Autor/a do Mês
O Goethe-Institut convida para a exposicão Autor/a do Mês, uma ação promovida pela Biblioteca.
Mensalmente, um/a conhecido/a escritor/a da língua alemã será homenageado/a pela nossa biblioteca em uma pequena exposição. Como um dos critérios de seleção, escolhemos o mês de aniversário do/a autor/a e criamos um espaço com um texto informativo sobre ele/a e suas obras disponíveis no nosso acervo para o empréstimo.
O objetivo dessa ação é dar vida ao acervo da biblioteca e criar um espaço de encontro entre o público e escritores/as de diferentes épocas. Com ela o/a escritor/a se materializa e o/a visitante poderá iniciar uma leitura com algum conhecimento prévio sobre vida e obra do/a autor/a.
Como tudo no Goethe-Institut, essa exposição é bilíngue (alemão e português).
Mensalmente, um/a conhecido/a escritor/a da língua alemã será homenageado/a pela nossa biblioteca em uma pequena exposição. Como um dos critérios de seleção, escolhemos o mês de aniversário do/a autor/a e criamos um espaço com um texto informativo sobre ele/a e suas obras disponíveis no nosso acervo para o empréstimo.
O objetivo dessa ação é dar vida ao acervo da biblioteca e criar um espaço de encontro entre o público e escritores/as de diferentes épocas. Com ela o/a escritor/a se materializa e o/a visitante poderá iniciar uma leitura com algum conhecimento prévio sobre vida e obra do/a autor/a.
Como tudo no Goethe-Institut, essa exposição é bilíngue (alemão e português).
"O artista Joseph Roth nunca traiu a naturalidade da linguagem para a arte. Ele escreve um alemão cristalino que soube combinar força e graça, infalivelmente seguro na palavra e na frase, brilhante sem falso brilho, musical na sintaxe e na coesão das frases, rico nas magias estilísticas e nas liberdades, mas também capaz de arrebatamentos, de grandes exaltações. Ele tinha tudo que legitimava o escritor [...] tinha paixão, espírito e coragem.” - Alfred Polgar
Joseph Roth é uma das personalidades mais renomadas da literatura contemporânea de língua alemã. Seu trabalho lhe rendeu ainda mais admiração e respeito do que poderia ter abalado o horror de sua triste autodestruição. Durante sua vida, ele conviveu com as maiores figuras da literatura mundial, incluindo Stefan Zweig, Heinrich Mann e Ludwig Marcuse. Após sua morte, vários escritores se encarregaram de pesquisar sua vida e obra, que ele mesmo transmitiu em variações sempre novas, até que finalmente alcançou o status de mito.
Acredita-se que o início das verdades em constante mudança em sua biografia ocorreu em sua infância. Moses Joseph Roth cresceu como filho de pais judeus na Galícia, uma região de fronteira nordeste do Império Austro-Húngaro, numa época em que esta região se caracterizava por uma extrema pobreza, por um lado, e por uma grande riqueza cultural, por outro.
Entre as muitas etnias residentes ali, ele pertencia aos chamados judeus orientais e entrou em contato com o anti-semitismo na infância. Além disso, a saúde mental de seu pai sofreu um colapso antes mesmo do nascimento de Joseph Roth, o que o impediu de participar da vida familiar pelo resto de sua vida. Roth cresceu sem pai. Ainda estudante e universitário começou a inventar várias versões do destino de seu pai, de sua família e de sua própria história de vida. Quando os colegas tentaram responsabilizá-lo por isso, ele rebateu com a afirmação: "Não é a realidade que importa, mas a verdade interior".
Após estudar língua e literatura alemã e seus primeiros trabalhos como jornalista em Lemberg e Viena, Roth serviu como voluntário na Primeira Guerra Mundial durante um ano, após seu retorno mudou-se para Berlim com a intenção de se tornar escritor. Aqui ele alugou, por um tempo, um apartamento no bairro de Schöneberg junto com sua esposa Friederike "Friedl" Reicher. Deveria continuar sendo a única residência permanente do escritor, pois pouco tempo depois ele iniciou extensas viagens para a França, Áustria, Itália e finalmente por toda a Europa, trabalhando como repórter de viagens para várias publicações e se acostumando a uma vida transitória em hotéis e pousadas.
Nos anos 20, Joseph Roth foi um dos jornalistas mais requisitados nos países de língua alemã e escreveu para o Prager Tageblatt, o Berliner Börsen-Courier e, por último, mas não menos importante, para o renomado Frankfurter Zeitung, do qual ele disse orgulhosamente: "No Frankfurter Zeitung não se escreve para o leitor, mas para a posteridade.” Não satisfeito com esta fama, sua ambição não o deixou desistir de seu sonho de ser escritor, e assim, após as primeiras tentativas líricas de sua juventude e vários contos, seu primeiro romance A teia de aranha (1923) foi publicado no Wiener Arbeiter Zeitung, inicialmente como um romance seriado. A história do retornado de guerra Theodor Lohse, que por acaso entra numa organização secreta na qual ganha influência através da hipocrisia e do crime, é uma observação socialmente crítica dos acontecimentos da República de Weimar. Mesmo antes de ser concluída, a realidade o alcançou quando Ludendorff e Hitler tentaram um golpe de estado em Munique, em novembro de 1923.
Sob os pseudônimos "Roter Joseph" e "Josephus" ele escreveu numerosos artigos para publicações socialistas como Der neue Tag, Lachen Links e Vorwärts, nos quais assume uma posição política clara, mas se distancia dos pólos extremos dos campos comunistas e nacionalistas. Com preocupação, ele observa e documenta os acontecimentos na Alemanha e antecipa uma escalada de agressão e de uma nova eclosão da guerra.
Com a publicação do romance Hotel Savoy (Estação Liberdade, 2013), outro romance em série, desta vez impresso primeiramente no Frankfurter Zeitung e pouco tempo depois publicado como livro em Berlim, ele obteve reconhecimento internacional como escritor. O tema central do romance é a apatridia, que desempenhou um papel importante para Roth ao longo de sua vida. A queda do Império Austríaco foi um duro golpe para o monarquista convicto, que ele tratou nas obras A marcha de Radetzy (DIFEL, 1984) e A Cripta dos Capuchinhos (DIFEL1985), entre outras.
Mesmo sendo judeu oriental, ele sentiu este desabrigo e, mesmo se intitulando católico mais tarde, honrou suas raízes judaicas com a obra Jó. Romance de um homem simples (Companhia das Letras, 2006), entre outras. As contradições em suas convicções políticas, religiosas e sociais dão uma ideia da complexidade de sua busca interior. O romance Fuga sem Fim (DIFEL, 1985) analisa mais de perto este tema e uma citação de Roth deixa particularmente clara a divisão de seu caráter: "Sou um francês do Oriente, um humanista, um racionalista com religião, um católico com um cérebro judeu".
Seu progresso profissional e a ascensão material que o acompanhou contrastaram com as dificuldades em sua vida privada - como seu pai, sua esposa Friedl também sofreu um dramático declínio psicológico. Apesar de todos os esforços do autor para encontrar um tratamento eficaz, Friedl foi finalmente diagnosticada como incurável em um sanatório perto de Viena, onde sua situação continuou a piorar. Em 1940, sua vida como vítima dos assassinatos T4 sob o regime nacional-socialista chegou a um final trágico no centro de extermínio de Hartheim.
Era difícil para Roth lidar com a doença de sua amada esposa. Sempre com tendência a beber, o escritor mundialmente famoso sucumbiu completamente ao alcoolismo. Em 30 de janeiro de 1933 Hitler é eleito Chanceler do Reich - no mesmo dia, Roth foge de Berlim, inicialmente para o exílio em Paris, seguido de anos de fuga. Ele expressa seus medos crescentes a um amigo: "Eles vão queimar nossos livros e nos significar com isso. Devemos partir para que sejam apenas livros..."
No exílio, o declínio do poeta mundialmente famoso entrou em declínio, apesar de todos os esforços de seus muitos amigos e admiradores. O consumo constante de álcool e as viagens começaram a exigir taxas do autor física e financeiramente, mas não tiveram efeitos negativos sobre o trabalho criativo do autor. Nos anos de 1934-1939 escreveu seis romances, quatro novelas e inúmeros relatos, contos e cartas, incluindo algumas de suas melhores obras. Sua última obra, A lenda do santo beberrão (Estação Liberdade, 2013) termina com as palavras: "Que Deus nos dê a nós todos, a nós beberrões, morte tão leve e tão bela!” - Ele mesmo não tinha direito a este privilégio, morreu delirando em consequência de seu alcoolismo em um hospital parisiense para os pobres.
Ainda em vida, sua obra foi traduzida para vários idiomas e durante o século passado foi filmada várias vezes por cineastas internacionais. Na rua Potsdamer Str. em Berlim está o restaurante Joseph-Roth-Diele, no qual o escritor é lembrado com fotos e textos.
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"O termo "progresso" por si mesmo já pressupõe a horizontal. Significa avanço, não ascensão."
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"Ele superou as expectativas que nunca havia estabelecido para si mesmo."
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"Acho que só conheço o mundo quando escrevo e, se eu abaixar a caneta, estou perdido."
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"Se você só encontra os sonhos de sua infância, você é uma criança novamente."
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"O diminutivo é simplesmente mais impressionante do que a monumentalidade do todo."
25 de junho de 1926 em Klagenfurt - † 17 de outubro de 1973 em Roma
Uma mulher que usou a arte da poesia e dos contos como resistência contra a guerra e o machismo. Sua proposta utópica de uma vida plena e pacífica marcou a literatura de língua alemã e a sociedade do pós-guerra.
De origem austríaca, Ingeborg Bachmann é considerada uma das poetas e escritoras mais importantes do século XX. Após a Segunda Guerra Mundial estudou filosofia, psicologia e filologia germânica em Innsbruck, Graz e Viena e em 1950 doutorou-se em Viena com a tese intitulada “A percepção crítica da filosofia existencialista de Martin Heidegger”. Mais tarde trabalhou alguns anos na rádio. Sua carreira literária se iniciou com a premiação do Grupo 47, uma plataforma de jovens escritores que visava renovar a literatura alemã após a Segunda Guerra Mundial. Por um longo período viveu em Roma com Max Frisch. Segundo críticos e ela mesma, esse tempo teve um impacto positivo na sua produção literária, porque seus poemas passaram a ser mais sensíveis, diretos e fortes.
Em 1953 lançou seu primeiro livro de poemas Die gestundete Zeit (O tempo aprazado, Assírio e Alvim, 1992), uma contraproposta ao realismo, que dominava a literatura do pós-guerra. Sua arte poética tem como característica a relação entre símbolos e pensamentos abstratos e entre o poder da língua, a poesia e a mordacidade intelectual. Bachmann é considerada ícone do primórdios do feminismo. Os dois contos escritos de uma perspectiva explicitamente feminina, A um passo de Gomorra (“Vem, para que eu acorde quando tudo isto já não vigorar – homem e mulher. Quando tudo isto tiver acabado!”) e O adeus de Ondina (“Vocês, com os vossos ciúmes, a vossa orgulhosa condescendência e a vossa tirania”) foram uns dos primeiros depoimentos feministas da literatura de língua alemã do pós-guerra.
"A verdade é conveniente ao homem."[1]
"Se tivéssemos a palavra, teríamos a língua, não precisaríamos das armas. A guerra já não se declara, continua-se apenas. O que brada aos céus torna-se o dia a dia."[2]
"Os heróis ficam longe das batalhas."[3]
[1] Tradução livre. Reden „Die Wahrheit ist dem Menschen zumutbar - Rede zur Verleihung des Hörspielpreises der Kriegsblinden“. em: Werke Band 4. Piper 1978, p. 277.
[1] Tradução livre. Frankfurter Vorlesungen »Über Fragen zeitgenössischer Lyrik«. I: Figuren und Scheinfragen. 1959. em: Werke Band 4 (Essays usw.). Piper 1978, p. 185.
[1] Traduções de Sephi Alter, Este poema foi traduzido a meias com Renato Suttana. Original: Poema Alle Tage. em: Werke Band 4 (Essays usw.). Piper 1978, p. 46.
Uma mulher que usou a arte da poesia e dos contos como resistência contra a guerra e o machismo. Sua proposta utópica de uma vida plena e pacífica marcou a literatura de língua alemã e a sociedade do pós-guerra.
De origem austríaca, Ingeborg Bachmann é considerada uma das poetas e escritoras mais importantes do século XX. Após a Segunda Guerra Mundial estudou filosofia, psicologia e filologia germânica em Innsbruck, Graz e Viena e em 1950 doutorou-se em Viena com a tese intitulada “A percepção crítica da filosofia existencialista de Martin Heidegger”. Mais tarde trabalhou alguns anos na rádio. Sua carreira literária se iniciou com a premiação do Grupo 47, uma plataforma de jovens escritores que visava renovar a literatura alemã após a Segunda Guerra Mundial. Por um longo período viveu em Roma com Max Frisch. Segundo críticos e ela mesma, esse tempo teve um impacto positivo na sua produção literária, porque seus poemas passaram a ser mais sensíveis, diretos e fortes.
Em 1953 lançou seu primeiro livro de poemas Die gestundete Zeit (O tempo aprazado, Assírio e Alvim, 1992), uma contraproposta ao realismo, que dominava a literatura do pós-guerra. Sua arte poética tem como característica a relação entre símbolos e pensamentos abstratos e entre o poder da língua, a poesia e a mordacidade intelectual. Bachmann é considerada ícone do primórdios do feminismo. Os dois contos escritos de uma perspectiva explicitamente feminina, A um passo de Gomorra (“Vem, para que eu acorde quando tudo isto já não vigorar – homem e mulher. Quando tudo isto tiver acabado!”) e O adeus de Ondina (“Vocês, com os vossos ciúmes, a vossa orgulhosa condescendência e a vossa tirania”) foram uns dos primeiros depoimentos feministas da literatura de língua alemã do pós-guerra.
"A verdade é conveniente ao homem."[1]
"Se tivéssemos a palavra, teríamos a língua, não precisaríamos das armas. A guerra já não se declara, continua-se apenas. O que brada aos céus torna-se o dia a dia."[2]
"Os heróis ficam longe das batalhas."[3]
[1] Tradução livre. Reden „Die Wahrheit ist dem Menschen zumutbar - Rede zur Verleihung des Hörspielpreises der Kriegsblinden“. em: Werke Band 4. Piper 1978, p. 277.
[1] Tradução livre. Frankfurter Vorlesungen »Über Fragen zeitgenössischer Lyrik«. I: Figuren und Scheinfragen. 1959. em: Werke Band 4 (Essays usw.). Piper 1978, p. 185.
[1] Traduções de Sephi Alter, Este poema foi traduzido a meias com Renato Suttana. Original: Poema Alle Tage. em: Werke Band 4 (Essays usw.). Piper 1978, p. 46.
Uma linguagem solta, porém precisa, caracteriza não apenas os diálogos de ‘Liebling Kreuzberg’, mas também os romances, entrevistas e ensaios literários de Jurek Becker. O estilo é difícil de descrever, ainda mais difícil de imitar: uma mistura peculiar de frieza e precisão intelectual, evidentemente clara e descomplicada; uma síntese de esforço e leveza que não tolera descuido ou palavras supérfluas... Não é tensa a retidão, mas um duplo sentido quase insidioso. (Hannes Krauss)
Conhecida como uma das vozes mais significativas na Alemanha do pós-guerra, Jurek Becker teve um sucesso de grande alcance, em particular com o seu primeiro romance Jakob, o mentiroso (1969) e mais tarde como o autor da série televisiva Liebling Kreuzberg (1986-1998). Em suas obras, muitas vezes processou sua própria história; integração, resistência e acima de tudo, esperança – os temas de Becker são atemporais e ficou conhecido por discutir assuntos difíceis com agilidade mental e leveza como nenhum outro.
A biografia de Jurek Becker se lê como um de seus romances: sua verdadeira data de nascimento não pode mais ser identificada, depois que seu pai a mudou para escondê-la dos nacional-socialistas. O certo é que ele nasceu na polonesa Łódź, filho de pais judeus. Passou os primeiros anos de sua vida no gueto local e mais tarde foi transportado para os campos de concentração de Ravensbrück e Sachsenhausen. Becker sobreviveu ao Holocausto e após sua libertação pode encontrar seu pai, mas ele não tinha nenhuma lembrança dessa época.
Depois da guerra, pai e filho se mudaram para a antiga Berlim Oriental, onde Jurek, com 8 anos, começou a aprender alemão. Ele se desafia não apenas a falar a língua, mas a dominá-la com maestria, a fim de se integrar o mais rápido possível. A linguagem precisa, que caracteriza seu estilo de escrita, é uma indicação de que, mesmo sendo um escritor adulto e estabelecido, sentia a necessidade de provar a si mesmo e aos ou tros que dominava a língua.
Como jovem comunista, se juntou primeiro ao FDJ (Juventude Alemã Livre) e depois ao KVP (Kasernierte Volkspolizei) e ao Partido da Unidade Socialista da Alemanha (SED), inicialmente com o objetivo de se inserir na nova sociedade da maneira mais suave possível. Embora Becker seguisse os objetivos socialistas com convicção, o sentimento do forasteiro constantemente o acompanhava: seja como judeu, como “víima do fascismo” e como pensador críico, se distanciou dos “outros”, com frequêcia se expressando com certa superioridade, o que també levava a confrontos com superiores e autoridades.
Como estudante, ele escreveu peçs para o cabarépolíico Die Distel e praticou o ato de equilíbrio da sátira, crítica e lealdade ao sistema socialista. Mais tarde aprendeu o ofício de roteirista e trabalhou tanto para a televisão quanto para a Deutsche Film-Aktiengesellschaft (DEFA). Quando seu roteiro para a produção Jakob, o mentiroso foi rejeitado, ele se propôs a tarefa de contar a história como um romance. A imensa resposta positiva ao livro levou à fama internacional e Becker foi logo depois admitido no conselho da associação de escritores da RDA, bem como na prestigiada associação de escritores PEN International.
Os tópicos nos romances subsequentes de Becker, como O engano das autoridades (1973), O boxeador (1976), Dias de insônia (1978) e Bronsteins Kinder (1986) mostram claramente a literatura como uma ferramenta do escritor para processar o passado, e também o enfrentamento cotidiano. Como descreve o germanista Dr. Hannes Krauss, da Universidade de Duisburg: “Em seus romances, ele joga através de constelações biográficas concebíveis com os meios da ficção. Aqui, não se trata de uma pessoa que sofreu coisas terríveis querendo dominar suas emoções ao escrever, mas de alguém, cujo horror roubou sua memória, que encontra um substituto na literatura.”
Como o relacionamento com as autoridades da RDA se agravou após uma série de incidentes, Becker percebeu que suas próprias ideologias socialistas não eram mais consistentes com as ações do partido e ele desistiu da crença de que uma reforma do Estado socialista era possível. Saiu da associação de escritores e aproveitou uma oportunidade para se mudar com sua família para a antiga Berlim Ocidental.
Para Becker, a tarefa do escritor na sociedade não era apenas questionar as estruturas sociais, mas ele também se viu obrigado a resistir com seu trabalho, seu ofício e sua palavra-arte. Apó a sua mudança para o Ocidente, à sua maneira sarcástica, comentou: “Isso seria ótimo, se a rebelião fosse recompensada e a submissão fosse punida. Então, o mundo estaria cheio de resistentes que confiantes mostrariam sua opinião a seus governos ou superiores. Mas, infelizmente, a não-adaptação só se beneficia de uma maneira, quando muitos não-conformistas se encontram em dúvida.”
Numa ironia significativa, a resistência e o trabalho de Jurek Becker foram reconhecidos e honrados por inúmeros prêmios. Entre outros, recebeu o Prêmio Heinrich Mann (1971), o Prêmio Nacional da RDA (1975), o Prêmio Adolf Grimme de Ouro (1986), o Prêmio do Cinema Alemão (1991) e a Cruz Federal do Mérito (1992).
"Escrever significa ter controle sobre seus motivos, alcançar a maior consciência possível."
"Eu suspeito que o nível cultural dentro de uma sociedade depende essencialmente de dois fatores: a autoconfiança de seus membros e sua confiança, isto é, confiança no futuro."
"Onde a autoestima é a pior, os OUTROS sempre terão a maior dificuldade. Eles podem ser críticos, manifestantes, estrangeiros, judeus, apenas OUTROS. Vivemos em sociedades que devem sua coesão a um alto grau de hostilidade ".
"Da consciência de sua própria impotência para a consciência da força é um caminho longo demais. Mas não existe outro se não se quer renunciar ao futuro."
"A escrivaninha é o único lugar onde eu posso voar um pouquinho."
* 15 de julho de 1892 em Charlottenburg − † 26 de setembro de 1940 em Portbou
"(...) sua erudição era grande, mas não era um erudito; o assunto dos seus temas compreendia textos e interpretação, mas não era um filólogo; sentia-se muito atraído não pela religião, mas pela teologia (...), mas não era teólogo; era um escritor nato, mas sua maior ambição era produzir uma obra que consistisse inteiramente de citações; foi o primeiro alemão a traduzir Proust (juntamente com Franz Hessel) e St.-John Perse, antes disso traduzira Quadros Parisienses de Baudelaire, mas não era tradutor; resenhava livros e escreveu uma série de ensaios sobre autores vivos e mortos, mas não era um crítico literário; escreveu um livro sobre o barroco alemão e deixou um imenso estudo inacabado sobre o século XIX francês, mas não era historiador, literato ou o que for; tentarei mostrar como ele pensava poeticamente, mas não era poeta nem filósofo."
(HANNAH ARENDT. Homens em tempos sombrios)
Assim como descreve a filósofa alemã Hannah Arendt as particularidades do intelecto de Walter Benjamin, apontando para a impossibilidade de classificá-lo dentro das categorias habituais da produção artístico-intelectual, pode-se acrescentar a essa descrição, a paixão especial do escritor pelo colecionismo, como forma de exemplificar e intensificar as variedades de seu pensamento. Benjamin era um colecionador de livros, obras raras e sobretudo citações. Colecionava também brinquedos antigos e escreveu diversas reflexões sobre a infância. Observava as transformações do mundo moderno desde os hábitos cotidianos dos andarilhos pelas ruas de Paris aos aparatos tecnológicos que foram determinantes à arte de sua época, sem deixar de mencionar as experiências e reflexões acerca do uso do haxixe. Era de família judaico-alemã, estudou Filosofia, Filologia Germânica e História da Arte, em Freiburg e Berlim. Sua obra - ensaios, críticas, traduções, programas de rádio e muito mais - foi tão variada e sem limites que até hoje permanece a dificuldade para classificar ou categorizar sua produção textual.
Em virtude das circunstâncias precárias na Alemanha durante o nazismo, Benjamin – que, além de judeu, era simpatizante do comunismo – teve de viver seus últimos anos exilado em Paris. Essas e outras razões foram determinantes para dificultar a publicação de seus escritos na Alemanha da época. As obras Origem do drama trágico alemão, O conceito de crítica de arte no romantismo alemão e Rua de mão única foram publicadas, mas mal chegaram ao público. Atualmente, dentre seus trabalhos mais estudados estão os ensaios "A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica", "A tarefa do tradutor", "O autor como produtor", "Pequena história da fotografia", suas teses "Sobre o conceito da história" e fragmentos da longa obra inacabada intitulada "Passagens".
Além dos seus grandes trabalhos e visões peculiares sobre o mundo, Benjamin também foi marcado por uma vida trágica. Após 10 anos em exílio, atormentado por problemas financeiros, depressões e doenças, em setembro de 1940, o escritor cometeu suicídio na cidade fronteiriça de Portbou (Espanha), após não conseguir completar sua exaustiva fuga da França para os EUA. A trajetória de Benjamin em vida, bem como sua relação com grupos intelectuais na Alemanha do século XX, como Theodor W. Adorno, Max Horkheimer, o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, Bertolt Brecht, Hannah Arendt, Gershom Scholem, por exemplo, representam ainda um fragmento muito importante na história social do pensamento alemão.
