Qual a diferença entre um museu e uma rodovia? Os visitantes de uma exposição passam “voando”, em segundos, pelas obras de arte. Ou seja, artistas precisam ter criado algo de fato muito especial para prender a atenção de quem trafega por ali. Saskia Trebing, que vasculhou aterros, áreas de descanso na beira de estradas e pistas de rodovias, apresenta sua seleção de obras de arte notáveis encontradas nas estradas de alguns países.
Em preto e branco, cheia de figuras geométricas e inalterável do ponto de vista da forma: talvez a Autobahn seja, ela própria, a maior obra de arte de todas. As linhas claras e nítidas sobre o asfalto são pinturas abstratas perfeitas. Os volumes de terra que tiveram de ser movidos e moldados para a construção dos trechos deixariam qualquer artista de Land Art morto de inveja. Voar a 130 km/h (ou, às vezes, o dobro disso, como no caso da Alemanha) transforma o mundo que fica do outro lado da janela do carro em faixas coloridas. E dirigir em linha reta, por horas a fio, cruzando paisagens que, na maioria das vezes, são apenas medianamente interessantes, é uma tarefa com traços de prova de resistência. Portanto, não é de se admirar que quase nenhum outro elemento da infraestrutura dos transportes tenha sido pintado, fotografado, poetizado e cantado com tanta frequência quanto a rodovia: de Autobahn do grupo alemão Kraftwerk à Highway To Hell do AC/DC.No entanto, mesmo nessas vias rápidas, quando você não se perde completamente em uma visão de túnel ao volante, há de vez em quando alguma arte a ser descoberta. Há casos de cidades que foram convencidas a aceitar que grafiteiros inscrevessem suas obras sobre uma barreira acústica posicionada na beira da estrada. Outras vezes, os outdoors, usados para anunciar todo tipo de coisa nos EUA e cada vez mais na Europa, são utilizados como telas superdimensionadas. Não há nenhum outro local de exposição no mundo que tenha tanto público quanto uma via de grande movimento e várias pistas. Quantas pessoas de fato olham para as obras já é outra questão. E, transcorridos alguns segundos, a exposição nesse espaço público já ficou para trás novamente.
Arc Majeur, ou o Arco Gigante, na Bélgica
Quem viaja pela E411, perto do castelo belga de Lavaux-Sainte-Anne, na Valônia, se depara (queira ou não queira) com um grande nome da história da arte. Ali, o escultor Bernar Venet, conhecido por suas imponentes construções, instalou em 2019 seu Arc Majeur. Trata-se de um arco de 60 metros de altura, feito de 250 toneladas de aço corten, que parece afundar no solo de um lado da estrada e emergir no outro. A mensagem da obra é um pouco obscura – a ideia é emoldurar aquele trecho, sugerir uma espécie de túnel invertido ou representar as consequências de um acidente gigantesco com danos na carroceria? Sem dúvida, fato é que a obra de Venet é uma das maiores esculturas da Europa. Os caminhões e carros que passam parecem carrinhos de brinquedo ao lado do monstro arqueado. À noite, essa forma máxima do minimalismo é iluminada por holofotes. E, assim, funciona como uma espécie de farol moderno em terra firme.© Getty Images, Eric Lalmand
Cubos e cilindros na França
Não tanto espetacular, mas conceitualmente engenhosa, é a arte presente na rodovia francesa A4, perto da cidade de Reims. Em uma extensão de cerca de 25 quilômetros, aparecem repetidas vezes nos aterros ao lado da estrada formas geométricas coloridas: cubos e quadrados horizontais, cilindros e triângulos pintados ou esferas semelhantes a globos. O conjunto compõe uma obra do artista Guy de Rougemont, que distribuiu esses objetos no local em 1974. Além de uma introdução à teoria da forma e da cor, essa extensa obra contém também um aspecto de segurança: como a rota nesse trecho é particularmente monótona e sem intercorrências, os atrativos coloridos têm o objetivo de chamar a atenção dos motoristas para evitar que durmam ao volante. Essa preocupação da arte com o bem-estar do público não é, diga-se, algo que aconteça com frequência.Foto von Verena Hütter
Cratera colorida em Paris
A rede viária da França parece, de maneira geral, ser um terreno fértil para a arte nas proximidades de rodovias. Em 2015, o duo TenTen 1010, de Hamburgo, pintou grandes áreas coloridas em um trecho desativado do anel viário periférico, em Paris. Quem trafega pelas novas pistas ao lado vê apenas algumas formas coloridas. A forma da obra de arte só pode ser vista por inteiro quando observada do alto. Sob essa perspectiva, a pintura forma uma enorme cratera na pista – um trabalho de grande efeito, mas, por sorte, de forma alguma danoso.© Getty Images, Joel Saget
Arquitetura de postos de abastecimento na Áustria
Quem precisar de uma pausa, depois de horas dirigindo, pode também encontrar arte em alguns postos de gasolina de beira de rodovia, embora de gosto muitas vezes um pouco duvidoso. O exemplo mais famoso de “arquitetura de postos abastecimento” pode ser encontrado na A2, na localidade austríaca de Bad Fischau. O posto foi projetado a partir de esboços do artista Friedensreich Hundertwasser e se destaca pelas típicas torres pequenas e coloridas e pelo jardim no terraço. Motoristas que se sentem como reis da estrada podem descansar ali, em um castelinho de fantasia, os pés cansados de pisar no acelerador. Em uma infraestrutura na qual a maioria dos postos de gasolina é tão uniforme quanto os postes de marcação na beira da estrada, tais excentricidades criativas são uma variação benéfica para os olhos de quem viaja.© picture alliance, Karl Thomas
Setembro de 2024