Guilherme Robaski

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Guilherme Robaski é designer multidisciplinar, mora em Porto Alegre, Brasil. Estudou Design de Produto na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e na UEL (Universidade of East London). Tem interesse nas áreas de design e artes visuais. É cofundador do Brio Design Coletivo.

 

 

Guilherme Robaski Guilherme Robaski - Atenção (2020)


Entrevista com Guilherme Robaski
Por Mel Ferrari


O bordado se insere numa gama de fazeres manuais ligados a tradição e a afeto. Como surgiu seu interesse pela técnica e como começou a inseri-la em sua produção artística?

O bordado surgiu num período em que eu buscava retomar o contato com técnicas manuais, fugir um pouco do computador. Acredito que muitas pessoas têm sentido essa necessidade de retomar fazeres que estavam ficando de lado diante de um modo de vida predominantemente acelerado e imediatista. Me motivo pela curiosidade de aprender como as coisas são feitas, como foi experimentado com fotografia analógica, colagem, serigrafia, cianotipia, xilogravura. Estudei design de produto, que é um pouco sobre trabalhar em diversas técnicas, se adaptando conforme a natureza dos projetos. A partir do momento em que aprendi alguns pontos básicos de bordado, fui trilhando esse caminho como uma necessidade de expressão, ter liberdade de criar algo do início ao fim, ir descobrindo enquanto fazia, sem compromissos.

Sua produção artística articula a formalidade da linguagem da arte impressa e a manualidade do têxtil. Sendo assim, suas obras se constituem em peças únicas, próprias de uma compreensão de campo expandido. Como você entende essa ambiguidade?

Virou uma grande mistura mesmo, acho que vem um pouco do design, projetar sobre um suporte, conduzir o olhar, usar e brincar com a tipografia, desconstruir as formas. Nesse processo de criação, gosto de ir do analógico para o digital, do digital voltar para o analógico, mesclar linguagens e ferramentas. A partir dessa liberdade, busquei também explorar as possibilidades do bordado em pequenos e grandes formatos, usando o para fazer pequenas animações como gifs, alterando o suporte, observando o que muda ao mexer nas variáveis.
 

Guilherme Robaski Guilherme Robaski - Tempo (2020)

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A temática das suas obras nos remetem a paisagens virtuais compostas por linhas e relevos topográficos. Como o campo virtual e o físico se conectam? Quais suas referências?

É muito legal e rico como a leitura varia de pessoa para pessoa, proporcionando trocas importantes nesses contatos. Gosto da ideia de inventar um lugar que não existe, que pode ser algo micro, macro ou em que as escalas se misturem. Somos alimentados diariamente por milhares de imagens, acho que é um desafio para o olhar, lidar com os excessos visuais. Às vezes talvez seja necessário até fugir um pouco deles para começar a criar. Me sinto inspirado por filmes, leituras, música, natureza, o que estou vivendo naquele momento.  Recentemente li um livro sobre o venezuelano Carlos Cruz Diez, gosto de artistas do “op art” pelo uso das linhas, de cores e malhas deformadas que dão sensação de movimento. Me fascina muito a produção têxtil de artistas da Bauhaus, como a Gunta Stölzl e a Anni Albers.

Você comenta que o bordado tem um tempo próprio. Qual sua percepção sobre o tempo agora no período de confinamento? Como sua produção artística tem sido atravessada pelas imposições da quarentena e de todo cenário que estamos vivenciando em função da Covid-19?

Muito interessante isso, acabei de terminar um bordado sobre esse tema. Foi como uma reflexão sobre o tempo que acabou levando um mês e meio. Dentre algumas inspirações, fiquei instigado por uma fala do escritor Rubem Alves sobre o prazer de levar tempo para se construir, da vida que deve ser gasta sem fazer economias. É isto, o bordado precisa de tempo, da vontade para fazer. Esse período de quarentena foi, num primeiro momento, pesado, exaustivo e de se fechar de muitos jeitos, mas, com o passar dos meses, acho que pude me centrar um pouco mais - ainda que muitas situações que vemos não sejam nada animadoras e exponham mais e mais a fragilidade das relações do ser humano entre si e com o planeta. A questão do silêncio foi muito marcante também. Nesse período, comecei a fazer alguns estudos em tapeçaria, que possibilita pensar de outras formas, pois gera possibilidades de volumes, permite o uso de outros materiais e linhas, bem complementar ao bordado.

Agosto, 2020
 
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