Hoje, mais de 70 anos após sua morte, Walter Benjamin é considerado um dos grandes expoentes da crítica, da literatura, da história da arte e da filosofia, para além das fronteiras europeias. No Brasil, por exemplo, sua obra é estudada em todas as áreas das ditas Ciências Humanas. O modo transdisciplinar de se pensar as Humanidades está em voga e Benjamin já o praticava nos anos 1930.
"Ser feliz significa poder tomar consciência de si mesmo sem susto."[1]
"Quem observa as formas de trato, mas rejeita a mentira, é como alguém que se veste na moda, mas não usa camisa sobre o corpo."[2]
"Para homens: Convencer é infrutífero."[3]
"O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida."[4]
[1] Rua de mão única em: Obras Escolhidas II, Editora Brasiliense S/A, tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. p. 37.
[2] Rua de mão única em: Obras Escolhidas II, Editora Brasiliense S/A, tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. p. 36.
[3] Rua de mão única em: Obras Escolhidas II, Editora Brasiliense S/A, tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. p. 14.
[4] Sobre o Conceito da história em: Obras Escolhidas I, editora brasiliense, tradução de Sergio Paulo Rouanet. p. 228.
"(...) sua erudição era grande, mas não era um erudito; o assunto dos seus temas compreendia textos e interpretação, mas não era um filólogo; sentia-se muito atraído não pela religião, mas pela teologia (...), mas não era teólogo; era um escritor nato, mas sua maior ambição era produzir uma obra que consistisse inteiramente de citações; foi o primeiro alemão a traduzir Proust (juntamente com Franz Hessel) e St.-John Perse, antes disso traduzira Quadros Parisienses de Baudelaire, mas não era tradutor; resenhava livros e escreveu uma série de ensaios sobre autores vivos e mortos, mas não era um crítico literário; escreveu um livro sobre o barroco alemão e deixou um imenso estudo inacabado sobre o século XIX francês, mas não era historiador, literato ou o que for; tentarei mostrar como ele pensava poeticamente, mas não era poeta nem filósofo."
(HANNAH ARENDT. Homens em tempos sombrios)
Assim como descreve a filósofa alemã Hannah Arendt as particularidades do intelecto de Walter Benjamin, apontando para a impossibilidade de classificá-lo dentro das categorias habituais da produção artístico-intelectual, pode-se acrescentar a essa descrição, a paixão especial do escritor pelo colecionismo, como forma de exemplificar e intensificar as variedades de seu pensamento. Benjamin era um colecionador de livros, obras raras e sobretudo citações. Colecionava também brinquedos antigos e escreveu diversas reflexões sobre a infância. Observava as transformações do mundo moderno desde os hábitos cotidianos dos andarilhos pelas ruas de Paris aos aparatos tecnológicos que foram determinantes à arte de sua época, sem deixar de mencionar as experiências e reflexões acerca do uso do haxixe. Era de família judaico-alemã, estudou Filosofia, Filologia Germânica e História da Arte, em Freiburg e Berlim. Sua obra - ensaios, críticas, traduções, programas de rádio e muito mais - foi tão variada e sem limites que até hoje permanece a dificuldade para classificar ou categorizar sua produção textual.
Em virtude das circunstâncias precárias na Alemanha durante o nazismo, Benjamin – que, além de judeu, era simpatizante do comunismo – teve de viver seus últimos anos exilado em Paris. Essas e outras razões foram determinantes para dificultar a publicação de seus escritos na Alemanha da época. As obras Origem do drama trágico alemão, O conceito de crítica de arte no romantismo alemão e Rua de mão única foram publicadas, mas mal chegaram ao público. Atualmente, dentre seus trabalhos mais estudados estão os ensaios "A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica", "A tarefa do tradutor", "O autor como produtor", "Pequena história da fotografia", suas teses "Sobre o conceito da história" e fragmentos da longa obra inacabada intitulada "Passagens".
Além dos seus grandes trabalhos e visões peculiares sobre o mundo, Benjamin também foi marcado por uma vida trágica. Após 10 anos em exílio, atormentado por problemas financeiros, depressões e doenças, em setembro de 1940, o escritor cometeu suicídio na cidade fronteiriça de Portbou (Espanha), após não conseguir completar sua exaustiva fuga da França para os EUA. A trajetória de Benjamin em vida, bem como sua relação com grupos intelectuais na Alemanha do século XX, como Theodor W. Adorno, Max Horkheimer, o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, Bertolt Brecht, Hannah Arendt, Gershom Scholem, por exemplo, representam ainda um fragmento muito importante na história social do pensamento alemão.
Hoje, mais de 70 anos após sua morte, Walter Benjamin é considerado um dos grandes expoentes da crítica, da literatura, da história da arte e da filosofia, para além das fronteiras europeias. No Brasil, por exemplo, sua obra é estudada em todas as áreas das ditas Ciências Humanas. O modo transdisciplinar de se pensar as Humanidades está em voga e Benjamin já o praticava nos anos 1930.
"Ser feliz significa poder tomar consciência de si mesmo sem susto."[1]
"Quem observa as formas de trato, mas rejeita a mentira, é como alguém que se veste na moda, mas não usa camisa sobre o corpo."[2]
"Para homens: Convencer é infrutífero."[3]
"O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida."[4]
[1] Rua de mão única em: Obras Escolhidas II, Editora Brasiliense S/A, tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. p. 37.
[2] Rua de mão única em: Obras Escolhidas II, Editora Brasiliense S/A, tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. p. 36.
[3] Rua de mão única em: Obras Escolhidas II, Editora Brasiliense S/A, tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. p. 14.
[4] Sobre o Conceito da história em: Obras Escolhidas I, editora brasiliense, tradução de Sergio Paulo Rouanet. p. 228.
"Sibylle Berg insegura. Provoca. Consciente ou inconscientemente. Ao adotar novas perspectivas com ironia afiada, as crenças anteriores […] são questionadas. Ao mesmo tempo, ela parece evitar posicionamentos claros. Todos são chamados a continuar usando seu próprio intelecto." Oliver Garofalo
A escritora e dramaturga Sibylle Berg nasceu em Weimar e mudou-se para a República Federal da Alemanha em 1984. Hoje vive em Zurique, sua pátria por opção, e é cidadã suíça há vários anos. Seu senso de humor aguçado, uma mistura de sarcasmo e sinceridade, revelou-se uma receita de sucesso. Hoje ela é uma das escritoras mais famosas dos países de língua alemã.
Após formar-se como marionetista e trabalhar no Teatro de Bonecos de Naumburg, ela praticou várias formas de narração e expressão artística, já tendo deixado a RDA. Embora tenha começado a escrever em sua juventude e também tenha escrito artigos para várias revistas durante seus estudos, a publicação de seu primeiro romance exigiu um alto grau de resistência e determinação. Depois de mais de 50 rejeições, ela finalmente encontrou uma editora para seu primeiro livro, "Algumas pessoas buscam a felicidade e morrem de rir" (tradução livre. Ein Paar Leute suchen das Glück und lachen sich tot. Reclam, 1997), um enorme sucesso de público.
Há muitos anos, a autora vem buscando a interação com seu público, seja por meio das mídias sociais ou trocando cartas com seus fãs, algumas das quais já foram publicadas com outros artigos e relatórios na coleção Gold (Hoffmann & Kampe, 2000). Uma forte presença na mídia a ajudou a fazer seu nome como a chamada "autora cult". Na edição 255 da publicação Text & Kritik, o estudioso em literatura Christian Dawidowski descreveu sua obra como "entre o pop e o pós-moderno".
Além de seu trabalho como escritora e dramaturga, ela continuou a escrever artigos para jornais e revistas, incluindo Die Frankfurter Allgemeine Zeitung, Die Zürcher Zeitung, Die Zeit e Marie Claire. Desde 2011, escreve a coluna "Pergunte a Frau Sibylle" (tradução livre. Fragen Sie Frau Sibylle) para a popular revista semanal Der Spiegel, uma espécie de amostra do tamanho de seu inconfundível cinismo para as massas. Uma seleção desses textos foi publicada no volume "Como posso suportar tudo isso? Pergunte a Sra. Sibylle" (tradução livre. Wie halte ich das nur alles aus Fragen sie Frau Sibylle. Hanser Verlag, 2013) e outros estão disponíveis online. Uma outra antologia intitulada "Anos maravilhosos - quando ainda viajávamos pelo mundo" (tradução livre. Wunderbare Jahre - Als wir noch die Welt bereiste. Hanser Verlag, 2016) ilumina de forma sóbria o comportamento em viagem dos europeus e de outros "cidadãos do mundo" privilegiados nas últimas décadas e expressa o inquietante pressentimento de que um fim próximo destes "anos maravilhosos" pode ser iminente.
Como muitos de seus textos, seus dois mais recentes trabalhos publicados, GRM Brainfuck (Kiepenheuer & Witsch, 2019) e "Nerds salvam o mundo" (tradução livre. Nerds retten die Welt. Kiepenheuer & Witsch, 2020) oscilam entre cenários distópicos e representações sóbrias de nossa realidade atual, muitas vezes fazendo o leitor rir de nervoso entre sentimentos contraditórios. Mesmo que estes dois livros estejam intrinsecamente ligados, não poderiam ser mais diferentes em estrutura, estilo e conteúdo. GRM Brainfuck trata da realidade de uma ditadura neoliberal de vigilância - inspirada no gênero musical Grime (em português: sujeira), recentemente criado em Londres. Fluxo de palavras, trama e tempo fazem lembrar um rap carregado de raiva.
"Nerds salvam o mundo", por outro lado, consiste em uma coleção de 16 fascinantes entrevistas com cientistas de várias disciplinas, incluindo Sociologia, Neuropsicologia, pesquisa sobre extremismo de direita ou inteligência artificial. Todas as entrevistas criadas durante a pesquisa para o GRM Brainfuck começam com a pergunta da hora: "Você já se preocupou com o estado do mundo hoje?”. As respostas e as conversas resultantes com aqueles que sabem melhor proporcionam uma alternativa brilhante às sempre confusas fontes de informação na luta contra as fake news, para todos aqueles que ainda acreditam na ciência.
A obra de Sibylle Berg foi traduzida para 35 idiomas e recebeu vários prêmios, entre eles o Prêmio Suíço do Livro 2020, o Prêmio Bertolt Brecht de Literatura 2020 e o Prêmio de Literatura de Kassel para humor grotesco 2019.
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"Tira o sentimento, ainda muito fina, da barriga, embrulhe-o com palavras para tocá-lo, levante-o com as palavras. Para a luz. Mas o sentimento é tão fino e temeroso com o dia, e as palavras formam lacunas. Pelas quais o sentimento desliza, cai no chão. E apenas as palavras são deixadas, vazias e eficam paradas no espaço. Não digam nada".
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"Há dois tipos de tolice: a tolice daqueles que obedecem ao sinal de "Não entrar" e a tolice de outros que não o fazem de propósito".
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"O desprezo dos capitalistas pelos pobres tinha se institucionalizado. Os sem-teto, os desempregados, os inaptos para o trabalho, os doentes, os fracos tinham de atender a requisitos absurdos de uma burocracia meticulosa e incompreensível para receber uma quantia mínima que mantivesse suas funções vitais. A parte inutilizável da sociedade pode perder todo o apoio devido a pequenos erros formais, e então eles se agacharam lá. Em suas alcovas confinadas, sem eletricidade, sem calefação e sem comida".
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"Na velhice, só o idiota confia nas leis que ele mesmo estabeleceu".
* 10 de fevereiro de 1898, Augsburg | † 14 de agosto de 1956, antiga Berlim Oriental
"A amizade entre Benjamin e Brecht é única, porque nela o maior poeta alemão vivo se encontrou com o crítico mais importante da época. Há razões para crer que ambos sabiam disso." Hannah Arendt
Bertolt Brecht é um dos autores mais importantes da história alemã e seu nome é frequentemente mencionado como Goethe, Hesse ou Kafka. Como fundador do teatro épico, suas ideias radicais não apenas mudaram a forma como o drama é encenado, mas sobretudo, como ele é recebido pelo público. Seus métodos, conteúdos e meios eram controversos, pois ele exigia mais do seu trabalho do que apenas agradar - para ele se tratava de tornar as injustiças sociais visíveis e modificá-las.
Sua experiência como paramédico durante a Primeira Guerra Mundial o levou a escrever o poema A lenda do soldado morto (1918), que o colocou em conflito com os nacional-socialistas desde cedo. Seus dramas crítico-sociais também começaram a incomodar os nazistas, tanto que uma apresentação da peça Na selva das cidades (1923) foi repetidamente interrompida por ataques de barbantinho cheiroso, e ao final foi cancelada após apenas seis apresentações.
Embora sua influência na paisagem cultural da Alemanha se assemelhe à do grande poeta Goethe, os dois artistas não poderiam diferir mais em estilo. A obra literária de Brecht traz todos os sinais da modernidade ao mesmo tempo em que ridiculariza o romantismo, que na sua opinião leva à "confusão emocional". Ele fazia questão de manter as emoções a todo momento sob controle e suas teorias e técnicas basicamente racionais do teatro épico, contrastam diretamente com o tradicional "teatro ilusionista", como ele o chamava. Ele, por exemplo, usa títulos de cena para dissolver a tensão, interrompe repetidamente o enredo, arranca o espectador da fantasia do evento encenado e o isola com manobras sempre novas. O espectador deve se identificar apenas como espectador, para poder assistir criticamente aos eventos, em vez de ter empatia com a trama ou as personagens.
Brecht escreveu poemas, canções, contos, romances, relatos, como também novelas para rádio e cinema e, apesar de seus dramas, como A ópera de três vinténs (1929), Mãe coragem e seus filhos (1939), A alma boa do Setsuan (1940) ou Vida de Galileu (1939) terem contribuído para sua fama mundial, ele também encantou com seus poemas cuidadosamente elaborados e socialmente críticos. Até mesmo de seu trabalho lírico como dramaturgo, ele exigia uma valorização, desafiando assim, o leitor a questionar estruturas sociais. Apenas em seus poemas de amor, ele temporariamente se permitiu dar voz ao lado emocional. Estes fazem grande contraste com o restante de sua obra. Ele mesmo afirmou que seriam o argumento mais marcante contra seus dramas.
Brecht se identificou fortemente com as ideias marxistas e, embora nunca tenha ingressado em um partido comunista, essa convicção é refletida em suas peças. Por exemplo, a ópera Ascensão e queda da cidade de Mahagonny (1930), produzida em colaboração com Kurt Weill, trata de uma cidade anarquista na qual o único crime, punido com pena de morte, é o de não ter dinheiro. Suas peças o colocavam cada vez mais em conflito com os crescentes nazistas e em 28 de fevereiro de 1933, um dia após o incêndio do Parlamento Alemão, ele fugiu de Berlim, via Praga, para Viena, Zurique, Paris e finalmente para a Dinamarca. Assim começou uma longa fuga, que eventualmente o levou aos Estados Unidos através da Noruega, Finlândia e Rússia, fazendo de sua obra uma parte importante da literatura alemã de exílio. Brecht falou abertamente contra o fascismo e a guerra capitalista. O poema satírico O comboio de serviço (1939) zomba da elite militar e ataca Hitler diretamente. A obra A cartilha da guerra alemã (1940-45) é um óbvio memorial que deliberadamente deixa impressões chocantes no leitor. Como muitos dos seus 2.400 poemas, Aos que vão nascer (1939) ainda é assustadoramente relevante, mesmo mais de 60 anos após sua morte.
Na Califórnia, foram em vão suas tentativas de adentrar a indústria cinematográfica de Hollywood. Exceto seu filme Os carrascos também morrem (1943), produzido com Fritz Lang, foi difícil achar espaço ali. Embora seu trabalho, durante a residência de oito anos nos EUA, nunca tenha sido particularmente frutífero, na volta à Berlim Oriental, que na ocasião já tinha se tornado socialista, ele foi recebido como um artista mundialmente famoso e no ano seguinte fundou lá o Berliner Ensemble, hoje localizado na Bertolt-Brecht-Platz no centro de Berlim, e ainda é um dos mais importantes teatros de língua alemã.
Portanto, parece que Brecht conseguiu realizar o desejo que ele expressou durante os últimos dias da sua vida, o de permanecer "uma presença perturbadora" mesmo após a morte. A International Brecht Society realizará neste ano seu 16º simpósio para explorar a vida e o trabalho do dramaturgo, bem como a relação entre arte e sociedade, com mais de 150 pensadores e pesquisadores de todo o mundo. Além disso, o filme Mackie Messer - O filme de três vinténs de Brecht (2018) festejou seu grande sucesso nos cinemas alemães.
"Aquele que não conhece a verdade é apenas um tolo, mas quem a conhece e a chama de mentira é um criminoso."
"Os escritores não conseguem escrever tão rápido quanto os governos fazem guerras, porque escrever requer pensamento."
"Um homem que tem algo a dizer, mas nenhum ouvinte, está mal. Pior ainda são os ouvintes que não conseguem encontrar alguém que tenha algo para lhes dizer.”
"Assalto a banco é um negócio de diletantes. Profissionais de verdade abrem um banco."
"O amor é o desejo de dar algo, não de receber algo."
"Se o bezerro é negligenciado, ele tende à qualquer mão que adula, até mesmo a mão do açougueiro."
"Preocupe-se em não só deixar o mundo que tenha sido bom, mas, sim, em estar deixando um mundo bom.”
«Para Doris Dörrie, escrever significa estar consciente da própria vida. Ver o que realmente está diante dos nossos olhos. Ou para reencontrar o que perdemos ou esquecemos. É conforto, tranquilidade, acusação, celebração da vida.« Diogenes Verlag
Desde o seu sucesso no cinema com a comédia "Männer" (1985), Doris Dörrie é uma das cineastas mais famosas da Alemanha, mas suas obras literárias também são muito populares entre diferentes grupos-alvo. Ela escreve literatura de entretenimento, como romances, histórias curtas e volumes de contos, livros infantis, contribuições para jornais e roteiros de muito sucesso. O que conta para ela é contar histórias que atinjam seu público, em papel, filme ou mídia digital.
Depois de crescer em Hannover, estudou na Escola Superior de Televisão e Cinema de Munique, onde anos depois foi contratada como professora de dramaturgia aplicada e escrita criativa. Seu profundo interesse por diversas perspectivas e culturas estrangeiras a motivou desde cedo a passar longas temporadas no exterior. Aos 18 anos, estudou nos EUA durante dois anos, seguidos de viagens pela Europa Oriental, América do Sul e Ásia. Viajar, tanto através das fronteiras como a viagem metafórica para si mesma, é um tema central em seu trabalho.
Especialmente o seu fascínio pelo modo de pensar e viver oriental é um tema recorrente em seu trabalho. Tanto o drama "Samsara" (Diogenes Verlag, 1998), o romance "O que vamos fazer agora?" (tradução livre. Was machen wir jetzt, Diogenes Verlag, 2001), como seu documentário "How to cook your life" (2007) e os longas "Flores de cereja" (2008) e "Fukushima, mon amour" (2016) revelam uma estreita ligação com o budismo e a cultura japonesa em particular.
Em entrevistas, em várias ocasiões, Dörrie explicou sua visão do mundo, na qual muitos limites são fluidos, incluindo os limites entre os sexos, mas também os limites de idade, que são regularmente quebrados por impulsos como lembranças e sentimentos. Ela descreve que, portanto, ela se vê como várias pessoas ao mesmo tempo - como uma criança, como uma adolescente ou até mesmo como uma pessoa mais velha paralelamente. Isto talvez explique seu sucesso com o público mais jovem.
O pronunciado espírito de descoberta e coragem são qualidades que a autora tem em comum com as principais personagens das duas séries de dois livros infantis, "Mimi" (Diogenes Verlag, 2002), entre outros de "Mimi descobre o mundo" (tradução livre. Mimi entdeckt die Welt, Diogenes Verlag, 2006), e Carlota de "Carlota quer ser princesa" (Estação Liberdade, 1998) ou "Carlota e os monstros" (Estação Liberdade, 2013), criadas em colaboração com Julia Kaergel. Mas em sua literatura adulta também sempre há fortes personagens femininas.
Dörrie também escreve contra a exclusão. Ao focar em experiências universais e individualidades, como experiências de infância, memórias da comida de sua mãe, por exemplo, ou amor e dor, ela chama a atenção para o que une todas as pessoas - mesmo além das fronteiras e diferenças culturais. Neste sentido, seus trabalhos também têm um conteúdo e um propósito políticos.
Embora admita que muitas vezes extrai o material para suas histórias da vida de outros, seus romances, especialmente o romance "O vestido azul" (Editora Globo, 2002), no qual ela lida com a morte súbita de seu cônjuge, e "Leitura, escrita, respiração. Um convite para escrever" (tradução livre. Leben, schreiben, atmen : Eine Einladung zum Schreiben, Diogenes Verlag, 2019), têm traços autobiográficos fortes. Este último, desenhado por Dörrie como um manual de escrita e para o qual se beneficia de seus anos de experiência no ensino de artesanato, revela por um lado muitas anedotas da história familiar da escritora, ao mesmo tempo em que explica conceitos como 'Fluxo de Consciência' como uma técnica de escrita e convida o leitor a experimentá-la.
Doris Dörrie prefere escrever à mão e usa uma linguagem clara, sem adornos, mas sonhadora e atraente. Sua força é seu humor e o raro dom de trazer à tona o lado oculto da moeda, como a beleza da tristeza, ou o poder por trás do doloroso. Ao longo dos anos ela tem recebido várias críticas por sua maneira pouco convencional de contar histórias, mas seus números de vendas consistentemente altos, muito sucesso com o público e vários prêmios, incluindo o Prêmio Alemão do Livro 2003, o Prêmio do Livro Infantil da Renânia do Norte-Vestefália 2003 e a Medalha Carl Zuckmayer 2013, mostram que ela tem uma conexão muito especial com seus leitores e telespectadores. Desde 2019 também é membro do júri do Oscar.
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"Somos todos ficção, mas não acreditamos que... (porque estamos no meio dela como numa sequela.)"
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"Porque não sabemos o que temos, sempre perguntamos apenas o que nos falta. E achamos difícil mudar esse olhar."
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"Comparar-se é sempre o fim. Se você faz melhor que os outros, você se sente só, e se não, você também se sente só."
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"Ao escrever, você pode viajar muito mais rápido. Fazer filmes é mais difícil porque há uma máquina inteira por trás disso. Na linguagem, você pode viajar para a lua em uma frase. No cinema, você só pode fazer isso de forma muito limitada. Você precisa de mais tempo para isso."
* 20 de fevereiro de 1970, antiga Berlim Oriental
“'É impressionante a casualidade com que Franck consegue evocar uma atmosfera de desconfiança permanente, para mostrar o que significa quando a realidade percebida não corresponde à realidade dos outros, daqueles no poder. Raramente encontra-se uma leitura tão divertida baseada numa superfície tão instável.” Anne Haeming
Julia Franck tornou-se uma sensação na cena alemã do livro praticamente da noite para o dia, em 2007, quando ganhou o Prêmio Alemão do Livro por seu romance A mulher do meio-dia (Nova Fronteira, 2008). Sua paixão por contar e escrever histórias, entretanto, começou já em sua infância e continuou a ser parte existencial de sua personalidade e vida.
Com sua irmã gêmea, ela nasceu em Berlim (do Leste). Aos 8 anos de idade, mudou-se com sua mãe e três irmãs para o Oeste e passou vários meses em um centro de emergência para refugiados em Berlim Ocidental, antes de ser reassentada em uma área rural em Schleswig Holstein. No Natal, a mãe deu às suas filhas cadernos, em parte por necessidade financeira, mas provavelmente também por um bom motivo, o que para Julia Franck marcou o início da sua carreira como escritora. No início, ela escreveu principalmente anotações sobre o seu dia-a-dia, criando uma espécie de diário. Rapidamente, os registros se tornaram histórias inventadas, contos e, sobretudo, poemas, o que para ela representava, naquela época, uma fuga da sua realidade confusa. Mais tarde, eventos reais viriam a ser abordados em muitas de suas obras – ela traz impressões da época de seu reassentamento em seu romance Fogueira (tradução livre, dtv, 2005), que foi filmado em 2013 sob o título Westen.
