Reunindo uma vanguarda artística, a Escola de Artes Bauhaus pretendia promover moradias sociais e financiáveis. A grande meta da escola era, através de um design revolucionário, criar um novo estilo de vida para uma sociedade em pleno momento de ruptura.
Quem sonha em decorar sua sala de visitas com um objeto clássico da Bauhaus, como por exemplo uma cadeira Cesca de Marcel Breuer, ou uma luminária de Wagenfeld para acentuar a decoração do ambiente, pode se assustar com o preço dos objetos de design, ainda hoje muito cobiçados. Esses preços parecem hoje paradoxais quando se lembra da intenção dos designers da Bauhaus na época, que criaram os objetos justamente tendo em vista cidadãos de classes sociais menos abastadas. Mas não foi apenas o valor monetário das obras produzidas na Bauhaus que aumentou e sim sua valorização por completo. A elegância sóbria dos objetos tem hoje muito mais um caráter de tendência do que significado revolucionário. Embora justamente esse significado tenha sido a intenção da Bauhaus por ocasião de sua fundação, no ano de 1919: criar, através da forma, condições adequadas para a modernização radical da vida cotidiana.A Bauhaus foi criada em uma sociedade que havia sofrido com as consequências da Primeira Guerra Mundial e da economia industrializada. Inflação, fome, falta de emprego e moradia, bem como tensões sociais, alimentavam o desejo de uma reorientação social. Neste ambiente político e social, um grupo de artistas se reuniu em torno do arquiteto Walter Gropius, que viria a ser o fundador da Bauhaus em Weimar. Aos olhos de Gropius, a desastrosa situação social exigia a direção de um designer criativo. Com relação à arquitetura, ele dizia: “Construir é desenhar trajetórias de vida”. Alguns críticos o acusavam de estar sucumbindo a uma utopia romântica.
Modernização radical da vida
Diferentemente do movimento britânico Arts and Crafts, que idealizava a Idade Média e resgatava formas góticas, a Bauhaus tinha por meta uma reorientação do design. Grupos interdisciplinares de artistas deveriam, primeiro em cooperação com artesãos e mais tarde, em Dessau, também com a ajuda de máquinas industrais, criar objetos que deveriam dar forma à cultura do futuro. No Manifesto da Bauhaus, Gropius escreveu: “O fim último de toda a atividade plástica é a construção! […] Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos retornar ao artesanato! […] O artista é uma elevação do artesão”.Como os artistas da Bauhaus pretendiam melhorar as condições de moradia e vida sobretudo da população de baixa renda, todas as obras projetadas por eles deveriam ter preços acessíveis. Para eles, era importante que os objetos pudessem ser reproduzidos em massa sem gerar altos custos. Por isso, a Bauhaus forjou um tipo de forma que até então não havia sido do interesse de ninguém. O enfoque nas formas geométricas básicas, como quadrado, círculo e triângulo, por exemplo, era no mínimo pouco usual. No que diz respeito ao espectro de cores, as básicas vermelho, amarelo, azul, preto e branco deveriam bastar. Depois de visitar uma exposição de arquitetura organizada por Gropius, o crítico de arte Paul Westheim sinalizou: “Três dias em Weimar e você nunca mais vai querer ver quadrados na vida”.
Arte? Não na Bauhaus!
Os princípios da Bauhaus eram rigorosamente implementados: era preciso abdicar completamente de justificativas artísticas para o design, pois isso iria contra a ideologia. O uso e a função é que deveriam determinar o design e não o estilo ou a estética. Essa abordagem funcionalista significava, sem dúvida alguma, um potencial de conflito para os professores da Bauhaus – no jargão da escola chamados de “mestres” – que haviam ido para Weimar e Dessau como artistas plásticos.Essa austera e inovadora linguagem do design tornou-se visível sobretudo nos objetos de uso diário. Nos aparelhos de chá e café, por exemplo, que eram produzidos na oficina de metais, fica claro que os elementos não precisavam combinar entre si para satisfazer uma pretensão artística. Leiteirinhas, açucareiros ou bules eram realmente diversos em termos de estilo, dando às vezes a impressão de não fazerem parte de um mesmo aparelho. Para determinar o design, a função do objeto é que era relevante e não a impressão geral do conjunto. O bule de chá criado por Marianne Brandt é apenas um entre os muitos exemplos de como o movimento se distanciou das artes aplicadas. A premissa de que a “forma segue a função” já existia antes da Bauhaus, hoje é associada inseparavelmente ao estilo da escola.
