Paris: Nem um dia sem você

Paris - Kein Tag ohne dich  © © Jule Cramer Paris: Nem um dia sem você © Jule Cramer

 


Assistir ao filme agora


Conversas .doc

Correntes pesadas, para você meu amor

Um trabalho colaborativo entre Helena Pavan (texto), Marina Stein (fotografia) e Yasmin Borges (ilustrações)*

   

Paris 1 - Marina Stein (fotografia) e Yasmin Borges (ilustrações) © Marina Stein (fotografia) e Yasmin Borges (ilustrações) Paris 1 - Marina Stein (fotografia) e Yasmin Borges (ilustrações) Marina Stein (fotografia) e Yasmin Borges (ilustrações)

Viajar com Ulrike Schaz tem suas consequências - pelo menos desde julho de 1975. Antes da data fatídica, a diretora e protagonista do documentário autobiográfico sonhou em deixar a Alemanha para estudar cinema na França - mais precisamente, em Paris. O que ela não presumia era que, estando no lugar errado na hora errada, a cidade dos sonhos se tornaria palco do pesadelo de sua vida.
 
Neste documentário, acompanhamos, pela perspectiva ensaísta da diretora, as consequências individuais das políticas de combate ao terrorismo internacional através do armazenamento de dados. O que acontece com as informações de quem é (injustamente) levantado como suspeito? Quais supostas informações armazenadas justificam interrogatórios em condições desumanas? Schaz explicita sua confusão não somente através da direção, porém também pela montagem desalinhada que abre espaço para a exposição de seus outros trabalhos (pinturas, fotografias, esculturas), de forma que sua própria abstração evidencia a incoerência das acusações.

Paris 2 - Marina Stein (fotografia) e Yasmin Borges (ilustrações)
Marina Stein (fotografia) e Yasmin Borges (ilustrações)
Com o namorado francês Jean Marie, Ulrike pôde realizar brevemente uma de suas idealizações parisienses: um grande amor na capital do amor. Brevemente, porque seus caminhos cruzariam com a Rua Toullier Nº 9. O que deveria ser uma curta visita à festa de Carlos Sanchez, conhecido não muito próximo de Jean Marie, se tornou uma grave acusação de terrorismo e adversidade de uma vida inteira. Quando o casal se encontra novamente 40 anos depois do ocorrido, Jean Marie brinca com a possibilidade de ambos terem tido um filho juntos caso tivessem faltado à festa - outra derradeira consequência do amor de uma única noite -, mas seus filhos são o trauma e a história, que contam com notável ausência de autopiedade.  

Ao abrir a porta do endereço, o casal é recepcionado não por Carlos, mas pelo serviço secreto francês. São presos, despidos, humilhados e Ulrike, por ser alemã, é expulsa da França e registrada como membro do grupo terrorista Baader-Meinhof, “amiga de Carlos”, homem que nunca conheceu.
 
Mais tarde, é provado que as acusações do governo francês não passavam de uma falácia de culpa por associação e sua expulsão é revogada, mas as informações falsas associadas a seu nome permanecem, sem que ela saiba, em bancos de dados de estados e serviços secretos no mundo inteiro, além de inúmeras listas criminais. Ulrike só descobre sua "fama internacional" em 1993 - dezoito anos após a data que imaginava marcar o fim do pesadelo -, quando tenta entrar nos Estados Unidos durante uma viagem de pesquisa para um documentário e é novamente detida em nome de dados aparentemente mais incontestáveis que suas próprias súplicas. Ulrike jamais viajaria tranquilamente outra vez: estas são suas histórias.
 

*Helena Pavan, Marina Stein e Yasmin Borges são integrantes do Cineclube Academia das Musas e do fanzine de cinema Zinematógrafo. 


Conversas.doc é um projeto de crítica e conteúdos no qual artistas, jornalistas, estudantes, críticos e agentes culturais produziram materiais sobre os filmes da mostra ".doc". Textos, fotos, vídeos e ilustrações fazem parte da iniciativa, que visa promover uma conversa da cena local com os filmes através de conteúdos virtuais.

Top