Aos 13 anos, Julia Franck voltou sozinha para Berlim Ocidental, onde viveu com amigos de sua mãe, desenvolveu sua liberdade e independência e, mais tarde, completou seu Abitur. A autora ainda hoje se identifica fortemente com Berlim e adora o dialeto e a disposição dos berlinenses – isso também se reflete em seus livros, como no romance psicologicamente envolvente Servo do amor (tradução livre, DuMont, 1999). Lá, aos 14 anos, ela conheceu seu pai, com quem havia tido pouco contato até então. Julia Franck tratou desta experiência no conto Streuselschnecke, que foi publicado no volume de histórias Aterragem do ventre. Histórias para tocar (tradução livre, DuMont, 2000).
Embora não se considere uma escritora feminista, a perspectiva feminina e a posição da mulher na sociedade são temas centrais em seus textos. Em contraste com a literatura feminina do pós-guerra, uma nova geração de escritoras parece estar trabalhando aqui, caracterizada pela capacidade de se distanciar das imagens anteriores das mulheres e de escrever aberta e intransigentemente sobre sentimentos, desejos e conflitos morais, sem ser constrangida pela pressão do patriarcado. Apesar disso, ou talvez por isso mesmo, suas protagonistas femininas aparecem numa certa ambiguidade como indivíduos autônomos e, ao mesmo tempo, como vítimas de seu ambiente.
Já em seu romance de estreia O novo cozinheiro (tradução livre, Fischer, 1997), Julia Franck apresenta uma personagem feminina que não é só bonita e agradável, mas, acima de tudo, tem muitos defeitos. Em seu sucesso mundial A mulher do meio-dia (Nova Fronteira, 2008), ela aplica essa ambiguidade de uma forma ainda mais sofisticada, impedindo habilmente que o leitor faça um julgamento rápido sobre a mãe que abandona seu filho na plataforma de uma estação. Objetividade e atenção aos detalhes são as ferramentas que ela usa para criar uma atmosfera de eco de vulnerabilidade e sensibilidade.
Julia Franck escreve numa linguagem refrescantemente jovem, clara e apesar da sua franqueza, com um som poético notável. Em seu romance Costas com costas (tradução livre, Fischer, 2011), usa a poesia de seu falecido tio como o lirismo de uma personagem central da história e assim ancora a narrativa na realidade. Assim como sua personagem no romance, o irmão da mãe de Franck tirou sua própria vida depois que o Muro foi construído.
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"Extraí principalmente de um fundo feito de imagens interiores. Tais imagens interiores crescem em cada memória familiar. Entre elas, além das imagens que nos são contadas quando criança, há também aquelas que não nos são contadas e que, no entanto, são transmitidas."
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"Eu carrego frases à minha frente, como cartazes atrás dos quais posso me esconder."
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"Nos meus textos, às vezes as mulheres também realizam os seus sonhos. Mas às vezes não o fazem: às vezes ficam atrás de todos esses ideais pelos quais lutaram e voltam a cair em posições em que, na verdade, só procuram a dependência. Esse pra cá e pra lá dentro deste papel, que, no entanto, não se pode descartar completamente ou ignorar, ainda está, na minha opinião, presente nos meus textos."
* 15 de maio 1911 em Zurique; † 4 de abril 1991 em Zurique
Como se manter vivo? Essa pergunta surge cada vez mais necessária em um mundo onde muitas pessoas ficam diante do computador cerca de 8 horas por dia e 4 horas, em frente à televisão. Neste mundo, onde nosso viver é condicionado, pré-fabricado e as pessoas são sobrecarregadas por imagens e dados externos, a pergunta proposta e os textos de Frisch são mais atuais do que nunca. Eles unem a vivência à virtualidade, o essencial ao cotidiano, o político ao privado [...].
(Julian Schütt, no Prólogo à biografia de Max Frisch)
Max Frisch foi um escritor suíço e o primeiro autor a reconquistar, após a II Guerra Mundial, reconhecimento internacional na literatura alemã. Suas obras foram traduzidas para várias línguas e são usadas como base para o ensino da língua alemã. Com os dramas Biedermann e os incendiários (1953) e Andorra (1963), assim como os romances Homo Faber (1957) e Chamem-me Gantenbein (1964), Frisch fez o maior sucesso.
Estudou Filologia Alemã por algum tempo sem, porém, concluir o curso, pois o currículo não lhe proporcionava instrumentação necessária ao trabalho de escritor, segundo suas expectativas. Na esperança de exercer uma profissão que pudesse lhe garantir independencia financeira, resolveu fazer um curso de Arquitetura. Enquanto isso, trabalhou para o jornal Neue Züricher Zeitung como autônomo, escrevendo textos jornalísticos baseados, em grande parte, em estudos de introspecção biográfica e processamento da experiência vivida. Após graduar-se em Arquitetura, passou a trabalhar tanto como arquiteto, quanto escritor, dedicando-se harmonicamente à rotina dos dois ofícios.
O foco de sua obra literária é a abordagem do “self”, a percepção de si mesmo. Sua escrita é, de um modo geral, uma mistura entre elementos autobiográficos e ficcionais. Seguindo esta linha, Frisch encontrou no diário a forma de expressar e registrar perfeitamente suas introspecções e viagens extensivas. Em períodos de estadia no México, em Cuba, na China, Itália e Grécia, entre outros lugares, reuniu matéria suficiente para muito de sua escrita. Além disso, as viagens propiciavam ainda a chance de um permanente recomeço, pois era somente diante do desconhecido que se sentia um ente vivo. Em 1954, quando seu romance Stiller tornou-se um marco em sua carreira, deixou sua família para viver exclusivamente do ofício de escritor.
Assim como para seus contemporâneos, a II Guerra Mundial foi um grande impacto na vida do autor. Ele precisou partir para a guerra e ocupar uma posição subordinada na frente de batalha. Apesar do serviço militar, Frisch não deixou de escrever. Ele produziu cada vez mais obras de teatro, que lhe consagraram sucesso. Alguns desses dramas abordam a temática da guerra: Nun singen sie wieder (1945) fala sobre o sentimento de culpa entre os soldados que seguem ordens desumanas, partindo da perspectiva subjetiva do atingido. Mesmo abordando a questão, a obra foi considerada apolítica.
Como provam suas obras autobiográficas, Frisch vivenciou uma série de relacionamentos amorosos, que, em sua maioria, foram casos problemáticos. Em 1942 ele se casou com a arquiteta Gertrud Meyenburg, com quem formou uma família de três filhos. Em 1958 conheceu a escritora austríaca Ingeborg Bachmann e um ano depois se divorciou da sua primeira esposa. Ele pediu por escrito Bachmann em casamento, mas ela negou. Mesmo assim, em 1960 Frisch a seguiu, quando ela se mudou para Roma, e lá residiu até 1965. Viveram juntos durante uma época, mas se separaram, pois a convivência, carregada de infidelidade e ciúmes, se tornou cada vez mais problemática. Frisch superou o relacionamento com Bachmann na obra Chamem-me de Gantenbein. Seguiram outros relacionamentos com diversas mulheres. A maioria das parceiras era muito mais jovem que ele: Marianne Oellers, 32 anos de diferença; Karin Pilliod, 24 anos. O relacionamento conflitante com o sexo oposto foi também temática central em sua obra.
Max Frisch morreu em 1991, devido às consequências de um câncer no intestino, já tendo confessado seu vício por álcool em uma entrevista. Na Universidade de Zurique (ETH), onde o escritor recebeu, em 1940, seu diploma de Arquitetura, foi criada a Fundação Max Frisch (Max Frisch Stiftung). Lá, seu espólio é conservado, recuperado e catalogado. Hoje, sua obra é leitura programada em escolas, tem valor de destaque e posição fundamental, normativa e duradoura na literatura da língua alemã.
“Crise é um estado produtivo. Só falta tirar-lhe a conotação de catástrofe.”
“Mais cedo ou mais tarde cada um inventa uma história, que considera, muitas vezes a custo de enormes sacrifícios, sua vida.”
“Infidelidade é [...] nossa desesperada esperança contra o definitivo. Não é o anseio, mas é a saudade do anseio.”[1]
“Tudo pode ser contado, menos a vida real. Esta impossibilidade nos condena a continuar do jeito que nossos parceiros nos vêem.”[2]
[1, 2] Interview https://www.welt.de/print/wams/kultur/article12894443/Man-kann-alles-erzaehlen-nur-nicht-sein-Leben.html
Como se manter vivo? Essa pergunta surge cada vez mais necessária em um mundo onde muitas pessoas ficam diante do computador cerca de 8 horas por dia e 4 horas, em frente à televisão. Neste mundo, onde nosso viver é condicionado, pré-fabricado e as pessoas são sobrecarregadas por imagens e dados externos, a pergunta proposta e os textos de Frisch são mais atuais do que nunca. Eles unem a vivência à virtualidade, o essencial ao cotidiano, o político ao privado [...].
(Julian Schütt, no Prólogo à biografia de Max Frisch)
Max Frisch foi um escritor suíço e o primeiro autor a reconquistar, após a II Guerra Mundial, reconhecimento internacional na literatura alemã. Suas obras foram traduzidas para várias línguas e são usadas como base para o ensino da língua alemã. Com os dramas Biedermann e os incendiários (1953) e Andorra (1963), assim como os romances Homo Faber (1957) e Chamem-me Gantenbein (1964), Frisch fez o maior sucesso.
Estudou Filologia Alemã por algum tempo sem, porém, concluir o curso, pois o currículo não lhe proporcionava instrumentação necessária ao trabalho de escritor, segundo suas expectativas. Na esperança de exercer uma profissão que pudesse lhe garantir independencia financeira, resolveu fazer um curso de Arquitetura. Enquanto isso, trabalhou para o jornal Neue Züricher Zeitung como autônomo, escrevendo textos jornalísticos baseados, em grande parte, em estudos de introspecção biográfica e processamento da experiência vivida. Após graduar-se em Arquitetura, passou a trabalhar tanto como arquiteto, quanto escritor, dedicando-se harmonicamente à rotina dos dois ofícios.
O foco de sua obra literária é a abordagem do “self”, a percepção de si mesmo. Sua escrita é, de um modo geral, uma mistura entre elementos autobiográficos e ficcionais. Seguindo esta linha, Frisch encontrou no diário a forma de expressar e registrar perfeitamente suas introspecções e viagens extensivas. Em períodos de estadia no México, em Cuba, na China, Itália e Grécia, entre outros lugares, reuniu matéria suficiente para muito de sua escrita. Além disso, as viagens propiciavam ainda a chance de um permanente recomeço, pois era somente diante do desconhecido que se sentia um ente vivo. Em 1954, quando seu romance Stiller tornou-se um marco em sua carreira, deixou sua família para viver exclusivamente do ofício de escritor.
Assim como para seus contemporâneos, a II Guerra Mundial foi um grande impacto na vida do autor. Ele precisou partir para a guerra e ocupar uma posição subordinada na frente de batalha. Apesar do serviço militar, Frisch não deixou de escrever. Ele produziu cada vez mais obras de teatro, que lhe consagraram sucesso. Alguns desses dramas abordam a temática da guerra: Nun singen sie wieder (1945) fala sobre o sentimento de culpa entre os soldados que seguem ordens desumanas, partindo da perspectiva subjetiva do atingido. Mesmo abordando a questão, a obra foi considerada apolítica.
Como provam suas obras autobiográficas, Frisch vivenciou uma série de relacionamentos amorosos, que, em sua maioria, foram casos problemáticos. Em 1942 ele se casou com a arquiteta Gertrud Meyenburg, com quem formou uma família de três filhos. Em 1958 conheceu a escritora austríaca Ingeborg Bachmann e um ano depois se divorciou da sua primeira esposa. Ele pediu por escrito Bachmann em casamento, mas ela negou. Mesmo assim, em 1960 Frisch a seguiu, quando ela se mudou para Roma, e lá residiu até 1965. Viveram juntos durante uma época, mas se separaram, pois a convivência, carregada de infidelidade e ciúmes, se tornou cada vez mais problemática. Frisch superou o relacionamento com Bachmann na obra Chamem-me de Gantenbein. Seguiram outros relacionamentos com diversas mulheres. A maioria das parceiras era muito mais jovem que ele: Marianne Oellers, 32 anos de diferença; Karin Pilliod, 24 anos. O relacionamento conflitante com o sexo oposto foi também temática central em sua obra.
Max Frisch morreu em 1991, devido às consequências de um câncer no intestino, já tendo confessado seu vício por álcool em uma entrevista. Na Universidade de Zurique (ETH), onde o escritor recebeu, em 1940, seu diploma de Arquitetura, foi criada a Fundação Max Frisch (Max Frisch Stiftung). Lá, seu espólio é conservado, recuperado e catalogado. Hoje, sua obra é leitura programada em escolas, tem valor de destaque e posição fundamental, normativa e duradoura na literatura da língua alemã.
“Crise é um estado produtivo. Só falta tirar-lhe a conotação de catástrofe.”
“Mais cedo ou mais tarde cada um inventa uma história, que considera, muitas vezes a custo de enormes sacrifícios, sua vida.”
“Infidelidade é [...] nossa desesperada esperança contra o definitivo. Não é o anseio, mas é a saudade do anseio.”[1]
“Tudo pode ser contado, menos a vida real. Esta impossibilidade nos condena a continuar do jeito que nossos parceiros nos vêem.”[2]
[1, 2] Interview https://www.welt.de/print/wams/kultur/article12894443/Man-kann-alles-erzaehlen-nur-nicht-sein-Leben.html
“O autor desenhou em fábulas de negro vivo o rosto esquecido da história.” (Justificativa do júri para a concessão do Prêmio Nobel de Literatura, 1999)
Günter Wilhelm Grass era um artista com muitos talentos, e mesmo atuando como artista gráfico, escultor, músico e poeta, seus maiores sucessos ele conseguiu na literatura, pela qual recebeu em 1999 o Prêmio Nobel. Ele desempenhou um papel crucial na literatura alemã do pós-guerra, também conhecida como literatura de escombros, e convidou seus colegas escritores e artistas, bem como seus semelhantes, a processar ativamente os acontecimentos do Terceiro Reich. Embora seu estilo “pregador itinerante” provocasse críticas, fica claro que suas impressões de um ambiente em rápida mudança ainda hoje inspiram leitores em todo o mundo.
Filho mais velho de uma família de comerciantes na República de Weimar, quando criança e adolescente, foi exposto aos slogans e à propaganda dos nacional-socialistas. Como muitos de seus contemporâneos, ele foi membro da Juventude Hitlerista, onde aprendeu a acreditar incondicionalmente na “Endsieg” (vitória final). Aos 17 anos, ele prestou serviço na brigada antiaérea e mais tarde foi chamado para a SS, onde testemunhou em primeira mão a crueldade dos últimos dias e semanas da g uerra e sobreviveu com muita sorte.
Depois de ferido e preso, ele entendeu essa sorte como uma vocação para perseguir seus talentos artísticos. Contra a vontade do pai, começou em 1947 um estágio como pedreiro e em 1948 começou a estudar artes gráficas e escultura na Escola de Artes em Düsseldorf e mais tarde na Faculdade de Belas Artes em Berlim, antes de encontrar reconhecimento como poeta no famoso Grupo 47, como poeta. No ano seguinte, ele lançou sua primeira publicação, o livro de poemas As vantagens dos cataventos (tradução livre, Luchterhand, 1956).
Pouco tempo depois, ele causou alvoroço na cena literária internacional com seu primeiro romance O tambor (Record, 1959). Em 1980, a adaptação cinematográfica homônima do livro, dirigida por Volker Schlöndorff, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Os dois títulos subsequentes de Günter Grass O gato e o rato (Labor, 1961) e Anos de cão (Rocco, 1989) completaram a chamada Trilogia de Danzig, que se ocupava dos eventos anteriores, durante e após a Segunda Guerra Mundial, tendo como pano de fundo o local de nascimento do autor.
Um dos temas centrais da literatura de Grass é a jornada por diferentes períodos e épocas. Como um migrante, Grass rompeu com sua própria pátria e língua, ideologia e identidade após a rendição nazista e fez a árdua tarefa de reinventá-los em seus contos e poemas, suas peças, cartas abertas, discursos e ensaios políticos. Além da característica pitoresca das suas palavras, a obra de Günter Grass oferece uma reciprocidade única de palavra e imagem e seu trabalho gráfico acompanha muitas de suas publicações, criando um diálogo entre a mídia da literatura e da gráfica.
Como parte da crescente politização do artista, seu trabalho criativo na década de 1960 se concentrava na escrita. Ele apoiou as campanhas eleitorais do partido SPD com aparições públicas e discursos políticos e manteve contato próximo com a política, em particular com os chanceleres Willy Brandt e Gerhard Schröder. Suas opiniões muito públicas foram frequentemente a causa de críticas e controvérsias, ele era um oponente da reunificação alemã e lutou, entre outros, pelos direitos autorais. No livro Do diário de um caracol (tradução livre, Luchterhand 1972), ele descreveu muitas de suas convicções e dilemas políticos.
Em 2006, quando Günter Grass anunciou em seu trabalho autobiográfico Nas peles da cebola (Record, 2007) sua participação na SS, foi acusado de dúbio e hipócrita. Muitos argumentaram que apenas aquele que tinha escrito por décadas contra o esquecimento, teria afastado esse fato por muito tempo. Ele próprio defendeu isso, dizendo que essa admissão é um processo demorado que, como o descascar de uma cebola, não é indolor.
"Acredito que o futuro só será possível, se aprendermos a renunciar as coisas que são viáveis, porque não precisamos delas."
"Os verdadeiros terroristas estão engravatados, sentados nos andares executivos e não têm medo de continuar com uma política de retalhos que começou em 1933."
"Toda sociedade democrática que não dissipa seus conflitos, mas os preserva por meio de proibições, deixa de ser democrática antes de começar a entender a democracia."
* 30 de abril de 1945 em Brachthausen
Ulla Hahn é uma das poetas contemporâneas mais importantes da Alemanha. Sua coletânea de poesias Herz über Kopf (1981) foi um sucesso de vendas na Alemanha, seguida por Freudenfeuer (1985) e Unerhörte Nähe (1988). Escreveu seu primeiro romance em 1991, Ein Mann im Haus, mas o grande sucesso mesmo irrompeu com a trilogia: Das verborgene Wort (2001), Aufbruch (2009) e Spiel der Zeit (2014).
Como professora de Língua Alemã, Ulla Hahn foi docente nas Universidades de Hamburgo, Bremen e Oldenburg. Em 1978, completou seu doutorado com a tese “As tendências de desenvolvimento da literatura socialista da Alemanha ocidental na década de 60” (tradução livre). Trabalhou ainda como editora de literatura na Radio Bremen. Para ingressar no mundo acadêmico, Ulla teve de retroceder em algumas etapas de formação, pois durante a educação básica foi preparada somente para um curso técnico. Após completar a formação para profissionais de secretariado, estudou por conta própria e conseguiu chegar à Universidade.
Em 1981, a autora ganhou o prêmio de poesia mais importante para a nova geração germanófona: o Leonce-und-Lena-Preis. O júri considerou que suas poesias mostram um comportamento soberano diante das tradições líricas, que ela teria conseguido encontrar a expressão lírica para a situação atual da vida. Uma das características marcantes de sua poesia é a tensão entre emoções e as artes, luto e ironia. Embora haja opiniões divergentes, Ulla Hahn é sobretudo poeta. Porém, o sucesso e as críticas positivas à trilogia provam que a língua e as palavras têm, para ela, uma importância crucial.
A trilogia de romances descreve a essência do ano 1968 na Alemanha. O papel da protagonista Hildegard Palm (Hilla) é uma espécie de alter ego da própria autora. Trata-se de uma menina de família trabalhadora, que foi criada em um ambiente católico e hostil a todo tipo de desenvolvimento intelectual, no meio da província do Reno. Hilla esforça-se por aprender o alemão padrão e é castigada por ler livros, mas ao final consegue transgredir o ambiente intelectualmente limitado e acessar o universo das ideias. Das verborgene Wort narra o período em que Hilla cursava o ensino médio; Aufbruch, seu caminho do colégio à Faculdade de Letras; Spiel der Zeit, conta a saída de Hilla da casa dos pais para morar no alojamento estudantil, na cidade de Colônia, onde se apaixona pela primeira vez e é feliz. Um filme homônimo já foi baseado em seu segundo romance Aufbruch.
A própria Ulla Hahn é testemunha do movimento estudantil de 1968 em Colônia e seus romances são entremeados por fatos históricos e particularidades autobiográficas. Os paralelos entre a história da protagonista e o passado da autora é percebido, de início, na semelhança gráfica entre os nomes Ulla e Hilla. Hahn também teve de superar diversos obstáculos até conquistar o mundo acadêmico.
Hahn é membro da Freie Akademie der Künste de Hamburgo e do Centro PEN Alemanha. Ela assinou o Appell der 33, desenvolvido pela revista EMMA após as eleições federais em 2005, que exige um comportamento justo com os resultados das eleições. Em sua vida, Hahn é politicamente engajada, enquanto em suas obras raramente divulga posicionamentos políticos.
"Escrever é a libertação." [1]
"Sempre carregamos nossas origens dentro de nós. Isso não significa necessariamente um peso que temos de carregar pelo resto da vida. Tudo depende de transformar esse peso em mantimento, que é uma experiência proveitosa. O que já é, então, muito mais que conciliação." [2]
"Você entra em um livro, e chega a outro mundo." [3]
[1] http://www.ksta.de/22837374 ©2017
[2] http://www.ksta.de/22837374 ©2017
[3]Ulla Hahn, Das verborgene Wort, Dt. Verl.-Anst., 2001
Ulla Hahn é uma das poetas contemporâneas mais importantes da Alemanha. Sua coletânea de poesias Herz über Kopf (1981) foi um sucesso de vendas na Alemanha, seguida por Freudenfeuer (1985) e Unerhörte Nähe (1988). Escreveu seu primeiro romance em 1991, Ein Mann im Haus, mas o grande sucesso mesmo irrompeu com a trilogia: Das verborgene Wort (2001), Aufbruch (2009) e Spiel der Zeit (2014).
Como professora de Língua Alemã, Ulla Hahn foi docente nas Universidades de Hamburgo, Bremen e Oldenburg. Em 1978, completou seu doutorado com a tese “As tendências de desenvolvimento da literatura socialista da Alemanha ocidental na década de 60” (tradução livre). Trabalhou ainda como editora de literatura na Radio Bremen. Para ingressar no mundo acadêmico, Ulla teve de retroceder em algumas etapas de formação, pois durante a educação básica foi preparada somente para um curso técnico. Após completar a formação para profissionais de secretariado, estudou por conta própria e conseguiu chegar à Universidade.
Em 1981, a autora ganhou o prêmio de poesia mais importante para a nova geração germanófona: o Leonce-und-Lena-Preis. O júri considerou que suas poesias mostram um comportamento soberano diante das tradições líricas, que ela teria conseguido encontrar a expressão lírica para a situação atual da vida. Uma das características marcantes de sua poesia é a tensão entre emoções e as artes, luto e ironia. Embora haja opiniões divergentes, Ulla Hahn é sobretudo poeta. Porém, o sucesso e as críticas positivas à trilogia provam que a língua e as palavras têm, para ela, uma importância crucial.
