 

Vagner Amaro é editor e escritor.  Mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e doutor em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Publicou »Eles: contos« (2018), »Mandisa e a vovó Alegria« (2021) e »Os dias em que não te vi: poesia« (2022), »Deixe que eu sinta teu corpo: contos« (2024). Organizou diversas publicações, com destaque para »Olhos de azeviche: dez escritoras negras que estão renovando a literatura brasileira« (2019); »Machado de Assis: contos e crônicas« (2020) e »Do Índico e do Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos« (2021).

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