Bule de chá MT 49 de Marianne Brandt, fotografado em 1924 por Lucia Moholy, fotógrafa da Bauhaus, em Dessau | Foto (detalhe): © picture alliance/dpa ambém na tecelagem era possível observar as novas tendências. No lugar da tapeçaria narrativa popular no início do século, a oficina da Bauhaus criava peças de tapeçaria com formas abstratas. No mais, se produziam principalmente peças de uso cotidiano: toalhas de mesa, passadeiras, roupas infantis e amostras para a indústria. Essas peças eram confeccionadas sobretudo pelas alunas da Bauhaus sob coordenação de Gunta Stölzl, inicialmente aluna e mais tarde mestra da escola.
apete de Agnes Roghé, artista da Bauhaus | Foto (detalhe): © picture alliance/dpa/Hendrik Schmidt Mas as inovações da Bauhaus iam além de uma revolução nas formas. Nas oficinas da Bauhaus, surgiram campos profissionais na interface entre a técnica e o design, algo que até aquele momento não existia ainda. Para a propaganda das obras, a escola formava fotógrafos e criou novas tipologias, sobretudo nas cores vermelho e preto. A profissão do designer gráfico surgiu o mais tardar quando se ofereceram na oficina de reclames cursos de “sistemática da propaganda” e “ação sobre a consciência”.
Esboço de pôster de Herbert Bayer, 1926 | Foto: © picture alliance/Heritage Images
Design para as massas
O design revolucionário que a Bauhaus desenvolveu sob a liderança de Walter Gropius passou a ter um viés mais social depois que a escola passou, em 1927, para as mãos do novo diretor Hannes Meyer. Mais do que nunca, passava a ser função da Bauhaus criar em função das necessidades do povo: para o “proletariado”. Sob a égide de Meyer, passava a valer a máxima da “artigos para o povo em vez de artigos de luxo”. E a pergunta decisiva deveria ser: “do que as pessoas precisam de fato em seu dia a dia?”. Em vez de tapetes, passaram a ser produzidos carpetes robustos. Havia uma cooperação entre as diversas oficinas quando era preciso criar materiais elásticos duráveis para os móveis de tubos de aço.Mulher na cadeira de tubos de aço de Marcel Breuer, 1926 | Foto (detalhe): Fundação Klassik Weimar/Coleção Wulf Herzogenrath/Stephan Consemüller A luminária de Wagenfeld, mencionada de início, é um bom exemplo de quão grande era o abismo entre a ideia de design para as massas e a realidade econômica. Produzida de prata e vidro, e de forma artesanal, a ideia de uma luminária barata, acessível até mesmo para operários, mostrou-se uma mera ilusão. Até mesmo o criador da famosa luminária de mesa, Wilhelm Wagenfeld, declarou sobriamente, ao regressar de uma feira em 1924: “Os comerciantes e fabricantes riram de nossos produtos, dizendo que parecem baratos como produtos industrializados, mas são na verdade um artesanato caro demais. As críticas tinham fundamento”.
Luminárias de Wagenfeld à venda: um objeto de decoração cobiçado, mas não necessariamente barato | Foto (detalhe): © Christos Vittoratos CC-BY-SA-3.0 Hoje, a realidade é de toda forma outra: o design da Bauhaus se tornou cult e os objetos de luxo são apreciados mais pela sua estética do que pela função. Mas os princípios e as ideias da Bauhaus entraram para a história. Eles marcam até hoje o design e a arquitetura, sendo ensinados em universidades de arte e design em todo o mundo. O legado de Walter Gropius e de seus sucessores Hannes Meyer e Ludwig Mies van der Rohe talvez possa ser reconhecido mais nitidamente em muitas das casas nas quais vivemos até hoje: é a eles que agradecemos terem trazido progresso, um estilo de vida moderno e a compreensão para formas claras às nossas salas de visita.