A trilogia de romances descreve a essência do ano 1968 na Alemanha. O papel da protagonista Hildegard Palm (Hilla) é uma espécie de alter ego da própria autora. Trata-se de uma menina de família trabalhadora, que foi criada em um ambiente católico e hostil a todo tipo de desenvolvimento intelectual, no meio da província do Reno. Hilla esforça-se por aprender o alemão padrão e é castigada por ler livros, mas ao final consegue transgredir o ambiente intelectualmente limitado e acessar o universo das ideias. Das verborgene Wort narra o período em que Hilla cursava o ensino médio; Aufbruch, seu caminho do colégio à Faculdade de Letras; Spiel der Zeit, conta a saída de Hilla da casa dos pais para morar no alojamento estudantil, na cidade de Colônia, onde se apaixona pela primeira vez e é feliz. Um filme homônimo já foi baseado em seu segundo romance Aufbruch.
A própria Ulla Hahn é testemunha do movimento estudantil de 1968 em Colônia e seus romances são entremeados por fatos históricos e particularidades autobiográficas. Os paralelos entre a história da protagonista e o passado da autora é percebido, de início, na semelhança gráfica entre os nomes Ulla e Hilla. Hahn também teve de superar diversos obstáculos até conquistar o mundo acadêmico.
Hahn é membro da Freie Akademie der Künste de Hamburgo e do Centro PEN Alemanha. Ela assinou o Appell der 33, desenvolvido pela revista EMMA após as eleições federais em 2005, que exige um comportamento justo com os resultados das eleições. Em sua vida, Hahn é politicamente engajada, enquanto em suas obras raramente divulga posicionamentos políticos.
"Escrever é a libertação." [1]
"Sempre carregamos nossas origens dentro de nós. Isso não significa necessariamente um peso que temos de carregar pelo resto da vida. Tudo depende de transformar esse peso em mantimento, que é uma experiência proveitosa. O que já é, então, muito mais que conciliação." [2]
"Você entra em um livro, e chega a outro mundo." [3]
[1] http://www.ksta.de/22837374 ©2017
[2] http://www.ksta.de/22837374 ©2017
[3]Ulla Hahn, Das verborgene Wort, Dt. Verl.-Anst., 2001
* 2 de julho de 1877 em Calw, Império Alemão | † Montagnola, Suíça
"É raro que um espírito seja libertado da prisão de sua classificação: a contracultura americana descobriu Hermann Hesse como o precursor de um movimento que recomenda à humanidade na virada do milênio que reflita sobre outros objetivos e experimente novos modos de vida. Ele é um visionário da política do futuro que pensa além da política diária." ROBERT JUNGK
Hermann Hesse provavelmente divide opiniões mais do que qualquer outro escritor na história da literatura alemã. O vencedor do Prêmio Nobel é celebrado por muitos por sua sensibilidade, autenticidade e obstinação, enquanto outros o criticam por sua teimosia e também por sua falta de racionalidade e intelectualidade. No entanto, não há dúvida de que suas mensagens de realização pessoal, espiritualidade e resistência à repressão ainda são atraentes para pessoas em todo o mundo, especialmente para os leitores mais novos.
Como os planos do jovem Hermann não concordavam com as ideias de seus pais, baseadas no pietismo, movimento da igreja luterana que valorizava as experiências individuais, os conflitos eram frequentes na família Hesse. O poeta aspirante tinha que lutar arduamente por sua identidade e desenvolvimento pessoal. Semelhante ao personagem Hans Giebnrath de um dos primeiros contos dele, Debaixo das rodas (Civilização Brasileira, 1972), ou ao aluno em Narciso e Goldmund (Record 2003), Hermann Hesse também escapou de uma prestigiosa escola em um convento. Como seus heróis fictícios, sentiu-se atormentado pela vida estrita e muitas vezes se viu incapaz de resistir ao desejo de liberdade, que se expressava como rebelião juvenil. Por suas escapadas, foi declarado louco por sua própria família e repetidamente internado numa instituição "para imbecis e epilépticos".
Ao longo da sua vida, Hesse voluntariamente se ofereceu para o tratamento psicanalítico, e as estadias em resorts de saúde tornaram-se uma parte indispensável de seu regime de autocuidado. Para ele, isso representou um estágio importante na busca de si mesmo. Na novela muito elogiada Demian (Record, 2012), Hesse mostra uma compreensão especial dos processos psicanalíticos. Também no centro do seu cultuado best-seller O lobo da estepe (Record, 2006) está o conflito humano entre a obediência cívica do personagem principal Harry Haller e os instintos animais que vivem dentro dele, como o lobo da estepe.
Em Sidarta (Record, 2004), baseado na história do novato Sidarta, Hesse constrói os vários estágios de realização interior para a iluminação do personagem e o processo de transformação em Buda. Apesar de seu profundo apego espiritual à cultura indiana, a partir de seus pais e avós, que trabalharam e viveram como missionários na Índia durante anos, Hesse só conseguiu concluir o trabalho após uma pausa, por causa de um avanço importante numa consulta com C.G. Jung.
Após as suas experiências da Primeira Guerra Mundial, Hesse tornou-se um adversário de guerra convicto. Na sua opinião, "livros, imagens e música podem mudar a realidade mais duradoura do que rifles e slogans políticos". Depois que foi aposentado do serviço militar por motivos de saúde, comprometeu-se com o tratamento de prisioneiros de guerra com a Cruz Vermelha. Nessa atuação, dedicou-se à tarefa de fornecer a prisioneiros de guerra literatura e leitura. Para Hesse, o indivíduo sempre esteve no centro e estava convencido de que, para influenciar a sociedade, é preciso começar pela parte.
Durante a Segunda Guerra Mundial, novamente investiu tempo e energia nas vítimas da guerra. Desta vez não com os prisioneiros, mas com os deslocados, entre eles seu bom amigo Thomas Mann. Esta amizade esclarecedora é preservada na posteridade por Hermann Hesse e Thomas Mann em Correspondência entre amigos (Record, 1975), um documento que fornece conhecimentos importantes sobre os pensamentos e sentimentos de dois grandes pensadores sobre duas guerras mundiais.
Durante o conflito, a obra literária progrediu lentamente, e Peter Suhrkamp, que assumiu a administração da editora do judeu Samuel Fischer, após a tomada do poder pelos nazistas, não recebeu autorização para imprimir o romance O jogo das contas de vidro (Record, 2003) quando finalmente foi concluído, após 11 anos. Mesmo os livros de Hesse publicados anteriormente não foram autorizados a serem reimpressos ou editados de acordo com instruções nazistas. Suhrkamp resistiu às instruções dos nazistas e continuou a entregar o restante dos livros de seu amigo de longa data.
Mais tarde, a amizade entre o escritor e a editora teve um impacto duradouro na indústria editorial, pois Hermann Hesse ajudou Suhrkamp a separar-se da editora Fischer e fundar sua própria editora. Naquela época, dois terços dos autores da Fischer mudaram para a nova editora, e, hoje, Suhrkamp é um dos nomes mais importantes da indústria editorial alemã.
Após a guerra, os escritos políticos de Hesse sobre a guerra e a paz foram publicados na Suíça. Esses fragmentos são muito diferentes do resto do seu trabalho, e a racionalidade revelada surpreendeu alguns críticos. Nestes escritos, Hesse apresenta uma crônica de seu pensamento político desde 1914 e fornece testemunhos e conhecimentos únicos sobre suas experiências e desenvolvimento pessoais.
Embora Hesse tenha encontrado pouca publicidade nos Estados Unidos durante sua carreira e sempre sentisse que os americanos não o entendiam, logo após sua morte, em 1961, aconteceu uma espécie de ressureição do autor nos Estados Unidos, onde foi celebrado como um ídolo por movimentos de protesto como os Beatniks e os adversários da Guerra do Vietnã. Isto foi seguido por explosões da popularidade de Hesse no Japão, Austrália, África do Sul e os Estados soviéticos. Hoje ele é um dos autores alemães mais traduzidos e amplamente lidos de todos os tempos.
Entre outros, Hermann Hesse recebeu o Prêmio Goethe da Cidade de Frankfurt e o Prêmio Nobel de Literatura em 1946 e, em 1955, foi agraciado com o Prêmio da Paz do Mercado Livreiro Alemão.
"Uma verdade boa e correta, precisa suportar que você a devolva. O que quer que seja verdade, a recíproca também deve ser verdadeira. Porque toda a verdade é uma fórmula curta para um olhar para o mundo a partir de um certo ponto, e não há ponto sem um contraponto."
"Ler um livro significa para o bom leitor: conhecer o caráter e os pensamentos de um estranho, procurar entendê-lo, se possível, para ganh'á-lo como amigo."
“Dois de mil livros não podem fazer com que você sinta que não está ouvindo o autor, mas sim as próprias coisas falando."
“Tudo que se faz contra seu instinto e seu conhecimento interior em benefício de outros, não é bom e, mais cedo ou mais tarde, se pagará caro.”
“Sem o animal em nós, somos anjos castrados.”
"Considero o nacionalismo o nível de autoconfiança nacional, em que a irmandade de todas as pessoas corre o risco de ser esmagada pelo patriotismo."
* 20 de outubro de 1946 em Mürzzuschlag
Vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, Elfriede Jelinek exerce, desde os anos 70, grande influência literária e política. Honesta, sem floreios, a escritora austríaca tematiza assuntos extremamente sensíveis e polêmicos, como a superação do passado nazista na Áustria ou as atuais correntes radicais da direita na Europa. Hoje, ela é uma das autoras mais conhecidas e controversas no espaço germanófono.
Por conta de uma educação musical rigorosa, Elfriede Jelinek teve contato com as artes desde cedo. Estudou Piano e Órgão no Conservatório de Viena e, após o ensino médio, se inscreveu na faculdade de Estudos Teatrais e História da Arte, na Universidade de Viena. Na mesma época, começaram os problemas psicológicos, pelos quais foi obrigada a largar a faculdade e viver um ano em isolamento. Em decorrência de seu estado mental, sua carreira acadêmica acabou. Por outro lado, seu percurso como escritora apenas iniciava, pois foi quando escreveu seu primeiro livro de poesia, Lisas Schatten (As sombras de Lisa, tradução livre): uma análise crítica e marxista do capitalismo e da sociedade consumista, bem como uma crítica acentuada à sociedade patriarcal.
Após a morte de seu pai, Jelinek começou a se recuperar e passou a trabalhar como escritora e dramaturga independente, em Berlim e Munique. Com o tempo, a autora foi se engajando cada vez mais politicamente. Tornou-se membro do Partido Comunista Austríaco e foi ativista no movimento estudantil de 1968. Em 1975, com o romance Die Liebhaberinnen (As amantes, ASA Literatura, 2006), começou a fazer sucesso. No início dos anos 80, Die Ausgesperrten (Os excluídos, ASA Literatura, 2008) foi lançado primeiro como áudio, depois como romance e, por fim, como longa-metragem. Jelinek passou a ser mundialmente conhecida pela conquista do Prêmio Nobel de Literatura em 2004. Em mensagem honrosa, a Academia elogiou a paixão linguística da autora e assim a descreveu: “seu fluxo musical de vozes e contravozes em romances e peças de teatro que, com cuidado linguístico extraordinário, revelam o absurdo que são os clichês sociais e seu poder de subjugar”.
Elfriede Jelinek se define, acima de tudo, por uma escrita dura, muitas vezes brutal. A escritora não se deixa deter por respeito a eventuais sensibilidades, nem por conta dos limites de um pretenso “bom-gosto”. Como herdeira do pós-guerra, escreve com muita frequência sobre problemas sociais. Provavelmente parte de sua fama é fruto do seu sarcasmo e das suas provocações mordazes. O primeiro grande escândalo foi provocado com a estreia da sua peça Burgtheater (Teatro Municipal) em 1985, escrita em uma linguagem de dialeto, grotesca e cômica, que aborda o passado nazista austríaco. A partir deste momento seu nome passou a ser frequentemente relacionado a um antipatriotismo. Sua peça Stecken, Stab und Stangl e seu romance Die Kinder der Toten (Os filhos dos mortos, tradução livre), ambos de 1995 e nos quais o acentuado antissemitismo atual foi tema, foram mal-entendidos pelos críticos como um “canto de ódio” contra a própria sociedade. Ela mesma descreve a sua relação com a Áustria como cheia de ambiguidade, mas sem ser negativa. Com a publicação da sua obra Lust (Desejo, Tordesilhas, 2013), considerada em diversos momentos um “pornô feminino” em uma linguagem obscena e agressiva, provocou tumulto. Independentemente do seu posicionamento político, seus escritos estão sempre carregados de elementos autobiográficos, como se pode observar no romance Die Klavierspielerin, 1983 (A pianista, Tordesilhas, 2011), que traz paralelos evidentes da sua vida pessoal.
Soma-se ao desenrolar de suas obras, uma linha de orientação feminista. Em um ensaio sobre a escritora austríaca Ingeborg Bachmann, Jelinek assume notável atitude em relação à posição da mulher na sociedade, comparando-a, de um modo geral, a um “morador de um planeta desconhecido” e à uma “criança, que ainda não foi instruída”. “A mulher é o outro, o homem é a norma. Ele tem o seu lugar e ele funciona, produzindo ideologias. A mulher não tem lugar”. Por isso, Jelinek entende o ato de escrever como uma tentativa da mulher de se tornar sujeito.
Hoje em dia, a autora já ganhou vários prêmios. Sua popularidade aumentou bastante em razão de sua relevância contínua, ainda que suas obras permaneçam controversas até para os novos tempos.
"Você já deve ter reparado que eu nada sei e que só falo as coisas da boca pra fora, uma andante da língua."
"Eu literalmente cavo com o machado para que não cresça grama por onde as minhas personagens pisam."
"Com a visão de um estrangeiro mudo, um morador de um planeta desconhecido [...] a mulher olha de fora para a verdade da qual ela não faz parte. Assim ela é condenada a dizer a verdade e não a bela aparência."
Vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, Elfriede Jelinek exerce, desde os anos 70, grande influência literária e política. Honesta, sem floreios, a escritora austríaca tematiza assuntos extremamente sensíveis e polêmicos, como a superação do passado nazista na Áustria ou as atuais correntes radicais da direita na Europa. Hoje, ela é uma das autoras mais conhecidas e controversas no espaço germanófono.
Por conta de uma educação musical rigorosa, Elfriede Jelinek teve contato com as artes desde cedo. Estudou Piano e Órgão no Conservatório de Viena e, após o ensino médio, se inscreveu na faculdade de Estudos Teatrais e História da Arte, na Universidade de Viena. Na mesma época, começaram os problemas psicológicos, pelos quais foi obrigada a largar a faculdade e viver um ano em isolamento. Em decorrência de seu estado mental, sua carreira acadêmica acabou. Por outro lado, seu percurso como escritora apenas iniciava, pois foi quando escreveu seu primeiro livro de poesia, Lisas Schatten (As sombras de Lisa, tradução livre): uma análise crítica e marxista do capitalismo e da sociedade consumista, bem como uma crítica acentuada à sociedade patriarcal.
Após a morte de seu pai, Jelinek começou a se recuperar e passou a trabalhar como escritora e dramaturga independente, em Berlim e Munique. Com o tempo, a autora foi se engajando cada vez mais politicamente. Tornou-se membro do Partido Comunista Austríaco e foi ativista no movimento estudantil de 1968. Em 1975, com o romance Die Liebhaberinnen (As amantes, ASA Literatura, 2006), começou a fazer sucesso. No início dos anos 80, Die Ausgesperrten (Os excluídos, ASA Literatura, 2008) foi lançado primeiro como áudio, depois como romance e, por fim, como longa-metragem. Jelinek passou a ser mundialmente conhecida pela conquista do Prêmio Nobel de Literatura em 2004. Em mensagem honrosa, a Academia elogiou a paixão linguística da autora e assim a descreveu: “seu fluxo musical de vozes e contravozes em romances e peças de teatro que, com cuidado linguístico extraordinário, revelam o absurdo que são os clichês sociais e seu poder de subjugar”.
Elfriede Jelinek se define, acima de tudo, por uma escrita dura, muitas vezes brutal. A escritora não se deixa deter por respeito a eventuais sensibilidades, nem por conta dos limites de um pretenso “bom-gosto”. Como herdeira do pós-guerra, escreve com muita frequência sobre problemas sociais. Provavelmente parte de sua fama é fruto do seu sarcasmo e das suas provocações mordazes. O primeiro grande escândalo foi provocado com a estreia da sua peça Burgtheater (Teatro Municipal) em 1985, escrita em uma linguagem de dialeto, grotesca e cômica, que aborda o passado nazista austríaco. A partir deste momento seu nome passou a ser frequentemente relacionado a um antipatriotismo. Sua peça Stecken, Stab und Stangl e seu romance Die Kinder der Toten (Os filhos dos mortos, tradução livre), ambos de 1995 e nos quais o acentuado antissemitismo atual foi tema, foram mal-entendidos pelos críticos como um “canto de ódio” contra a própria sociedade. Ela mesma descreve a sua relação com a Áustria como cheia de ambiguidade, mas sem ser negativa. Com a publicação da sua obra Lust (Desejo, Tordesilhas, 2013), considerada em diversos momentos um “pornô feminino” em uma linguagem obscena e agressiva, provocou tumulto. Independentemente do seu posicionamento político, seus escritos estão sempre carregados de elementos autobiográficos, como se pode observar no romance Die Klavierspielerin, 1983 (A pianista, Tordesilhas, 2011), que traz paralelos evidentes da sua vida pessoal.
Soma-se ao desenrolar de suas obras, uma linha de orientação feminista. Em um ensaio sobre a escritora austríaca Ingeborg Bachmann, Jelinek assume notável atitude em relação à posição da mulher na sociedade, comparando-a, de um modo geral, a um “morador de um planeta desconhecido” e à uma “criança, que ainda não foi instruída”. “A mulher é o outro, o homem é a norma. Ele tem o seu lugar e ele funciona, produzindo ideologias. A mulher não tem lugar”. Por isso, Jelinek entende o ato de escrever como uma tentativa da mulher de se tornar sujeito.
Hoje em dia, a autora já ganhou vários prêmios. Sua popularidade aumentou bastante em razão de sua relevância contínua, ainda que suas obras permaneçam controversas até para os novos tempos.
"Você já deve ter reparado que eu nada sei e que só falo as coisas da boca pra fora, uma andante da língua."
"Eu literalmente cavo com o machado para que não cresça grama por onde as minhas personagens pisam."
"Com a visão de um estrangeiro mudo, um morador de um planeta desconhecido [...] a mulher olha de fora para a verdade da qual ela não faz parte. Assim ela é condenada a dizer a verdade e não a bela aparência."
* 23 de fevereiro de 1899 em Dresden | † 29 de julho de 1974 em Munique
O escritor, roteirista e publicista alemão, que também escrevia textos para cabaré, é um dos autores da Literatura Infantil mais importantes da Alemanha. A verdade é que Kästner queria ser professor, mas após uma série de experiências negativas no sistema educacional, desistiu e começou a escrever. Suas produções literárias infantis de maior êxito são Emil und die Detektive (Emil e os detetives, Pavio, 2009), Pünktchen und Anton (Pontinho e Antônio, tradução livre) e Das fliegende Klassenzimmer (A sala de aula voadora, tradução livre), que hoje em dia são considerados clássicos da Literatura Infantil e que já ganharam muitas adaptações para o cinema.
Erich Kästner cresceu como um pequeno-burguês em Dresden. Essa fase de sua vida foi marcada pelos problemas existenciais de seu pai, mas o desejo permanente de ascensão social de sua mãe, com quem ele tinha um relacionamento muito próximo e harmonioso; salvou a família do declínio social. Com o salário suado que ganhava como costureira e, mais tarde, como cabeleireira pôde proporcionar a seu filho uma formação que ia além da escola: leituras, aulas de piano, visitas em óperas e teatros, trilhas e passeios de bicicleta anuais. Os custos escolares, um seminário de formação de professores do ensino médio cursado em 1913, assim como uma parte dos gastos com a universidade foram custeados pela mãe Ida Amalia. A maior parte dos custos com os cursos de Língua e Literatura Alemã, Filosofia e Teatro pôde ser financiada pela “bolsa de estudos dourada” (Goldenes Stipendium) da cidade de Dresden. Tendo em conta a condição social da família, educação e cultura não eram de forma alguma natural e só foram conquistadas com muito sacrifício.
A Primeira Guerra Mundial foi um acontecimento marcante na trajetória de Erich Kästner. No seu livro autobiográfico escreveu: “A Primeira Guerra Mundial começou, e minha infância acabou.” Ele sempre foi consciente quanto a importância da infância e o poder de destruição da guerra e muitas vezes descreveu sua própria infância como “era dourada”. Ao longo da vida de Kästner, sua mãe Ida Amalia costumava alugar quartos do seu apartamento, geralmente para pedagogos. Isso contribuiu bastante com o desejo de Kästner de se tornar professor. Na escola, apesar da violência dos professores, este desejo permaneceu. Em 1917, suas experiências cruéis durante a formação militar para a Primeira Guerra Mundial fizeram dele um opositor decidido a todos os sistemas autoritários e um convencido e engajado pacifista. Após o seminário de formação de professores que cursou em Dresden – um internato com formas de vida e de comportamento similares às do exército – ele percebeu que a “instrução para subordinados” contradizia completamente com suas ideias sobre a pedagogia. Em uma de suas publicações, escreveu que não havia nada mais destrutivo para a cultura do que esta ditadura policial em áreas [...] da educação. Como consequência largou o seminário pouco antes de concluí-lo e, assim também, seu desejo pela profissão. Mas como autor de literatura infantil pôde seguir seu desejo de trabalhar como pedagogo e assim influenciar de forma ativa o desenvolvimento da sociedade, que considerou componentes essenciais da sua intervenção política.
Com o Nazismo, ficou cada vez mais difícil se posicionar criticamente contra o governo ou se assumir antimilitarista. Durante sua longa estada em Berlim, teve que presenciar seus livros serem queimados. Com isso foi obrigado a renunciar a qualidade pedagógica no seu trabalho e teve que produzir exclusivamente literatura infantil de entretenimento, que não fosse ofensiva aos nazistas. Em 1942, por ter sido proibido de escrever, teve que renunciar até mesmo os roteiros para a adaptação para o cinema do seu livro Das doppelte Löttchen (Cachos e tranças, Pavio, 2009). Só após a guerra, ele pôde retomar este trabalho. Durante a guerra, exilou-se na Suíça, onde não permaneceu por muito tempo, retornando pouco tempo depois à sua terra natal; porque acreditava que a cultura alemã era a única com a qual se identificava de verdade. “Sou como uma árvore que cresceu na Alemanha. Se necessário for, morrerei na Alemanha.” Suspeita-se que sua mãe tenha sido o motivo real do seu retorno à Alemanha. Quando a guerra acabou, mudou-se para Munique e lá se engajou no recomeço da vida literária. Como jornalista e cabaretista, produziu comentários críticos sobre acontecimentos políticos e sociais durante a fase da “reconstrução”, formação e consolidação da Repúblida Federal. Ele nunca pôde encontrar uma verdadeira relação com a literatura do pós-guerra, o que provavelmente era uma razão de seus problemas com o álcool, que o levaram a produzir cada vez menos.
Além de livros infantis escreveu romances e poemas crítico-satíricos para adultos. No entanto, seu público-alvo sempre foi mais as crianças e os jovens. Foi editor da revista juvenil Pinguin, escreveu roteiros e foi narrador em diversas adaptações de suas obras para o cinema. Embora Kästner nunca tenha se casado, teve longos relacionamentos e um filho chamado Thomas, a quem dedicou sua obra Der kleine Mann (O homenzinho, tradução livre, 1963).
"O homem é bom. E por isso ele vai mal. Pois se ele estivesse melhor, ele seria mau."[1]
"A política – mais a sua direção conservadora – começou de uma maneira insuportável a ter a tutela do espírito. Porém nada parece mais destrutivo para as culturas que essa economia policial em áreas do pensamento, da arte e da educação."[2]
"Vida sempre é risco de vida."[3]
"Não há nada de bom, a menos que alguém faça algo de bom."[4]
[1] Tradução livre. Gesammelte Werke Band I Gedichte, Der Mensch ist gut, Munique : dtv, p. 34
[2] Tradução livre. Gesammelte Werke Band VI Publizistik, Die Jugend als Vorwand, Munique : dtv, p. 61
[3] Tradução livre. Gesammelte Werke Band I Gedichte, Munique : dtv, p. 271
[4] Tradução livre. Gesammelte Werke Band I Gedichte, Munique : dtv, p. 277
O escritor, roteirista e publicista alemão, que também escrevia textos para cabaré, é um dos autores da Literatura Infantil mais importantes da Alemanha. A verdade é que Kästner queria ser professor, mas após uma série de experiências negativas no sistema educacional, desistiu e começou a escrever. Suas produções literárias infantis de maior êxito são Emil und die Detektive (Emil e os detetives, Pavio, 2009), Pünktchen und Anton (Pontinho e Antônio, tradução livre) e Das fliegende Klassenzimmer (A sala de aula voadora, tradução livre), que hoje em dia são considerados clássicos da Literatura Infantil e que já ganharam muitas adaptações para o cinema.
Erich Kästner cresceu como um pequeno-burguês em Dresden. Essa fase de sua vida foi marcada pelos problemas existenciais de seu pai, mas o desejo permanente de ascensão social de sua mãe, com quem ele tinha um relacionamento muito próximo e harmonioso; salvou a família do declínio social. Com o salário suado que ganhava como costureira e, mais tarde, como cabeleireira pôde proporcionar a seu filho uma formação que ia além da escola: leituras, aulas de piano, visitas em óperas e teatros, trilhas e passeios de bicicleta anuais. Os custos escolares, um seminário de formação de professores do ensino médio cursado em 1913, assim como uma parte dos gastos com a universidade foram custeados pela mãe Ida Amalia. A maior parte dos custos com os cursos de Língua e Literatura Alemã, Filosofia e Teatro pôde ser financiada pela “bolsa de estudos dourada” (Goldenes Stipendium) da cidade de Dresden. Tendo em conta a condição social da família, educação e cultura não eram de forma alguma natural e só foram conquistadas com muito sacrifício.
A Primeira Guerra Mundial foi um acontecimento marcante na trajetória de Erich Kästner. No seu livro autobiográfico escreveu: “A Primeira Guerra Mundial começou, e minha infância acabou.” Ele sempre foi consciente quanto a importância da infância e o poder de destruição da guerra e muitas vezes descreveu sua própria infância como “era dourada”. Ao longo da vida de Kästner, sua mãe Ida Amalia costumava alugar quartos do seu apartamento, geralmente para pedagogos. Isso contribuiu bastante com o desejo de Kästner de se tornar professor. Na escola, apesar da violência dos professores, este desejo permaneceu. Em 1917, suas experiências cruéis durante a formação militar para a Primeira Guerra Mundial fizeram dele um opositor decidido a todos os sistemas autoritários e um convencido e engajado pacifista. Após o seminário de formação de professores que cursou em Dresden – um internato com formas de vida e de comportamento similares às do exército – ele percebeu que a “instrução para subordinados” contradizia completamente com suas ideias sobre a pedagogia. Em uma de suas publicações, escreveu que não havia nada mais destrutivo para a cultura do que esta ditadura policial em áreas [...] da educação. Como consequência largou o seminário pouco antes de concluí-lo e, assim também, seu desejo pela profissão. Mas como autor de literatura infantil pôde seguir seu desejo de trabalhar como pedagogo e assim influenciar de forma ativa o desenvolvimento da sociedade, que considerou componentes essenciais da sua intervenção política.
Com o Nazismo, ficou cada vez mais difícil se posicionar criticamente contra o governo ou se assumir antimilitarista. Durante sua longa estada em Berlim, teve que presenciar seus livros serem queimados. Com isso foi obrigado a renunciar a qualidade pedagógica no seu trabalho e teve que produzir exclusivamente literatura infantil de entretenimento, que não fosse ofensiva aos nazistas. Em 1942, por ter sido proibido de escrever, teve que renunciar até mesmo os roteiros para a adaptação para o cinema do seu livro Das doppelte Löttchen (Cachos e tranças, Pavio, 2009). Só após a guerra, ele pôde retomar este trabalho. Durante a guerra, exilou-se na Suíça, onde não permaneceu por muito tempo, retornando pouco tempo depois à sua terra natal; porque acreditava que a cultura alemã era a única com a qual se identificava de verdade. “Sou como uma árvore que cresceu na Alemanha. Se necessário for, morrerei na Alemanha.” Suspeita-se que sua mãe tenha sido o motivo real do seu retorno à Alemanha. Quando a guerra acabou, mudou-se para Munique e lá se engajou no recomeço da vida literária. Como jornalista e cabaretista, produziu comentários críticos sobre acontecimentos políticos e sociais durante a fase da “reconstrução”, formação e consolidação da Repúblida Federal. Ele nunca pôde encontrar uma verdadeira relação com a literatura do pós-guerra, o que provavelmente era uma razão de seus problemas com o álcool, que o levaram a produzir cada vez menos.
Além de livros infantis escreveu romances e poemas crítico-satíricos para adultos. No entanto, seu público-alvo sempre foi mais as crianças e os jovens. Foi editor da revista juvenil Pinguin, escreveu roteiros e foi narrador em diversas adaptações de suas obras para o cinema. Embora Kästner nunca tenha se casado, teve longos relacionamentos e um filho chamado Thomas, a quem dedicou sua obra Der kleine Mann (O homenzinho, tradução livre, 1963).
"O homem é bom. E por isso ele vai mal. Pois se ele estivesse melhor, ele seria mau."[1]
"A política – mais a sua direção conservadora – começou de uma maneira insuportável a ter a tutela do espírito. Porém nada parece mais destrutivo para as culturas que essa economia policial em áreas do pensamento, da arte e da educação."[2]
"Vida sempre é risco de vida."[3]
"Não há nada de bom, a menos que alguém faça algo de bom."[4]
[1] Tradução livre. Gesammelte Werke Band I Gedichte, Der Mensch ist gut, Munique : dtv, p. 34
[2] Tradução livre. Gesammelte Werke Band VI Publizistik, Die Jugend als Vorwand, Munique : dtv, p. 61
[3] Tradução livre. Gesammelte Werke Band I Gedichte, Munique : dtv, p. 271
[4] Tradução livre. Gesammelte Werke Band I Gedichte, Munique : dtv, p. 277
„Às vezes sério, às vezes estranho, às vezes picante, Kaminer conta suas histórias com uma observação precisa e seu lendário encanto enigmático.” Wilhelmshavener Zeitung
Wladimir Kaminer diz sobre si mesmo "um russo na vida privada e profissionalmente um escritor alemão", o que revela muito sobre sua identidade, mas também sobre sua maneira típica de se expressar: em poucas palavras, com seu próprio senso de humor, que usa habilmente para chamar a atenção de seus leitores para os absurdos e aspectos inusitados da vida cotidiana. Isso contribuiu para a sua popularidade junto ao público alemão ter durado mais de 20 anos e ter conseguido conquistar muitos fãs internacionalmente.
Depois de concluir seu treinamento como engenheiro de som para teatro e rádio em sua cidade natal, Moscou, Kaminer mudou-se para Berlim em 1990, onde vive até hoje. Durante seus estudos, teve vários empregos temporários, entre eles, na cena musical de Moscou. Ele também esteve envolvido em vários eventos musicais e literários em Berlim, incluindo Kaffee Burger no "Reformbühne Heim & Welt" e mais tarde a conhecida "Balada russa (Russendisko)". Até hoje, o animador é tão pronunciado nele quanto o escritor. Suas turnês de leitura e aparições públicas são tão populares, porque ele sabe como entreter seu público - um aspecto importante aqui é o fato de que ele sempre tira inspiração para suas histórias de sua própria vida e das pessoas de seu ambiente, o que cria uma intimidade especial entre autor e público.
Desde a publicação de seu primeiro best-seller Balada russa (Editora Globo, 2005), que conta as experiências bizarras de três russos recém-chegados a uma Berlim confusa após a queda do Muro, a literatura alemã contemporânea não pode ser pensada sem Wladimir Kaminer. Nas décadas seguintes produziu inúmeros outros best-sellers, além de várias contribuições jornalísticas e aparições em rádio, televisão e internet. Em 2012, a comédia Balada russa, de Oliver Ziegenbalg, baseada nas histórias de Kaminer, tornou-se um sucesso de cinema.
A coletânea de contos Meu livro da selva alemã (tradução livre, Mein deutsches Dschungelbuch. Goldmann, 2003) descreve curiosidades do interior alemão que Kaminer coletou em suas muitas turnês de leitura. Semelhante às anedotas e insights do Ich bin kein Berliner : um guia de viagem para turistas preguiçosos (tradução livre, Ich bin kein Berliner : ein Reiseführer für faule Touristen. Goldmann, 2007) , Minha vida no jardim do loteamento (tradução livre, Mein Leben im Schrebergarten. Goldmann, 2007) e Saudações de amor da Alemanha (tradução livre, Liebesgrüße aus Deutschland. Goldmann, 2011), o autor abre os olhos do leitor para os aspectos engraçados, ridículos e encantadores da cultura alemã e dos estudos regionais com a visão diferenciada de um imigrante. Mas as idiossincrasias russas também são examinadas de perto, por exemplo, em Meus vizinhos russos (tradução livre, Meine russischen Nachbarn. Goldmann, 2009) ou Minha sogra caucasiana (tradução livre, Meine kaukasische Schwiegermutter. Goldmann, 2010).
A coexistência e a convivência intercultural estão entre os temas mais populares do autor e fornecem material ilimitado para teorias e reflexões fascinantes. Em entrevista, Kaminer comentou que o mundo inteiro parece estar em movimento no momento, com turistas e refugiados formando os dois maiores grupos. Em 2018, ele publicou dois livros que tratam exatamente desses dois grupos: Os cruzados (tradução livre, Die Kreuzfahrer. Wunderraum, 2018) conta com muito cinismo o mundo aparentemente perfeito que até recentemente era encenado em inúmeros cruzeiros de luxo dos oceanos do mundo. Em forte contraste, é a Alemanha de todos os lugares - histórias de nossos novos vizinhos (tradução livre, Ausgerechnet Deutschland : Geschichten unserer neuen Nachbarn. Goldmann, 2018), em que Kaminer conta com humor as aproximações e demarcações de vários grupos e indivíduos que vieram para a Alemanha durante a onda de refugiados entre 2015 e 2018. Mesmo sendo assuntos polêmicos, o autor consegue colocar o público de bom humor e ao mesmo tempo estimulá-lo a refletir sobre as diferenças, semelhanças e a convivência.
Wladimir Kaminer vê "como sua missão científica entender o mundo em toda a sua diversidade". Para ele, o entendimento é o que nós humanos fazemos de melhor - em comparação aos animais. Seus títulos publicados mais recentemente seguem essa tradição e consistem de inúmeras anedotas que poderiam ser interpretadas como estudos de caso de convivência. Declarações de amor (tradução livre, Liebeserklärungen. Wunderraum, 2019) foca nas várias formas de amor romântico, enquanto Chapeuzinho Vermelho fuma na varanda : ...e outras histórias familiares (tradução livre, Rotkäppchen raucht auf dem Balkon : ...und andere Familiengeschichten. Goldmann, 2020) aborda deliberadamente as peculiaridades dos relacionamentos e atores dentro da família.
Ele recebeu vários prêmios por seu trabalho e seus livros aparecem regularmente nas listas de best-sellers alemães, embora ele mesmo advirta que estes não são "uma bússola para os leitores e nem um prêmio para os autores". Todos os seus livros estão disponíveis como áudio-livros, lidos por ele mesmo.
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"Todos fazem concessões na vida. A capacidade de compromisso e tolerância tornam o homem digno da sociedade humana."
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"Viajar é como pisar em um ancinho durante a jardinagem. Você se sente vivo."
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"A própria noção de "tolerância" pressupõe que se esteja cercado de retardatários, os quais se deve tolerar como se fosse o portador de uma cultura superior, mais elevada, que nunca se questiona."
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"Os cruzeiros são uma estranha mistura de empatia e bagunça. Durante o dia, as pessoas discutem as mudanças climáticas e a injustiça global. Elas sofrem, torcem pelo mundo. À noite festejam..."
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"A verdadeira revolução é a migração. O mundo inteiro parece estar em movimento neste momento. Se você pode ir para outro lugar, não faz sentido salvar seu estado."
"Ralf König ...embora famoso, tem o pé no chão, um contemporâneo agradável, que é inteligente sem paternalismos, um profissional, que brilha e se destaca exclusivamente nas suas obras, alguém que pode ser coquete e excitado, honesto e legal, e ele sempre se salva em sua melancolia." - Berliner Zeitung
Ralf König, um pessimista cultural autodeclarado, é um dos nomes mais conhecidos na cena de quadrinhos na Alemanha, na qual ele é conhecido acima de tudo por não se esquivar de temas difíceis, mas muito pelo contrário, por assumir precisamente estes como sua missão. No entanto, após quase meio século desenhando quadrinhos, ativismo e controvérsia, o humor ainda é o mais importante para ele, pelo qual é famoso muito além das fronteiras do país.
Embora ele tenha inicialmente concluído uma formação como carpinteiro, Ralf König decidiu-se contra uma carreira como artesão aos 21 anos de idade e começou a estudar na Academia Estadual de Arte em Düsseldorf. Hoje, o autor vive em Colônia há mais de 20 anos. Ainda como estudante, se envolveu ativamente no movimento gay e publicou suas primeiras histórias em quadrinhos em revistas como Rosa Flieder e Somix, que atingiram um público de leitores predominantemente gay.
Ele fez sua descoberta com o grande público com seu primeiro livro publicado por uma grande editora, O homem ideal (Editora Escuta, 1997) e sua continuação, Pretty Baby. Der bewegte Mann 2 (Rowohlt, 1988). Este sucesso foi notável não só porque a história era predominantemente sobre personagens gays e naquela época a homossexualidade ainda era um assunto tabu na Alemanha, mas também porque foi um dos primeiros quadrinhos alemães com mais de 100 páginas, um formato que só ganhou popularidade mais tarde, com o surgimento da graphic novel. No entanto, o livro se tornou tão popular que foi transformado em um sucesso de cinema pela Sönke Wortmann em 1994 e estreou como musical em Hamburgo em 2017.
Abordando questões como a AIDS em Super Paradise (Rowohlt, 1999), o casamento entre pessoas do mesmo sexo em E, agora os noivos podem se beijar (Via Lettera, 2007) e o encolhimento da libido masculina e outras anedotas da crise da meia-idade em Herbst in der Hose (Rowohlt, 2017. Outono nas calças, tradução livre), Ralf König ganhou reputação como um cronista do movimento gay. O renomado cineasta Rosa von Praunheim, que é uma das personalidades mais importantes do movimento gay na Alemanha, mostra no documentário König des Comics (2012) como Ralf König contribuiu significativamente com sua vida e obra para reduzir os preconceitos contra as pessoas LGBTQI+ e normalizar o tema na Alemanha.
Há alguns anos, Ralf König vem lidando com vários outros tópicos, que são negociados por seus personagens de nariz grande em histórias divertidas e sempre pesquisadas com muito cuidado. Por último, mas não menos importante, isso inclui a religião, na adaptação da história da criação e da expulsão do paraíso em Prototyp (Rowohlt, 2008) e a recontagem da famosa lenda de Colônia Elftausend Jungfrauen (Rowohlt, 2012. Onze mil virgens, tradução livre), mas também da evolução do homem e da associada destruição do meio ambiente em Stehaufmännchen (Rowohlt, 2019. Homenzinhos de pé, tradução livre).
As histórias ilustradas têm uma longa tradição na Alemanha, começando com o criador de Juca e Chico, Wilhelm Busch, que influenciou gerações de artistas - incluindo Ralf König. Com a publicação de Wilhelm Busch und die Folgen (Egmont Verlag, 2007. Wilhelm Busch e as consequências, tradução livre), em colaboração com alguns dos autores de quadrinhos alemães de maior sucesso da Alemanha, ele homenageou o 100º aniversário da morte de Busch com uma coleção de modernas adaptações de seus personagens mais populares.
Bem como seu lendário modelo, as personagens de Ralf König geralmente mostram características caricaturadas. As caricaturas, a representação exagerada de grupos ou mesmo de condições sociais, foram exploradas durante o Nacional-Socialismo, sobretudo para difundir propaganda antissemita e são, portanto, até hoje, vistas de forma particularmente crítica por muitas pessoas, especialmente na Alemanha, sob a lupa antifascista e frequentemente atacadas por um suposto potencial discriminatório.
Em 2019, Ralf König recebeu esta acusação de suas próprias séries quando foi acusado de discriminação contra minorias por um grupo LGBTIQ+. König usou este incidente como um impulso para pesquisar o politicamente correto e a fragmentação da comunidade queer, mas inicialmente se decidiu contra o processamento do material em uma história em quadrinhos.
Em vez disso, inspirado pela crise do Corona, ele começou a publicar no Facebook diariamente uma história em quadrinhos sobre suas personagens populares Konrad e Paul e suas experiências no isolamento domiciliar. As anedotas engraçadas, com as quais o autor conseguiu amenizar o isolamento social de muit@s leitor@s, encontraram tal popularidade que a editora Rowohlt decidiu publicá-las em uma antologia.
Entre os vários prêmios que o autor recebeu estão o Prêmio Wilhelm Busch, vários prêmios Max und Moritz, o último em 2019 pelo conjunto da obra. Seu trabalho foi traduzido em 15 idiomas e recebeu reconhecimento internacional, assim como o Prêmio para o melhor cenário no Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême na França e o Prêmio para a melhor longa história em Lucca, Itália. Em 2006 ele também recebeu o Prêmio Especial do Júri no Salão Internacional de Quadrinhos em Erlangen, Alemanha, por sua "declaração artística na controvérsia sobre as caricaturas de Mohammed", na qual ele falou de forma convincente pela liberdade de expressão.
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"Talvez a esperança não morra por último, mas o humor."
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"O que eu queria experimentar, mas não experimentei, eu desenhei. Mais uma vez, um brinde ao tédio."
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“Há mais de 25 anos eu venho desenhando quadrinhos "gays" e, embora eu nunca tenha tido a intenção de fazê-lo, esses livros às vezes se tornaram mediadores, o que provavelmente ajudou a preencher um pouco a lacuna entre "gay" e "heterossexual". Acabou de acontecer, suponho, através do trem de humor."
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"Mas porque o que eu faço é CARICATURA, com a inevitável característica inerente do exagero neste meio, você sempre encontrará algo em cada um dos meus livros para me reprovar."
„Kreitz, uma referência na cena de língua alemã, mostrou em seus quadrinhos, que frequentemente se passam na Alemanha do início do século 20, uma certa predileção por personagens de detetive, como por exemplo, seu retrato do assassino em série Haarmann. Com seu fino traço a lápis, ela combina sutilmente o mundo sombrio do cinema expressionista com a clareza da Nova Objetividade.“ Thomas von Steinaecker
Nascida em Hamburgo, iniciou sua carreira artística na Faculdade de Design da cidade e, mais tarde, na Parsons School of Design, em Nova Iorque, onde participou de um curso com Ken Landgraf intitulado How to Draw Comics the Marvel Way. Inspirada, ela retornou a Hamburgo no início dos anos 90 e inicialmente trabalhou com tiras para jornais – entre outros, participou do popular Ottifanten, produziu sua própria tira sob o título de Heiß und fettig (Quente e gorduroso, tradução livre) e lançou o primeiro volume da série em 3 partes sobre o surfista de metrô, Ralf.
A flexibilidade e versatilidade da autora se desenvolveram continuamente nos anos seguintes. Durante esse período, Isabel Kreitz colaborou com diversas editoras, jornais, iniciativas, autores e artistas, criando um portfólio incrivelmente diversificado de publicações e empolgando assim, um público-alvo e leitore excepcionalmente diversos.
Ela recebeu especial reconhecimento por suas adaptações literárias e graphic novels, como Die Entdeckung der Currywurst (Carlsen Verlag, 1996, A descoberta da currywurst, tradução livre), baseada na novela homônima de Uwe Timm e Sorge: o espião (Veneta, 2014) e por suas adaptações dos populares livros infantis de Erich Kästner, incluindo Der 35. Mai (Dressler Verlag, 2006, O 35 de maio, tradução livre) e Emil und die Detektive (Dressler Verlag, 2012, Emil e os detetives, tradução livre). Em Deutschland. Ein Bilderbuch (Dumont Buchverlag, 2011, Alemanha. Um livro ilustrado, tradução livre), ela demonstra o seu talento, de maneira impressionante, para descrever acontecimentos históricos. Nesta obra, ela cria uma visão excepcional dos momentos mais importantes da história contemporânea alemã dos últimos 70 anos.
Entre os prêmios, que a autora recebeu no decorrer de sua carreira, estão o Prêmio Alemão de Quadrinhos do Festival Internacional de Quadrinhos de Hamburgo (1997), o Prêmio Max e Moritz (2008) na categoria “Melhores Publicações em Quadrinhos em Língua Alemã para Crianças e Jovens”, o Prêmio Sondermann – prêmio do público da Feira do Livro de Frankfurt (2008) para o melhor quadrinho nacional e o Prêmio Max e Moritz (2012) na categoria “Melhor Desenhista Alemã”.
Apesar do sucesso, a autora conhece os desafios desse meio de quadrinhos. O contínuo debate sobre a validade desta forma de arte como literatura, os preconceitos dos leitores e críticos frente aos quadrinhos como forma de entretenimento e seu valor literário, e as dificuldades relacionadas de se manter com os quadrinhos, influenciam o trabalho criativo da artista, e assim ela também ilustra propaganda e campanhas. E isso ela descreve como “uma boa mistura de ganha-pão, empregos e desenho para a diversão, fama e honra” e vê como “muito agradável”.
Entre outros, suas obras lidam com crítica social, história, política e drama, sempre mostrando seu talento para discutir esses temas com humor e facilidade. Seu compromisso político, seu interesse pela história e seu amor pela cidade natal de Hamburgo são temas recorrentes em seu trabalho. Em 1996, ela publicou o quadrinho Unter uns (Entre nós, tradução livre) em colaboração com a Agência Estadual para a Educação Política de Hamburgo, para ensinar jovens sobre a dinâmica dos grupos de extrema-direita. Em 2017, trabalhou com o projeto Telefone de Ajuda – Gewalt gegen Frauen (Violência contra as mulheres) no quadrinho online Hinter Türen (Por trás das portas, tradução livre).
Não somente por conta da temática que ela aborda em seus quadrinhos, mas, acima de tudo, pela maneira como ela conta histórias, a obra de Kreitz oferece uma leitura desafiadora e estimulante. Ao ler, rapidamente se torna evidente que a artista pesquisa o tema extensivamente para transmitir ao leitor sua familiaridade com os cenários e as personagens. Seu estilo de desenho realista contribui ainda mais para isso, dando ao leitor uma visão única sobre a Hamburgo destruída do pós-guerra; a emoção de tirar o fôlego da vida de um espião soviético em Tóquio ou até mesmo as fabulosas aventuras criadas por Erich Kästner. Essa habilidade contribuiu para que Isabel Kreitz tenha se tornado uma referência na elite dos quadrinhos alemães há mais de duas décadas e para que seus lançamentos sejam sempre aguardados com grande expectativa.
"O quadrinho é um meio de ressuscitar mundos que não existem mais."
"Eu tiro a história da literatura, mas o modo como a conto, eu tiro do cinema."
"Sempre espero que as pessoas comprem os quadrinhos não por conta dos desenhos, mas do assunto ou da história. E, se elas estão interessadas em uma história, que também se adaptem a um estilo de desenho que não é tão confortável."
"Se uma história me agrada, então eu tento fazer meu próprio filme com isso. Quando criança já fazia isso com algumas histórias e no fundo continuo fazendo o mesmo hoje."
* 27 de março de 1871, Lübeck | † 11 de março de 1950, Santa Mônica (Califórnia)
O autor como crítico da sociedade. Heinrich Mann foi o primeiro a cunhar este papel na Alemanha e o preencheu com substância e dignidade conforme a cultura europeia. Há que se lembrar sempre de sua análise acerca do espírito alemão, quando as autoridades exigem nossa submissão. (Joachim Scholl)
Desde cedo, Heinrich Mann começou a escrever críticas e reflexões políticas. Teve uma juventude rebelde e abandonou o ensino médio, assim como a formação de livreiro - iniciada apenas para satisfazer seus pais - e o voluntariado em uma editora. Após uma série de fracassos na tentativa de seguir um caminho profissional padrão, decidiu morar em Munique, depois Berlim e algumas vezes na Itália, buscando trabalhar como escritor independente. Seus primeiros romances Im Schlaraffenland (Na terra da abundância, tradução livre, 1900), Die Göttinnen (As Deusas, tradução livre, 1903) e Die Jagd nach Liebe (A caça pelo amor, tradução livre, 1903) foram escritos no estilo fin-de-siècle, porém com um toque antissemita. No ano de 1904, publicou o romance Professor Unrat, uma caricatura da elite intelectual alemã da época. O autor mostrou a que ponto pode chegar a dúbia moral burguesa, quando entregue a valores superficiais, e a obra tornou-se um registro sobre a mentalidade alemã antes das duas grandes guerras.
Heinrich Mann foi o primeiro de cinco filhos de uma família de negociantes considerada, à época, uma das mais nobres de Lübeck. Sua mãe, Julia Silva-Bruhns, emigrou do Brasil para Alemanha ainda na infância. Apesar das raízes brasileiras na vida de Mann, suas obras nunca revelaram alguma possível influência cultural. A fazenda onde sua mãe vivera os primeiros anos de vida, ainda existe em Paraty, mas está abandonada.
Seu pai, Thomas Johann Heinrich Mann, foi senador para assuntos financeiros e proprietário de uma grande empresa comercial. A riqueza da família Mann se extinguiu com a morte do patriarca e o concomitante e inevitável fechamento de sua empresa. Este declínio social foi documentado pelo irmão de Heinrich e também escritor, Thomas Mann, no romance Buddenbrooks (Os Buddenbrooks: decadência de uma família, Companhia das Letras, 2016). Só após esse declínio e degradação, os dois irmãos passaram a se dedicar verdadeiramente à literatura, ainda que em diferentes direções.
O conservadorismo no sentido político já habitava o meio social da família Mann. Possivelmente esse fora um motivo pelo qual Thomas se deixou levar pela empolgação das massas para a guerra, antes que ela de fato estourasse. Heinrich, ao contrário, se rebelou desde cedo contra formas de pensamento militarista e imperialista. Essas divergências de opinião resultaram numa interrupção de contato, durante muito tempo, entre os dois irmãos. Só após a Primeira Guerra, quando Thomas se revelou abertamente a favor da República de Weimar e seus valores democráticos, deu-se a reaproximação. Com o fim da guerra, o livro Der Untertan (O súdito, Mundaréu, 2014), que antes sofrera censura, passou a ser vendido a milhares de pessoas. Mesmo com o súbito sucesso, Heinrich não se acomodou. Continuou a luta mantendo postura crítica, engajado pela jovem democracia, pela compensação com a França e por uma organização intergovernamental (“Völkerbund”) que tinha como objetivos a paz, o desarmamento internacional e a segurança coletiva. O filme O anjo azul (1930), protagonizado por Marlene Dietrich, foi baseado em seu romance Professor Unrat, aquele escrito em 1904.
Quando Hitler passou a ganhar cada vez mais aprovação e apoiadores do povo alemão, Heinrich já havia se dado conta do perigo. Após a tomada de poder e sua exclusão da Academia das Artes, o escritor se exilou na França. No mesmo ano, foi privado de sua cidadania alemã. O exílio na França redobrou suas forças publicistas na luta contra os nazistas, mas, por conta das circunstâncias precárias resultantes da invasão alemã, se viu obrigado a seguir em fuga para os Estados Unidos. Essa decisão salvou a vida de Heinrich, mas o levou à pobreza e à solidão, pois não conseguiu se sustentar com a profissão e acabou ficando financeiramente dependente do irmão Thomas (o apoio foi mantido de forma discreta para que Heinrich não se sentisse humilhado). Além dos problemas existenciais, a queima dos seus livros e a perda da identidade pela expatriação, Heinrich enfrentou uma série de fatalidades em sua vida privada. Suas duas irmãs, Carla e Julia, cometeram suicídio ainda antes da Segunda Guerra. No exílio, sua esposa Nelly Schröder, após um longo período de dependência alcoólica, tomou a mesma decisão.
Foram inúmeras as vezes em que Heinrich Mann foi ensombrado pela figura do irmão, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, Thomas Mann. Talvez as opiniões políticas de Heinrich tenham colaborado para isso, por ser visto como um radical esquerdista. É possível que suas severas críticas sociais tenham distraído a recepção de sua obra, enquanto Thomas, se abstendo da plataforma política, pode alcançar um público maior.
A volta de Heinrich Mann para a Alemanha, após a Segunda Guerra, era esperada pelo governo socialista da antiga Alemanha Oriental, que desejava nomeá-lo presidente da Academia das Artes Alemãs. Mas isso nunca chegou a acontecer. Heinrich Mann faleceu antes de retornar, em 1949, nos Estados Unidos e nunca pôde receber a honra merecida.
"Democracia, no fundo, é o reconhecimento de que todos nós, de modo social, somos responsáveis uns pelos outros." [1]
"A República é [...] o Estado aberto aos pensamentos. Não tem dogma, nem o deve ter; pois esse Estado é a expressão relativa às pessoas, de ordem mutável. Falta-lhe a hereditariedade do poder. Para isso, ele tem o direito à ideia." [2]
"A República tem de manter o sentido aberto. Tem de continuar sendo livre adaptando-se a novas ordens mentais e econômicas." [3]
[1] Tradução livre. Der tiefere Sinn der Republik, in: Mann, Heinrich. Essays. Berlim : Claassen Verlag, 1960. p. 547
[2] Tradução livre. Der tiefere Sinn der Republik, in: Mann, Heinrich. Essays. Berlim : Claassen Verlag, 1960. p. 545
[3] Tradução livre. Der tiefere Sinn der Republik, in: Mann, Heinrich. Essays. Berlim : Claassen Verlag, 1960. p. 545
O autor como crítico da sociedade. Heinrich Mann foi o primeiro a cunhar este papel na Alemanha e o preencheu com substância e dignidade conforme a cultura europeia. Há que se lembrar sempre de sua análise acerca do espírito alemão, quando as autoridades exigem nossa submissão. (Joachim Scholl)
Desde cedo, Heinrich Mann começou a escrever críticas e reflexões políticas. Teve uma juventude rebelde e abandonou o ensino médio, assim como a formação de livreiro - iniciada apenas para satisfazer seus pais - e o voluntariado em uma editora. Após uma série de fracassos na tentativa de seguir um caminho profissional padrão, decidiu morar em Munique, depois Berlim e algumas vezes na Itália, buscando trabalhar como escritor independente. Seus primeiros romances Im Schlaraffenland (Na terra da abundância, tradução livre, 1900), Die Göttinnen (As Deusas, tradução livre, 1903) e Die Jagd nach Liebe (A caça pelo amor, tradução livre, 1903) foram escritos no estilo fin-de-siècle, porém com um toque antissemita. No ano de 1904, publicou o romance Professor Unrat, uma caricatura da elite intelectual alemã da época. O autor mostrou a que ponto pode chegar a dúbia moral burguesa, quando entregue a valores superficiais, e a obra tornou-se um registro sobre a mentalidade alemã antes das duas grandes guerras.
Heinrich Mann foi o primeiro de cinco filhos de uma família de negociantes considerada, à época, uma das mais nobres de Lübeck. Sua mãe, Julia Silva-Bruhns, emigrou do Brasil para Alemanha ainda na infância. Apesar das raízes brasileiras na vida de Mann, suas obras nunca revelaram alguma possível influência cultural. A fazenda onde sua mãe vivera os primeiros anos de vida, ainda existe em Paraty, mas está abandonada.
Seu pai, Thomas Johann Heinrich Mann, foi senador para assuntos financeiros e proprietário de uma grande empresa comercial. A riqueza da família Mann se extinguiu com a morte do patriarca e o concomitante e inevitável fechamento de sua empresa. Este declínio social foi documentado pelo irmão de Heinrich e também escritor, Thomas Mann, no romance Buddenbrooks (Os Buddenbrooks: decadência de uma família, Companhia das Letras, 2016). Só após esse declínio e degradação, os dois irmãos passaram a se dedicar verdadeiramente à literatura, ainda que em diferentes direções.
O conservadorismo no sentido político já habitava o meio social da família Mann. Possivelmente esse fora um motivo pelo qual Thomas se deixou levar pela empolgação das massas para a guerra, antes que ela de fato estourasse. Heinrich, ao contrário, se rebelou desde cedo contra formas de pensamento militarista e imperialista. Essas divergências de opinião resultaram numa interrupção de contato, durante muito tempo, entre os dois irmãos. Só após a Primeira Guerra, quando Thomas se revelou abertamente a favor da República de Weimar e seus valores democráticos, deu-se a reaproximação. Com o fim da guerra, o livro Der Untertan (O súdito, Mundaréu, 2014), que antes sofrera censura, passou a ser vendido a milhares de pessoas. Mesmo com o súbito sucesso, Heinrich não se acomodou. Continuou a luta mantendo postura crítica, engajado pela jovem democracia, pela compensação com a França e por uma organização intergovernamental (“Völkerbund”) que tinha como objetivos a paz, o desarmamento internacional e a segurança coletiva. O filme O anjo azul (1930), protagonizado por Marlene Dietrich, foi baseado em seu romance Professor Unrat, aquele escrito em 1904.
Quando Hitler passou a ganhar cada vez mais aprovação e apoiadores do povo alemão, Heinrich já havia se dado conta do perigo. Após a tomada de poder e sua exclusão da Academia das Artes, o escritor se exilou na França. No mesmo ano, foi privado de sua cidadania alemã. O exílio na França redobrou suas forças publicistas na luta contra os nazistas, mas, por conta das circunstâncias precárias resultantes da invasão alemã, se viu obrigado a seguir em fuga para os Estados Unidos. Essa decisão salvou a vida de Heinrich, mas o levou à pobreza e à solidão, pois não conseguiu se sustentar com a profissão e acabou ficando financeiramente dependente do irmão Thomas (o apoio foi mantido de forma discreta para que Heinrich não se sentisse humilhado). Além dos problemas existenciais, a queima dos seus livros e a perda da identidade pela expatriação, Heinrich enfrentou uma série de fatalidades em sua vida privada. Suas duas irmãs, Carla e Julia, cometeram suicídio ainda antes da Segunda Guerra. No exílio, sua esposa Nelly Schröder, após um longo período de dependência alcoólica, tomou a mesma decisão.
Foram inúmeras as vezes em que Heinrich Mann foi ensombrado pela figura do irmão, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, Thomas Mann. Talvez as opiniões políticas de Heinrich tenham colaborado para isso, por ser visto como um radical esquerdista. É possível que suas severas críticas sociais tenham distraído a recepção de sua obra, enquanto Thomas, se abstendo da plataforma política, pode alcançar um público maior.
A volta de Heinrich Mann para a Alemanha, após a Segunda Guerra, era esperada pelo governo socialista da antiga Alemanha Oriental, que desejava nomeá-lo presidente da Academia das Artes Alemãs. Mas isso nunca chegou a acontecer. Heinrich Mann faleceu antes de retornar, em 1949, nos Estados Unidos e nunca pôde receber a honra merecida.
"Democracia, no fundo, é o reconhecimento de que todos nós, de modo social, somos responsáveis uns pelos outros." [1]
"A República é [...] o Estado aberto aos pensamentos. Não tem dogma, nem o deve ter; pois esse Estado é a expressão relativa às pessoas, de ordem mutável. Falta-lhe a hereditariedade do poder. Para isso, ele tem o direito à ideia." [2]
"A República tem de manter o sentido aberto. Tem de continuar sendo livre adaptando-se a novas ordens mentais e econômicas." [3]
[1] Tradução livre. Der tiefere Sinn der Republik, in: Mann, Heinrich. Essays. Berlim : Claassen Verlag, 1960. p. 547
[2] Tradução livre. Der tiefere Sinn der Republik, in: Mann, Heinrich. Essays. Berlim : Claassen Verlag, 1960. p. 545
[3] Tradução livre. Der tiefere Sinn der Republik, in: Mann, Heinrich. Essays. Berlim : Claassen Verlag, 1960. p. 545
* 18 de maio de 1944 em Wertach | † 14 de dezembro de 2001 em Norfolk, Inglaterra
“O maravilhoso empreendimento do escritor W. G. Sebald foi a desaceleração – a ‘desaceleração’ seria a melhor expressão para essa tentativa particular de fazer uma pausa na devoção mundana altamente refletida.” Thomas Steinfeld
Como escritor, era conhecido como W. G. Sebald, porque de acordo com suas próprias declarações, ele rejeitou seus nomes cristãos Winfried Georg, uma vez que estes o lembravam demais do passado alemão nacional-socialista. Ele, portanto, preferiu usar o nome Max Sebald. Um dos temas centrais de seus escritos é o estudo dos desastres históricos e naturais e seu impacto na sociedade, muitas vezes no contexto da Segunda Guerra Mundial e do pós-guerra.
O autor passou sua infância na idílica paisagem montanhosa perto da fronteira com a Áustria e muitas de suas histórias refletem um certo fascínio e anseio por esse lugar impressionante, sua primeira pátria. Após estudar Letras (alemão e inglês) na Universidade de Freiburg, mudou-se em 1965 para a Universidade de Friburgo na Suíça e, depois de se formar, emigrou para a Inglaterra, onde passou a maior parte de sua vida.
Referências a seus motivos para essa mudança podem ser encontradas em sua obra, na qual narrador e autor, muitas vezes, não aparecem separados. Por exemplo, em Vertigem, sensações (Companhia das Letras, 2008), ele descreveu “...viajava pelo interior alemão, que sempre me foi incompreensível, ordenado e retificado como era até o último recanto. Tudo me parecia aplacado e entorpecido de uma forma maligna, e a sensação de torpor se apoderou também de mim.” (tradução de José Marcos Macedo). Em Os emigrantes (Record, 2002), ele descreveu como sentia “cada vez mais que o empobrecimento espiritual que me rodeava, e a falta de memória dos alemães, a habilidade com que tudo fora removido e limpo, começavam a atacar meus nervos e minha cabeça. Portanto decidi adiantar minha partida...“ (tradução de Lya Luft)
Quando Sebald começou a escrever nos anos 80, ele recebeu especial reconhecimento nos EUA e na Inglaterra, embora nunca tenha escrito em inglês. Seus textos foram traduzidos para o inglês em estreita colaboração com tradutores selecionados, como seu amigo Michael Hamburger e Anthea Bell. Hoje há um grande interesse internacional pelo seu trabalho, que foi traduzido em inúmeras línguas e em muitos países do mundo é publicada literatura sobre o escritor W. G. Sebald e sua obra.
Em meados da década de 1970, Sebald retornou temporariamente para a Alemanha, a fim de se formar como professor de alemão no Goethe-Institut em Munique. A partir da década de 1980 promoveu cada vez mais o ensino de literatura em língua alemã na Grã-Bretanha e em países de língua inglesa e em 1989 fundou o Centro Britânico de Tradução Literária na Universidade de East Anglia.
Muitos de seus textos são acompanhados por fotografias melancólicas - muitas vezes fotografias de paisagens, mas também objetos e retratos de épocas passadas. Essas e outras técnicas, como a desaceleração intencional através do uso de fragmentos de texto em inglês e francês e um fluxo rítmico de palavras, que muitas vezes se derrama em frases excepcionalmente longas, dão a seus escritos o efeito encantador de colocar o leitor em um tipo de estado de sonho. Em seu romance Austerlitz (Companhia das Letras, 2008), que conta a história de um menino tcheco que, durante a Segunda Guerra Mundial veio para a Inglaterra em um transporte para crianças e só aprende sobre seu passado na vida adulta, o autor produziu infamemente uma frase de nove páginas – Austerlitz é considerada por muitos como o ápice literário e linguístico da prosa “sebaldesca”.
Na Alemanha, Sebald se tornou mais conhecido um pouco tardiamente, enquanto nos Estados Unidos, na Inglaterra e na França causou sensação generalizada já em 1988 com seu texto Depois da natureza: um poema elementar (Fischer Verlag, 1988, tradução livre). Entre outros, Sebald ganhou o Prêmio de Literatura de Berlim em 1994 e o Prêmio Heinrich Böll em 1997, e em 1996 foi admitido na Academia Alemã de Língua e Literatura e dois anos mais tarde aceito na Academia de Belas Artes da Baviera. Morreu tragicamente, no auge da sua carreira, quando no inverno de 2001, aos 57 anos de idade, sofreu um infarto. Entre outros, os títulos Unerzählt (com Jan Peter Tripp, Hanser Verlag, 2003) e o livro de poemas Über das Land und das Wasser (Fischer Verlag, 2008) foram publicados postumamente e infelizmente dão muito pouca visão sobre a versatilidade e a magia da obra inacabada de W. G. Sebald.
"Eu aprendi com as pinturas do Tripp que é preciso olhar para as profundezas, que a arte não pode prescindir sem o ofício e que se deve contar com muitas dificuldades ao enumerar as coisas."
"O que está no passado tem a mesma distância para a nossa existência hoje."
"No entanto, naquela época, ao ler, eu já tive o sentimento de que, em face às grandes catástrofes que aconteceram, há muito pouco nesses livros, que eles representaram algo como um déficit de experiência prudentemente gerenciado."
“O maravilhoso empreendimento do escritor W. G. Sebald foi a desaceleração – a ‘desaceleração’ seria a melhor expressão para essa tentativa particular de fazer uma pausa na devoção mundana altamente refletida.” Thomas Steinfeld
Como escritor, era conhecido como W. G. Sebald, porque de acordo com suas próprias declarações, ele rejeitou seus nomes cristãos Winfried Georg, uma vez que estes o lembravam demais do passado alemão nacional-socialista. Ele, portanto, preferiu usar o nome Max Sebald. Um dos temas centrais de seus escritos é o estudo dos desastres históricos e naturais e seu impacto na sociedade, muitas vezes no contexto da Segunda Guerra Mundial e do pós-guerra.
O autor passou sua infância na idílica paisagem montanhosa perto da fronteira com a Áustria e muitas de suas histórias refletem um certo fascínio e anseio por esse lugar impressionante, sua primeira pátria. Após estudar Letras (alemão e inglês) na Universidade de Freiburg, mudou-se em 1965 para a Universidade de Friburgo na Suíça e, depois de se formar, emigrou para a Inglaterra, onde passou a maior parte de sua vida.
Referências a seus motivos para essa mudança podem ser encontradas em sua obra, na qual narrador e autor, muitas vezes, não aparecem separados. Por exemplo, em Vertigem, sensações (Companhia das Letras, 2008), ele descreveu “...viajava pelo interior alemão, que sempre me foi incompreensível, ordenado e retificado como era até o último recanto. Tudo me parecia aplacado e entorpecido de uma forma maligna, e a sensação de torpor se apoderou também de mim.” (tradução de José Marcos Macedo). Em Os emigrantes (Record, 2002), ele descreveu como sentia “cada vez mais que o empobrecimento espiritual que me rodeava, e a falta de memória dos alemães, a habilidade com que tudo fora removido e limpo, começavam a atacar meus nervos e minha cabeça. Portanto decidi adiantar minha partida...“ (tradução de Lya Luft)
Quando Sebald começou a escrever nos anos 80, ele recebeu especial reconhecimento nos EUA e na Inglaterra, embora nunca tenha escrito em inglês. Seus textos foram traduzidos para o inglês em estreita colaboração com tradutores selecionados, como seu amigo Michael Hamburger e Anthea Bell. Hoje há um grande interesse internacional pelo seu trabalho, que foi traduzido em inúmeras línguas e em muitos países do mundo é publicada literatura sobre o escritor W. G. Sebald e sua obra.
Em meados da década de 1970, Sebald retornou temporariamente para a Alemanha, a fim de se formar como professor de alemão no Goethe-Institut em Munique. A partir da década de 1980 promoveu cada vez mais o ensino de literatura em língua alemã na Grã-Bretanha e em países de língua inglesa e em 1989 fundou o Centro Britânico de Tradução Literária na Universidade de East Anglia.
Muitos de seus textos são acompanhados por fotografias melancólicas - muitas vezes fotografias de paisagens, mas também objetos e retratos de épocas passadas. Essas e outras técnicas, como a desaceleração intencional através do uso de fragmentos de texto em inglês e francês e um fluxo rítmico de palavras, que muitas vezes se derrama em frases excepcionalmente longas, dão a seus escritos o efeito encantador de colocar o leitor em um tipo de estado de sonho. Em seu romance Austerlitz (Companhia das Letras, 2008), que conta a história de um menino tcheco que, durante a Segunda Guerra Mundial veio para a Inglaterra em um transporte para crianças e só aprende sobre seu passado na vida adulta, o autor produziu infamemente uma frase de nove páginas – Austerlitz é considerada por muitos como o ápice literário e linguístico da prosa “sebaldesca”.
Na Alemanha, Sebald se tornou mais conhecido um pouco tardiamente, enquanto nos Estados Unidos, na Inglaterra e na França causou sensação generalizada já em 1988 com seu texto Depois da natureza: um poema elementar (Fischer Verlag, 1988, tradução livre). Entre outros, Sebald ganhou o Prêmio de Literatura de Berlim em 1994 e o Prêmio Heinrich Böll em 1997, e em 1996 foi admitido na Academia Alemã de Língua e Literatura e dois anos mais tarde aceito na Academia de Belas Artes da Baviera. Morreu tragicamente, no auge da sua carreira, quando no inverno de 2001, aos 57 anos de idade, sofreu um infarto. Entre outros, os títulos Unerzählt (com Jan Peter Tripp, Hanser Verlag, 2003) e o livro de poemas Über das Land und das Wasser (Fischer Verlag, 2008) foram publicados postumamente e infelizmente dão muito pouca visão sobre a versatilidade e a magia da obra inacabada de W. G. Sebald.
"Eu aprendi com as pinturas do Tripp que é preciso olhar para as profundezas, que a arte não pode prescindir sem o ofício e que se deve contar com muitas dificuldades ao enumerar as coisas."
"O que está no passado tem a mesma distância para a nossa existência hoje."
"No entanto, naquela época, ao ler, eu já tive o sentimento de que, em face às grandes catástrofes que aconteceram, há muito pouco nesses livros, que eles representaram algo como um déficit de experiência prudentemente gerenciado."
“Quando Ilya Ehrenburg, Pablo Neruda e eu éramos três amigos inseparáveis, o tempo todo considerávamos Anna Seghers a nossa irmã, nossa fada. Ela dizia, nós seríamos os três ursos; e ninguém no mundo tinha tanto charme e fantasia como Anna – tanto, tanto! Anna foi capaz de povoar a imensa solidão e erguer a bandeira da vida e da esperança.” – Jorge Amado, 1983
Anna Seghers nasceu Annette (Netti) Reiling em uma família de comerciantes judeus e na juventude teve uma boa vida de classe média na cidade de Mainz no rio Reno. Ela se tornou uma das vozes mais famosas da resistência e da literatura de exílio. Após sua re-migração, ela atuou por muitos anos no movimento pela paz e no conselho da Associação de Escritores da RDA. Ela mesma identificou "duas linhas" que aparecem ao longo de seu trabalho: mitos e lendas, por um lado, e por outro, o que a marcou particularmente em um certo ponto de sua vida; a impressão original nomeada por Goethe. Nos seus trabalhos mais tardios, isso amadureceu para um conceito de realidade expandido.
Seu talento narrativo e lírico foi descoberto e promovido muito cedo por seus professores. Pouco antes de completar 24 anos, ela doutorou-se em filosofia pela Universidade de Heidelberg. Ao mesmo tempo, ela publicou as primeiras histórias e conheceu o intelectual húngaro László Radványi, com quem se casou em 1925, e que lhe deu não apenas a cidadania húngara, mas também uma forte politização e estreito contato com o movimento socialista. Os novos impulsos intelectuais que retirou de seu tempo de estudos, de suas amizades e de seu casamento foram decisivos para ela deixar a comunidade judaica em 1925 e ingressar no Partido Comunista da Alemanha (KPD) em 1928.
Com A rebelião dos pescadores de Santa Bárbara (tradução livre, Kiepenheuer, 1928), ela alcançou êxito literário, pelo qual recebeu como Anna Seghers o prestigiado Prêmio Kleist. No entanto, a tomada do poder por Hitler afetou a sua carreira abruptamente - seus livros foram proibidos e queimados pelos fascistas, e ela foi presa temporariamente pela Gestapo. Após o incêndio no Parlamento Alemão, ela reconheceu o perigo e fugiu inicialmente, via Zurique, para Paris e depois para o México, via Marselha, Caribe e Nova York. A experiência da fuga foi reavaliada pela Seghers no romance Em trânsito (Paz e Terra, 1987), que foi transformado em filme pelo diretor alemão Christian Petzold em 2019 e mostra o quão relevante é o conteúdo de Seghers ainda hoje, tendo em vista o número crescente de refugiados.
A expulsão de sua terra natal levou a um aprofundamento do "Vaterlandsliebe" (amor pela terra natal) de Anna Seghers, o que ela descreveu em detalhe durante um discurso em 1935 no 1º Congresso Internacional de Escritores em Defesa da Cultura. O discurso ainda é considerado um documento importante sobre as tensões muito discutidas entre resistência e patriotismo no Terceiro Reich. Juntamente com Heinrich Mann e outros escritores influentes, Seghers também esteve envolvida na fundação do círculo Lutetia em Paris, um comitê para a preparação do grupo de resistência Deutsche Volksfront, que chamou todos os oponentes de Hitler para resistir aos nacional-socialistas e restaurar a democracia e a liberdade na Alemanha.
No exílio, Seghers escreveu seus trabalhos mais bem-sucedidos, incluindo o romance A salvação (tradução livre, Querido Verlag, Amsterdã 1937), Em trânsito (Paz e Terra, 1987), O passeio das meninas mortas e outras histórias (tradução livre, Aurora, Nova York 1946) e o romance de sucesso mundial A sétima cruz (Martins Fontes, 1942), filmado em 1944 em Hollywood, com Spencer Staci no papel principal, garantindo uma renda estável durante seu tempo no exílio.
Apesar desse reconhecimento mundial, Anna Seghers quase não foi lida na antiga Alemanha Ocidental, o que geralmente é explicado pela lacuna cultural entre o Oriente e o Ocidente. Ela mesma era da opinião, como muitos camaradas, de que a Alemanha Ocidental não administrava adequadamente seu passado fascista, enquanto a Alemanha Oriental representava o único legado antifascista verdadeiro. Portanto, não surpreende que, após seu retorno do exílio, tenha se estabelecido em Berlim Oriental, de onde queria continuar a luta por uma sociedade mais justa. Nos anos 60, ela viajou repetidamente pelas Américas, também veio duas vezes ao Brasil, viagens que inspiraram, entre outros, o romance Travessia: uma história de amor (Ed. UFPR, 2013).
Ela recebeu inúmeros títulos e cargos políticos de honra e tornou-se um ícone da cena literária da RDA, mas, ao longo dos anos, alguns de seus leitores e colegas expressaram decepção, por ela nunca expressar publicamente suas críticas ao regime da RDA cada vez mais autoritário e assim tornou-se uma espécie de figurante sem verdadeira influência política. Há muita especulação sobre suas razões para esse silêncio, é provável que seu destaque tenha trazido maior atenção e vigilância da Stasi e a forçado a se proteger. É claro que esse conflito entre sua aspiração para criar uma sociedade justa e sua vontade de sobreviver foi um grande desafio para ela, como sugere repetidamente em algumas de suas narrativas posteriores. Quando morreu em 1983, aos 82 anos, ela já havia se tornado uma lenda da história alemã, sinônimo de resistência e luta contra a opressão.
"Nesta cidade onde passei a minha infância, recebi o que Goethe chama de impressão original: a primeira impressão que uma pessoa recebe de uma parte da realidade, seja o rio ou a floresta, as estrelas, as pessoas. Tentei capturar em muitos dos meus livros o que conheci e experimentei aqui.”
"Qual é o propósito de reprimir as pessoas que desejam nada mais do que deixar um país que as aprisiona quando ficam?"
"Se um pequeno truque pudesse ser realizado contra a onipotência do inimigo, então tudo já teria valido.”
"Todos nós sentimos o quão profundo e terrível os poderes exteriores podem alcançar o ser humano, até o seu âmago; mas também sentimos que há algo mais íntimo que é inatacável e invulnerável."
"Às vezes é terrível estar sozinha, mas quando trabalho, quando escrevo minhas histórias e romances, permaneço calma, corajosa e feliz."
"Na narrativa, Stanišić desenvolve um tremendo brilhantismo: ele não é um zombador destacadamente irônico, mas um comediante talentoso em cena. E ele considera cada um dos seus personagens com simpatia incondicional. Ele os leva a sério, mas os descreve com humor. Raramente se acha isso." Christoph Schröder
Saša Stanišić é hoje um dos jovens escritores de maior sucesso na Alemanha, destacando-se não apenas pelo número de prêmios literários ganhos ou por seu trabalho ter sido traduzido para mais de 30 idiomas em todo o mundo, mas principalmente pelo estilo de escrita marcante - poético, descritivo e inteligente. Ele cria personagens e cenários com tanto cuidado que a linha entre realidade e ficção desaparece.
Stanišić cresceu em uma pequena cidade a leste de Sarajevo, de onde sua família foi expulsa pela Guerra Civil da Bósnia. Desde 1992, mora na Alemanha, onde começou a aprender alemão aos 14 anos e, já em 1997, ingressou na universidade. Em Heidelberg, estudou alemão como língua estrangeira para ajudar outros refugiados a aprender alemão, o que não chegou a acontecer. Seguindo sua vocação para a escrita de poesia e prosa, perceptível desde o ensino médio, e encorajado por seu professor, decidiu, após seus estudos universitários, matricular-se no Instituto de Literatura Alemã, em Leipzig.
Nos anos seguintes, fez nome como jornalista, professor de escrita literária e autor. Em seu primeiro romance Como o soldado conserta o gramofone (Record, 2009), ele compartilha suas memórias como filho de uma mãe bósnia e um pai sérvio na antiga Iugoslávia, com observações sobre a guerra em erupção, afetando mais de 2 milhões de pessoas de seu país, e sua experiência em fugir para a Alemanha. A obra foi um grande sucesso, valendo-lhe vários prêmios e chegando à shortlist do Prêmio do Livro Alemão. (Se quiser saber mais sobre este livro, você pode encontrar alguns resumos e resenhas em vídeo excelentes em nosso canal GoeTube no YouTube)
Seu segundo romance Antes da Festa (Foz, 2015) se ocupa de histórias e personagens de uma pequena aldeia na região da Uckermark e convida o leitor a experimentar, de uma maneira tragicamente engraçada, as peculiaridades de um microcosmo rural. Ainda antes da publicação, essa obra ganhou o prestigiado Prêmio Alfred Döblin, subsequentemente o Prêmio de Literatura de Hohenems e, finalmente, o prêmio da Feira do Livro de Leipzig de 2014. No início deste ano, o Teatro Thalia premiou a adaptação da obra para o teatro durante o festival Lessingtage em Hamburgo.
Em seu romance subsequente, Fallensteller (Luchterhand, 2016), bem como nas curtas histórias que publica, ele continua a trajetória da aldeia e a desenha ainda mais. Desde então, Stanišić continua dando incrível atenção aos detalhes e à forma inteligente de se expressar, que, até mesmo em um ambiente melancólico e mórbido, sempre faz o leitor rir. Como um escritor que aprendeu alemão como segunda língua, utiliza-se disso como uma vantagem para construir sua própria linguagem que habilmente abre novos ângulos e perspectivas para o leitor. Seu estilo de conto de fadas o torna inconfundível e ainda hoje é trabalhado como material para a prova de acesso às universidades alemãs, com o qual ele alcança influência direta na educação literária de toda uma geração de jovens leitores alemães.
Seu romance mais recente, Herkunft (Luchterhand) estará disponível no mercado alemão a partir de março de 2019.
"Sentir falta de alguém significa ser egoísta. Eu “egoísto você” mais do que nunca.”
"Eu sou contra os finais, contra o fim das coisas. Estar pronto deve ser parado! Eu sou o principal amigo para continuar. Eu apoio o além e algo parecido!"
"Você nunca está preparado para tal coisa, com toda a sua bagagem: linguagem, coragem e magia."
"Sobre a terra estéril, através do país, marchando na escuridão, ele deve ser ousado, encolhido ou confuso, caso contrário ele não continuaria sem medo, teria um teto sobre sua cabeça, não estrelas, não evitaria as aldeias, oh, todas as lanternas, furtivamente não agachado além do nosso relógio mundano."
O que festejamos, ninguém sabe ao certo. Nada prescreve, nada aniversaria, nada termina ou então começou exatamente nesse dia. Santa Ana, ou Santa Anna, é em algum dia do verão, e os santos não são mais santos para nós. Talvez simplesmente festejemos pelo fato de isso existir: Fürstenfelde. E o que nós contamos uns aos outros sobre Fürstenfelde e a Festa.”
"Lembre-se disso e pense em um mundo melhor."
* 14 de setembro de 1817 em Husum - † 4 de julho de 1888 em Hanerau-Hademarschen
Foi um escritor alemão – relevante poeta, autor de novelas do período realista – com origem e influências da cultura do norte da Alemanha. Na sociedade burguesa, exercia a profissão de jurista. Ao lado de Theodor Fontane e Gottfried Keller, Storm é atualmente um dos mais importantes representantes do realismo alemão.
Filho de advogado, criado no cerne de um mundo patriarcal, Theodor Storm seguiu a carreira do pai e estudou Direito, em Berlim e em Kiel. Ainda na faculdade publicou, juntamente com seus amigos, os primeiros escritos “Livro de canções de três amigos” (1843). Devido ao seu engajamento contra a soberania dinamarquesa, foi privado do exercício da advocacia em 1852 e obrigado a exilar-se durante 12 anos. Nesse período, escreveu poemas de cunho político-patriótico. Somente após a retirada dos dinamarqueses, Storm pode retornar à sua terra natal, Husum. Embora escrevesse sobretudo poemas – salvo determinados momentos em que se dedicava mais à prosa, gênero que de fato lhe rendeu fama – sabia mesclar com talento diferentes gêneros. Tal referência pode ser observada na obra “Histórias de verão e canções” (1851), uma excelente mistura de trechos prosaicos, contos de fadas e poesia. Sua última obra, “A assombrosa história do homem do cavalo branco”, se tornou seu romance mais conhecido e até hoje é leitura obrigatória nas escolas alemãs.
Aquilo que para Fontane representava os vilarejos do antigo Brandemburgo e a aristocracia prussiana; para Keller, os Alpes e o Reno Superior, os artesãos e camponeses; para Storm eram a costa do Mar do Norte, a cidade pequena, com seus pescadores, comerciantes e funcionários públicos. Quase sempre, os principais cenários da sua obra se passam em Husum, na costa do Mar do Norte. Paisagens que ele, bem ao estilo característico do realismo poético alemão, costumava descrever artística e detalhadamente. Ele escrevia histórias de família, histórias ternas de paixões e uniões afetivas que duram vidas, com foco na maioria das vezes na sua terra, na família e no amor. Às vezes autobiográfico, na maioria das vezes novidades do cotidiano: histórias que ele escutava, lia, casos do seu trabalho como juíz. O centro criativo dos seus pensamentos, sentimentos e do seu ato de escrever, girava em torno da vida e do amor que não deram certo.
Já familiarizado com a filosofia popular materialista e adversário aos privilégios aristocratas e à ortodoxia teológica, Storm escreve sobre as contradições entre a afirmação da vida e a sensação de ameaça ao seu ideal de ser humano harmônico. Em alguns poemas, Storm retrata estados bucólicos com nostalgia e um sentimento de perda.
Apesar dos seus poemas políticos, após a Segunda Guerra Mundial, Storm é visto mais como escritor apolítico de novelas sobre o destino e de poesia atmosférica sobre a natureza. Por conta de seu foco na região natal, é normalmente considerado um autor da “Heimatkunst”. Husum é, até hoje, conhecida como cidade litorânea cinzenta, por razão de seu poema “A cidade”.
"Ó permaneças fiel aos mortos, que vivendo entristecestes;
Ó continues fiel aos mortos, que vivendo te amaram."
"Lá para o norte voa a gaivota,
Lá para o norte voa o meu coração; [...]
os dois voam rumo à terra natal."
"Nestes tempos, crueldades douradas são refrescantes como tempestades."
Foi um escritor alemão – relevante poeta, autor de novelas do período realista – com origem e influências da cultura do norte da Alemanha. Na sociedade burguesa, exercia a profissão de jurista. Ao lado de Theodor Fontane e Gottfried Keller, Storm é atualmente um dos mais importantes representantes do realismo alemão.
Filho de advogado, criado no cerne de um mundo patriarcal, Theodor Storm seguiu a carreira do pai e estudou Direito, em Berlim e em Kiel. Ainda na faculdade publicou, juntamente com seus amigos, os primeiros escritos “Livro de canções de três amigos” (1843). Devido ao seu engajamento contra a soberania dinamarquesa, foi privado do exercício da advocacia em 1852 e obrigado a exilar-se durante 12 anos. Nesse período, escreveu poemas de cunho político-patriótico. Somente após a retirada dos dinamarqueses, Storm pode retornar à sua terra natal, Husum. Embora escrevesse sobretudo poemas – salvo determinados momentos em que se dedicava mais à prosa, gênero que de fato lhe rendeu fama – sabia mesclar com talento diferentes gêneros. Tal referência pode ser observada na obra “Histórias de verão e canções” (1851), uma excelente mistura de trechos prosaicos, contos de fadas e poesia. Sua última obra, “A assombrosa história do homem do cavalo branco”, se tornou seu romance mais conhecido e até hoje é leitura obrigatória nas escolas alemãs.
Aquilo que para Fontane representava os vilarejos do antigo Brandemburgo e a aristocracia prussiana; para Keller, os Alpes e o Reno Superior, os artesãos e camponeses; para Storm eram a costa do Mar do Norte, a cidade pequena, com seus pescadores, comerciantes e funcionários públicos. Quase sempre, os principais cenários da sua obra se passam em Husum, na costa do Mar do Norte. Paisagens que ele, bem ao estilo característico do realismo poético alemão, costumava descrever artística e detalhadamente. Ele escrevia histórias de família, histórias ternas de paixões e uniões afetivas que duram vidas, com foco na maioria das vezes na sua terra, na família e no amor. Às vezes autobiográfico, na maioria das vezes novidades do cotidiano: histórias que ele escutava, lia, casos do seu trabalho como juíz. O centro criativo dos seus pensamentos, sentimentos e do seu ato de escrever, girava em torno da vida e do amor que não deram certo.
Já familiarizado com a filosofia popular materialista e adversário aos privilégios aristocratas e à ortodoxia teológica, Storm escreve sobre as contradições entre a afirmação da vida e a sensação de ameaça ao seu ideal de ser humano harmônico. Em alguns poemas, Storm retrata estados bucólicos com nostalgia e um sentimento de perda.
Apesar dos seus poemas políticos, após a Segunda Guerra Mundial, Storm é visto mais como escritor apolítico de novelas sobre o destino e de poesia atmosférica sobre a natureza. Por conta de seu foco na região natal, é normalmente considerado um autor da “Heimatkunst”. Husum é, até hoje, conhecida como cidade litorânea cinzenta, por razão de seu poema “A cidade”.
"Ó permaneças fiel aos mortos, que vivendo entristecestes;
Ó continues fiel aos mortos, que vivendo te amaram."
"Lá para o norte voa a gaivota,
Lá para o norte voa o meu coração; [...]
os dois voam rumo à terra natal."
"Nestes tempos, crueldades douradas são refrescantes como tempestades."
* 15 de abril de 1878, Biel (Suíça) † 25 de dezembro de 1956, próximo à Herisau (Suíça)
"Ambiente de fantoches, ironia romântica, não quero dizer que isto não seja uma brincadeira, mas certamente não é uma brincadeira literária, mas uma brincadeira humana, com muita suavidade, devaneio, liberdade e riqueza moral.” Robert Musil, 1914
O suíço Robert Otto Walser é uma das vozes mais importantes da literatura de língua alemã da era moderna. A influência comprovada que exerceu na obra de autores famosos como Franz Kafka, Hermann Hesse e Robert Musil, assim como Peter Handke e Elfriede Jelinek, fez dele uma figura chave na história literária. Após ganhar muita atenção nos anos 20, ele recuou para um segundo plano nos anos 30 e 40, mas, desde os anos 70, seu talento, trabalho e influência têm sido cada vez mais estudados e voltaram a ser reconhecidos. A publicação dos misteriosos textos Da região do lápis (em tradução livre. Aus dem Bleistiftgebiet, Suhrkamp, 1985) despertou ainda mais interesse pela história singular deste poeta altamente sensível e espirituoso.
Walser cresceu bilíngue, na fronteira das línguas alemã e francesa, no cantão de Berna. Aos 14 anos, iniciou um estágio no Banco Cantonal Suíço, que foi apenas a primeira etapa de uma carreira que mais parecia um passeio de montanha russa. A partir de então, mudou frequentemente de residência e de ocupação - trabalhou como datilógrafo e auxiliar de escritório, tentou atuar no teatro, trabalhou temporariamente no exército suíço, começou de fato a trabalhar como "assistente" de um engenheiro e depois se formou como copeiro, aceitando então um emprego temporário como tal no Castelo de Dambrau.
Apesar de estar constantemente escrevendo poemas e outros textos e de ter publicado seu primeiro livro, As redações do cozinheiro (em tradução livre. Fritz Fritz Kocher Aufsätze, Insel Verlag, 1904), sua carreira como escritor só começou a tomar forma quando ele, em 1905/06. Nesta época, conheceu, através de seu irmão, o pintor Karl Walser, vários artistas, escritores e editores em Berlim, incluindo Frank Wedekind, Christian Morgenstern, Bruno Cassirers e Samuel Fischer.
Nos anos seguintes, produziu seus primeiros romances: Os Irmãos Tanner (Companhia das Letras, 2017), O ajudante (Relógio D'Água Editores, 2006) e Jakob von Gunten: Um diário (Companhia das Letras, 1985). As obras contêm elementos autobiográficos, bem como características típicas da modernidade, como o tema da existência do empregado e da vida na cidade. Após uma ruptura com Berlim, Walser voltou à sua cidade natal, Biel, em 1913, quando seus textos mudaram, e temas como a natureza e o idílio ganharam importância. Ali, escreveu uma de suas peças mais famosas, O passeio (em tradução livre. Der Spaziergang, Huber Verlag, 1917). As experiências da Primeira Guerra Mundial também são expressas em vários contos e peças em prosa.
Quando Walser se mudou para Berna, em 1921, suas mudanças de estilo se tornaram novamente aparentes. Ele agora estudava o seu ambiente com atenção e escrevia reflexiva e analiticamente sobre as suas observações. Durante este tempo, tornou-se um autor proeminente de literatura de folhetim e escreveu textos para muitos jornais diários importantes, incluindo o Frankfurter Allgemeine e o Berliner Tagesblatt.
Mesmo durante a sua estadia em Berna, ele costumava mudar de endereço a cada poucos meses. Essa liberdade e a inquietação que dela emanava chegaram ao poeta com um preço elevado. Ele fugiu cada vez mais para o reino da fantasia e começou a trabalhar nos misteriosos microgramas Aus dem Bleistiftgebiet. A coleção de peças em prosa composta por um total de 523 páginas de minúscula estenografia escrita à mão foi publicada por Bernhard Echte e Werner Morlang em seis volumes. As edições começaram em 1985, mas a obra só pôde ser completamente decifrada em 2001. A doença mental não era uma novidade em sua família, e Robert Walser sofreu um grave ataque de esquizofrenia em 1929, quando sua irmã o encontrou em seu apartamento num estado de abandono.
Walser só encontrou a paz quando a liberdade sobre a qual tantas vezes escreveu em seus textos lhe foi retirada. Ele permaneceu no sanatório de Herisau durante os últimos 23 anos de sua vida. A rotina e a observação constante, interrompida exclusivamente pelas caminhadas acompanhadas pelo seu colega escritor e jornalista Carl Seelig, permitiu-lhe levar uma vida diária regular. A estranha relação entre os dois homens fornece o material para o filme The Guardian e seu poeta (1978), dirigido por Percy Adlon.
No passado, ele havia recusado todas as ofertas e apoio para continuar sua obra literária, alegando que precisava de liberdade para escrever. A partir desse momento, no entanto, a liberdade parecia trazer algo assustador para ele. Uma vez, falou sobre isso: "o que me assusta é o pensamento de que eu poderia ter sucesso neste mundo". E assim decidiu viver em Herisau até a sua morte, afastado do público, em grande parte livre da realidade. Morreu aos 78 anos, tal qual muitas vezes havia imaginado - numa das suas longas caminhadas de inverno, sofreu um ataque cardíaco e foi encontrado morto na paisagem nevada.
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"Existem livros... que gradualmente se afundam em nós, e nós não deixamos de ouvir e de afundar em nós mesmos e não deixamos de nos perguntar que os livros podem ter um peso tão infinito e suave e que tais profundezas podem ser despertadas em nós. O que se sente quando os lê beira a felicidade."
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"A verdade é muitas vezes mais fantástica do que a imaginação dos poetas."
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"O que nos pode fazer mais felizes do que a felicidade que damos aos outros?"
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"A natureza não precisa se esforçar para ser importante. Ela é."
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"O homem é um ser sensível. Ele tem apenas duas pernas, mas um coração, no qual um exército de pensamentos e sensações está bem contente. O homem pode ser comparado a um jardim de prazer bem desenhado."
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"O amor é uma palavra bonita demais para ser colocada levemente na minha boca; prefiro somente sentir o seu significado."
* 13 de novembro de 1964, Offenbach (Alemanha)
„Escritores que trabalham com diversos idiomas são como transformadores entre os mundos." Tanya Lieske
Anne Weber, nascida e criada na pequena cidade alemã de Offenbach, uma jovem aventureira que se mudou para o exterior movida pelo sonho de conhecer novos lugares, junta-se à lista de escritores multilíngues alemães – de modo que a globalização e as ondas migratórias conferem uma certa riqueza poética, até colorida, à literatura alemã contemporânea, o que não existia dessa forma antes.
Depois da graduação na Universidade de Sorbonne, onde cursou literatura francesa e literatura comparada, trabalhou em várias editoras de Paris antes de começar a atuar como tradutora literária. Depois de 35 anos na França, ela dominava ambos os idiomas em um grau que a permitiu traduzir em ambas as direções. Foi assim que ela passou a enriquecer os alemães com as obras de Marguerite Duras e Pierre Michon, entre outros, e concedeu aos franceses o acesso a Wilhelm Genazino e Peter Handke. Suas traduções ganharam, entre outros, o prestigioso Prêmio Europeu de Tradução (2008), o Prêmio de Tradução Johann-Heinrich-Voß (2016) e o Prêmio de Tradução Eugen-Helmlé (2016).
Seu primeiro romance, Ida erfindet das Schießpulver (S. Fischer Verlag, 1999, Ida inventou a pólvora, tradução livre), ela escreveu primeiro em francês e depois o traduziu para o alemão. Em seus romances posteriores, como Luft und Liebe (S. Fischer Verlag, 2010, Ar e amor, tradução livre) e Tal der Herrlichkeiten (S. Fischer Verlag, 2012, Vale das glórias, tradução livre), ela mudou o jogo, escreveu o original em alemão e traduziu seu próprio trabalho para o francês. Através disso ela aprendeu que dominar um idioma, leva a pessoa tanto ao limite do idioma estrangeiro, como ao limite do idioma materno.
Não é só em termos linguísticos que a autora se vê entre dois mundos, para não dizer nos dois mundos, como também culturalmente ela confessa que há “uma ligeira estranheza e ainda assim familiaridade. Mas, se estou de volta à Alemanha por algum tempo, sinto uma familiaridade antiga, apesar de ao mesmo tempo me sentir uma estranha no ninho. Para a escrita isso não é nenhum obstáculo, na verdade acaba sendo favorável".
Em seu romance Ahnen. Ein Zeitreisetagebuch (S. Fischer Verlag, 2015, Antepassados. Um diário de viagem no tempo, tradução livre), Anne Weber confronta o problema do passado alemão com a sua experiência íntima de ser alemã no exterior. Ela rompe com o gênero “avô nazista” de se escrever romance, ao pular uma geração e levar o leitor para embarcar em uma jornada intelectual e emocional através do tempo, perseguindo os passos de seu bisavô, e no caminho se deparando com conceitos de época, que beiram a filosofia. Por exemplo, a ideia do "muro do tempo" que fica insuperável entre os pensamentos e ações de seu bisavô e sua própria realidade, e, assim, levá-la a pensar criticamente, constantemente questionando o que ela acha ter entendido.
A autora traz ricas percepções em sua forma de lidar com o próprio bilinguismo no contexto da história alemã: Ela declara sentir o que chama de ‘Sprachscham’ (vergonha linguística) – como, por exemplo, com a palavra “Jude” (judeu), que está carregada de significado pesado em alemão, por razões históricas. Em uma reflexão, ela percebe que essa vergonha pode ser superada instantaneamente quando a pessoa muda de idioma.
Seu último romance, Kirio (Suhrkamp, 2017), com o qual ela foi uma das finalistas do Prêmio da Feira do Livro de Leipzig na categoria ficção, em 2017, é uma leitura serena que nos apresenta um homem sem queixa através de vários narradores. O romance surgiu de uma certa frustração da autora sobre o fato de ter observado na literatura um fascínio pelo mal, quando a mesma acredita que o bem pode oferecer muito mais. Embora ela também reflita sobre as motivações para o bom ou mau comportamento nessa história e, portanto, aborde as situações políticas atuais, os tópicos políticos em seus livros geralmente são apenas no sentido em que aparecem no cotidiano do escritor, mas não são tratados como o foco da narrativa.
Com seu trabalho, Anne Weber consegue, não só transpor as dissonâncias e os obstáculos linguísticos entre França e Alemanha, como também atravessar com surpreendente facilidade as rupturas culturais e políticas de ambos os países, que são resultado de uma passado polêmico que estes compartilham, e com isso diminuir as diferenças e os contrastes, através de uma extraordinária sensibilidade e compreensão dos dois mundos.
"Evitamos tudo o que poderia ter consequências ruins e dolorosas para nós. E depois, acontece que as coisas muito ruins que vivenciamos nos tornaram melhores, mais inteligentes, mais atentos e que, em alguns casos, até mesmo algo criativo saiu disso."
"O tradutor é, em muitos aspectos, um ator, pois ele incorpora um trabalho estranho, dando-lhe um novo corpo de fala."
"Na época do pequeno bigode-homem, todo o sentido do próprio ridículo desapareceu. No entanto, todos os gestos presunçosos desse homem, ... qualquer lenço, qualquer expressão maligna, eram o próprio ridículo, e mesmo se tivesse sido sem Chaplin. Poderíamos tê-lo escorregado em qualquer um dos seus >r<s rolando a qualquer momento e deixá-lo cair os degraus do pedestal em toda a extensão. Em vez disso, ouvimos a sério, sim, com reverência ".
"São os outros que determinam se você pertence a uma comunidade e, em caso afirmativo, qual é, e é completamente indiferente se você reconhece ou recusa a sua atribuição. Os outros são mais fortes".
* 30 de junho de 1974 em Bonn
No “The Guardian”, ela escreve sobre a crise do Euro e o futuro do exército alemão; na “Focus”, sobre a necessidade de desempoderamento dos parlamentos europeus; no “Sonntagszeitung”, sobre os direitos autorais; no “Tagesspiegel”, sobre padrões estéticos e de “vida saudável”; em programas de entrevistas, explica sua simpatia pelo Piratenpartei (partido político alemão). Ela é engajada, bem informada, tem posições claras, nunca é cínica.
(Volker Weidermann)
A jovem autora alemã não segue, nem um pouco, o clássico perfil de uma escritora. Pois observando sua carreira jurídica e sua interferência pública no mundo político, assim como sua presença midiática, mal se acreditaria que, além dos seus numerosos artigos jornalísticos, também é literariamente ativa. Com isso, inclusive, registrou sucessos consideráveis: seus romances foram traduzidos para 35 línguas.
Juli Zeh estudou Direito em Passau e Leipzig e fez doutorado nas áreas de Direito Europeu e Direito Público Internacional. Viveu um tempo em Nova Iorque e na Cracóvia. Sua primeira obra literária, Águias e anjos (Guimarães Ed., 2005), foi um sucesso mundial, bastante marcada pelo seu histórico profissional jurídico. Seu engajamento político se reflete, por exemplo, no diário de viagem Die Stille ist ein Geräusch, que publicou em 2003. Depois de ter tomado conhecimento da falta de cobertura da Europa em relação à Guerra na Bósnia, ela mesma viajou para conhecer a região com os próprios olhos e conversar com cidadãos bósnios. Mais de vinte anos após o fim da guerra, ainda há pessoas morrendo anualmente em consequência dela. Cerca de 600 pessoas morreram, por exemplo, por causa de minas explosivas. Com a obra Die Stille ist ein Geräusch, Juli Zeh levou estes e outros fatos ao grande público.
A autora lutou também contra o registro do passaporte biométrico, considerando-o uma ofensa desnecessária à Constituição. Em 2009, criticou publicamente durante o lançamento de um livro, junto ao escritor Ilja Trojanow, alertando que o Estado invadiria dados privados do povo sob pretexto de defesa contra o terrorismo. Mais tarde escreveu uma carta aberta à Angela Merkel, na qual exigiu mais transparência em relação aos contingentes de vigilância e espionagem na Alemanha. Em 2013, entregou um abaixo assinado junto a outros 20 escritores alemães, com 67 mil assinaturas. Embora essa ação não tenha gerado resultado, Juli Zeh revalorizou a reputação do escritor como ser político ativo, algo que havia se perdido a seu ver e também na opinião de alguns colegas escritores.
Em 2007, Juli Zeh pela primeira vez se mudou da capital Leipzig para uma província em Brandenburgo, onde mora com seu marido e seus dois filhos até hoje. A nova vida no vilarejo serviu como matéria para seu romance mais recente Unterleuten (2016), que na Alemanha é considerado “romance de vilarejo” ou “romance social”. A obra de 640 páginas trata de “rumores” e “fofocas” de uma pequena comunidade em Brandenburg e dos conflitos de interesses entre moradores e investidores, quando a construção de um parque eólico é planejada próximo ao vilarejo. Acontece um confronto grave entre defensores dos direitos humanos e dos animais e aqueles que querem ganhar dinheiro com a infraestrutura da revolução energética. O romance é dividido em seis partes, dentre as quais são relatadas perspectivas diferentes sobre as mesmas circunstâncias. A grande mudança da cidade para a província fascinou Juli Zeh desde o princípio. Em uma entrevista, mencionou que a maioria das guerras civis no mundo ocorreriam entre as civilizações rurais e urbanas. Muitas vezes, a política que é implementada nas regiões rurais parte das grandes cidades e a população mais afetada pelas medidas e decisões relativas à região, de fato, raramente é integrada às discussões.
Em artigo escrito para jornal Zeit, Zeh afirmou que não pertence a nenhum partido e que não se considera de esquerda, nem de direita. Entretanto, é constantemente convidada a participar de debates para dar opinião sobre questões políticas. Sua motivação como escritora não parte do desejo de criar opinião, mas de, através da literatura, transmitir ideias que possibilitem uma visão do mundo, não necessariamente jornalística, mas, de certo modo, política - comentou no mesmo artigo. Juli Zeh recebeu vários prêmios, entre eles o Thomas-Mann-Preis (2013) e o Hildegard-von-Bingen-Preis (2015).
"Democracia não é um meio para conquistar um bom objetivo [...]. Democracia não é o método para a investigação do melhor resultado, mas sim um método para espalhar o poder."[1]
"Nem a realidade personificada é tão convincente como um preconceito bem sedimentado."[2]
"Para ser uma pessoa politizada, não é necessário um partido; menos ainda, uma graduação oficialmente reconhecida. É preciso sobretudo duas coisas: bom senso e um coração no peito."[3]
[1] Juli Zeh no programa de TV Philosophisches Quartett sobre o tema "As sociedades são passíveis de aprendizado"?, em maio de 2011
[2] Kleines Konversationslexikon für Haushunde, Schöffling, Frankfurt am Main 2005
[3] http://www.zeit.de/2004/11/L-Preisverleihung/seite-2
No “The Guardian”, ela escreve sobre a crise do Euro e o futuro do exército alemão; na “Focus”, sobre a necessidade de desempoderamento dos parlamentos europeus; no “Sonntagszeitung”, sobre os direitos autorais; no “Tagesspiegel”, sobre padrões estéticos e de “vida saudável”; em programas de entrevistas, explica sua simpatia pelo Piratenpartei (partido político alemão). Ela é engajada, bem informada, tem posições claras, nunca é cínica.
(Volker Weidermann)
A jovem autora alemã não segue, nem um pouco, o clássico perfil de uma escritora. Pois observando sua carreira jurídica e sua interferência pública no mundo político, assim como sua presença midiática, mal se acreditaria que, além dos seus numerosos artigos jornalísticos, também é literariamente ativa. Com isso, inclusive, registrou sucessos consideráveis: seus romances foram traduzidos para 35 línguas.
Juli Zeh estudou Direito em Passau e Leipzig e fez doutorado nas áreas de Direito Europeu e Direito Público Internacional. Viveu um tempo em Nova Iorque e na Cracóvia. Sua primeira obra literária, Águias e anjos (Guimarães Ed., 2005), foi um sucesso mundial, bastante marcada pelo seu histórico profissional jurídico. Seu engajamento político se reflete, por exemplo, no diário de viagem Die Stille ist ein Geräusch, que publicou em 2003. Depois de ter tomado conhecimento da falta de cobertura da Europa em relação à Guerra na Bósnia, ela mesma viajou para conhecer a região com os próprios olhos e conversar com cidadãos bósnios. Mais de vinte anos após o fim da guerra, ainda há pessoas morrendo anualmente em consequência dela. Cerca de 600 pessoas morreram, por exemplo, por causa de minas explosivas. Com a obra Die Stille ist ein Geräusch, Juli Zeh levou estes e outros fatos ao grande público.
A autora lutou também contra o registro do passaporte biométrico, considerando-o uma ofensa desnecessária à Constituição. Em 2009, criticou publicamente durante o lançamento de um livro, junto ao escritor Ilja Trojanow, alertando que o Estado invadiria dados privados do povo sob pretexto de defesa contra o terrorismo. Mais tarde escreveu uma carta aberta à Angela Merkel, na qual exigiu mais transparência em relação aos contingentes de vigilância e espionagem na Alemanha. Em 2013, entregou um abaixo assinado junto a outros 20 escritores alemães, com 67 mil assinaturas. Embora essa ação não tenha gerado resultado, Juli Zeh revalorizou a reputação do escritor como ser político ativo, algo que havia se perdido a seu ver e também na opinião de alguns colegas escritores.
Em 2007, Juli Zeh pela primeira vez se mudou da capital Leipzig para uma província em Brandenburgo, onde mora com seu marido e seus dois filhos até hoje. A nova vida no vilarejo serviu como matéria para seu romance mais recente Unterleuten (2016), que na Alemanha é considerado “romance de vilarejo” ou “romance social”. A obra de 640 páginas trata de “rumores” e “fofocas” de uma pequena comunidade em Brandenburg e dos conflitos de interesses entre moradores e investidores, quando a construção de um parque eólico é planejada próximo ao vilarejo. Acontece um confronto grave entre defensores dos direitos humanos e dos animais e aqueles que querem ganhar dinheiro com a infraestrutura da revolução energética. O romance é dividido em seis partes, dentre as quais são relatadas perspectivas diferentes sobre as mesmas circunstâncias. A grande mudança da cidade para a província fascinou Juli Zeh desde o princípio. Em uma entrevista, mencionou que a maioria das guerras civis no mundo ocorreriam entre as civilizações rurais e urbanas. Muitas vezes, a política que é implementada nas regiões rurais parte das grandes cidades e a população mais afetada pelas medidas e decisões relativas à região, de fato, raramente é integrada às discussões.
Em artigo escrito para jornal Zeit, Zeh afirmou que não pertence a nenhum partido e que não se considera de esquerda, nem de direita. Entretanto, é constantemente convidada a participar de debates para dar opinião sobre questões políticas. Sua motivação como escritora não parte do desejo de criar opinião, mas de, através da literatura, transmitir ideias que possibilitem uma visão do mundo, não necessariamente jornalística, mas, de certo modo, política - comentou no mesmo artigo. Juli Zeh recebeu vários prêmios, entre eles o Thomas-Mann-Preis (2013) e o Hildegard-von-Bingen-Preis (2015).
"Democracia não é um meio para conquistar um bom objetivo [...]. Democracia não é o método para a investigação do melhor resultado, mas sim um método para espalhar o poder."[1]
"Nem a realidade personificada é tão convincente como um preconceito bem sedimentado."[2]
"Para ser uma pessoa politizada, não é necessário um partido; menos ainda, uma graduação oficialmente reconhecida. É preciso sobretudo duas coisas: bom senso e um coração no peito."[3]
[1] Juli Zeh no programa de TV Philosophisches Quartett sobre o tema "As sociedades são passíveis de aprendizado"?, em maio de 2011
[2] Kleines Konversationslexikon für Haushunde, Schöffling, Frankfurt am Main 2005
[3] http://www.zeit.de/2004/11/L-Preisverleihung/seite-2
* 28 de novembro de 1881 em Viena - † 22 de fevereiro de 1942 em Petrópolis
“Zweig não acha ou espera que possa mudar o mundo com seus escritos; a sua única ambição é ajudar a diminuir a amargura do sofrimento humano, ensinando-nos a conhecer mais detalhadamente sua raíz e motivos. Sua metodologia diante da verdade não é idealista, nem materialista no sentido marxista. Ele não conhece nenhum método, por meio do qual o ser humano possa ser julgado ou classificado. O único que ele exige e reconhece é a civilização, que serve ao ser humano.“ (KLAUS MANN)
Stefan Zweig era judeu austríaco, filho de um industrial. Estudou Filologia Germânica e Românica em Viena e Berlim, e viajou o mundo. Na Primeira Guerra Mundial, mudou-se para a Suíça, depois se instalou em Salzburg, obrigado a fugir de Hitler, em seguida, para Londres, depois para Nova Iorque e, por fim, para o Brasil. Em seu tempo de vida, foi o autor de língua alemã mais traduzido. Apesar disso, seu nome constava na lista dos “autores proibidos” do Terceiro Reich. No exterior era famoso e valorizado, tinha um bom casamento e podia dar sequência aos trabalhos literários mesmo em exílio de forma bem-sucedida, o que costumava ser raramente possível com pessoas politicamente perseguidas. Mesmo assim, em 1942, Zweig decide cometer suicídio. Os motivos permanecem enigmáticos, devido a uma vida aparentemente boa. Se a guerra e a destruição das ciências humanas na Europa despertaram uma melancolia incurável no espírito convictamente pacífico e humanista do autor, ou se outros fatores determinaram o acontecimento, sobre isso só restam especulações.
Zweig escreveu ensaios, traduziu obras de Verlaine, Baudelaire e sobretudo Émile Verhaeren. Trabalhou ainda como jornalista. Como intelectual engajado, foi veemente contra o nacional-socialismo e o revanchismo, promovendo a ideia de uma Europa unida através dos valores humanistas. Razão suficiente para os nazistas colocarem seu nome na lista dos autores que teriam seus livros publicamente queimados. Sua terra natal, a Áustria fazia parte do Reich Alemão (incluída oficialmente em 1938) e seus livros acabaram sendo proibidos nos dois países.
Sobre Zweig, é comum falar-se de três vidas: uma, o mundo da burguesia, aparentemente seguro, no qual ele foi criado; outra, na terra escolhida para viver, Salzburg; e a terceira vida, em exílio. Sua obra Autobiografia: o mundo de ontem (Zahar, 2004) faz uma retrospectiva dessas três vidas.
Um traço marcante na escrita do autor é a influência da Psicanálise. Correspondia-se frequentemente com Sigmund Freud e assim surgiu uma íntima amizade entre os dois. Muitas de suas obras são cunhadas pela psicanálise freudiana: Segredo ardente (Zahar, 2015), Amok (Nova Fronteira, 1993), Xadrez (Nova Fronteira, 1993) e Confusão de sentimentos (Zahar, 2015). Em seu único romance concluído Coração inquieto (Editora Guanabara Waissman Koogan, 1951) quase criou um gênero próprio, que pode ser considerado como um “naturalismo psicanalítico” ou um “realismo da alma”. Sua aspiração por compreender as coisas a partir de um prisma psicológico era refletida no jeito de tratar as pessoas ao seu redor. Seus amigos e conhecidos o descreviam como uma pessoa bastante sensível, compreensiva e gentil.
Aquilo que lhe confere certo heroísmo é o fato de que ele, em gritante contraste com outros escritores judeus de sua época, foi reconhecido não somente após a morte. Apesar da censura e da queima de seus livros, foi muito valorizado e respeitado no exterior já ao longo da sua vida. O governo brasileiro, inclusive, insistiu em um funeral oficial e a uma rua no Rio foi dado seu nome. Seu último domicílio em Petrópolis foi transformado no Museu Casa Stefan Zweig. Este ano foi lançado o filme Antes da aurora – Stefan Zweig na América (tradução livre), da diretora Maria Schrader, que acompanha o escritor austríaco durante o exílio no Brasil. O título faz referência a uma frase da sua carta de despedida.
"Eu acredito, que chegará o dia no qual passaportes e fronteiras farão parte do passado. Duvido, no entanto, que ainda viveremos isso."
"Meu desejo de ser imparcial em todas as coisas, e pela vontade inabalável de apreciar sempre os povos, tempo, formas e obras apenas no seu sentido positivo e criador, e de servir através de tal “querer compreender” e “fazer compreender”, humilde porém fielmente, ao nosso indestrutível ideal: a mútua compreensão entre homens, pensamentos, culturas e nações."
"Tudo aquilo que esquecemos da própria vida, na verdade já tinha sido condenado a ser esquecido por um instinto interno."
“Zweig não acha ou espera que possa mudar o mundo com seus escritos; a sua única ambição é ajudar a diminuir a amargura do sofrimento humano, ensinando-nos a conhecer mais detalhadamente sua raíz e motivos. Sua metodologia diante da verdade não é idealista, nem materialista no sentido marxista. Ele não conhece nenhum método, por meio do qual o ser humano possa ser julgado ou classificado. O único que ele exige e reconhece é a civilização, que serve ao ser humano.“ (KLAUS MANN)
Stefan Zweig era judeu austríaco, filho de um industrial. Estudou Filologia Germânica e Românica em Viena e Berlim, e viajou o mundo. Na Primeira Guerra Mundial, mudou-se para a Suíça, depois se instalou em Salzburg, obrigado a fugir de Hitler, em seguida, para Londres, depois para Nova Iorque e, por fim, para o Brasil. Em seu tempo de vida, foi o autor de língua alemã mais traduzido. Apesar disso, seu nome constava na lista dos “autores proibidos” do Terceiro Reich. No exterior era famoso e valorizado, tinha um bom casamento e podia dar sequência aos trabalhos literários mesmo em exílio de forma bem-sucedida, o que costumava ser raramente possível com pessoas politicamente perseguidas. Mesmo assim, em 1942, Zweig decide cometer suicídio. Os motivos permanecem enigmáticos, devido a uma vida aparentemente boa. Se a guerra e a destruição das ciências humanas na Europa despertaram uma melancolia incurável no espírito convictamente pacífico e humanista do autor, ou se outros fatores determinaram o acontecimento, sobre isso só restam especulações.
Zweig escreveu ensaios, traduziu obras de Verlaine, Baudelaire e sobretudo Émile Verhaeren. Trabalhou ainda como jornalista. Como intelectual engajado, foi veemente contra o nacional-socialismo e o revanchismo, promovendo a ideia de uma Europa unida através dos valores humanistas. Razão suficiente para os nazistas colocarem seu nome na lista dos autores que teriam seus livros publicamente queimados. Sua terra natal, a Áustria fazia parte do Reich Alemão (incluída oficialmente em 1938) e seus livros acabaram sendo proibidos nos dois países.
Sobre Zweig, é comum falar-se de três vidas: uma, o mundo da burguesia, aparentemente seguro, no qual ele foi criado; outra, na terra escolhida para viver, Salzburg; e a terceira vida, em exílio. Sua obra Autobiografia: o mundo de ontem (Zahar, 2004) faz uma retrospectiva dessas três vidas.
Um traço marcante na escrita do autor é a influência da Psicanálise. Correspondia-se frequentemente com Sigmund Freud e assim surgiu uma íntima amizade entre os dois. Muitas de suas obras são cunhadas pela psicanálise freudiana: Segredo ardente (Zahar, 2015), Amok (Nova Fronteira, 1993), Xadrez (Nova Fronteira, 1993) e Confusão de sentimentos (Zahar, 2015). Em seu único romance concluído Coração inquieto (Editora Guanabara Waissman Koogan, 1951) quase criou um gênero próprio, que pode ser considerado como um “naturalismo psicanalítico” ou um “realismo da alma”. Sua aspiração por compreender as coisas a partir de um prisma psicológico era refletida no jeito de tratar as pessoas ao seu redor. Seus amigos e conhecidos o descreviam como uma pessoa bastante sensível, compreensiva e gentil.
Aquilo que lhe confere certo heroísmo é o fato de que ele, em gritante contraste com outros escritores judeus de sua época, foi reconhecido não somente após a morte. Apesar da censura e da queima de seus livros, foi muito valorizado e respeitado no exterior já ao longo da sua vida. O governo brasileiro, inclusive, insistiu em um funeral oficial e a uma rua no Rio foi dado seu nome. Seu último domicílio em Petrópolis foi transformado no Museu Casa Stefan Zweig. Este ano foi lançado o filme Antes da aurora – Stefan Zweig na América (tradução livre), da diretora Maria Schrader, que acompanha o escritor austríaco durante o exílio no Brasil. O título faz referência a uma frase da sua carta de despedida.
"Eu acredito, que chegará o dia no qual passaportes e fronteiras farão parte do passado. Duvido, no entanto, que ainda viveremos isso."
"Meu desejo de ser imparcial em todas as coisas, e pela vontade inabalável de apreciar sempre os povos, tempo, formas e obras apenas no seu sentido positivo e criador, e de servir através de tal “querer compreender” e “fazer compreender”, humilde porém fielmente, ao nosso indestrutível ideal: a mútua compreensão entre homens, pensamentos, culturas e nações."
"Tudo aquilo que esquecemos da própria vida, na verdade já tinha sido condenado a ser esquecido por um instinto interno."