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Losers and Winners

Por Cristyelen Ambrozio

    
Losers and Winners (still) © Filmproduktion Loeken Franke GbR

Dirigido por Ulrike Franke e Michael Loeken, o documentário Losers and Winners, de 2006, nos apresenta uma fábrica de combustível na Alemanha que está sendo desmontada e deslocada para a China. Tornou-se mais lucrativo para os alemães exportar coque a produzi-lo. A partir do registro documental, podemos perceber as relações dos trabalhadores com o espaço da fábrica, sendo este o que une o trabalhador alemão e o chinês.

Losers and Winners (still) © Filmproduktion Loeken Franke GbR Iniciamos com uma cena: o rosto de um homem ocupa quase toda a altura do quadro. Atrás dele, a parede branca encardida do local onde trabalha. Ele reclama sobre como está sendo o processo de desmontagem dos equipamentos da fábrica. A voz do entrevistador questiona sobre a razão de ele se importar tanto com uma fábrica que está fechando - "(...) isso aqui acabou.". O homem que estava sério antes, agora ri com a provocação: "não funciona assim", pois "o trabalho era meu segundo lar". Capacetes e uniformes usados na fábrica pelos trabalhadores estão pendurados e etiquetados com seus nomes, indicando a relação do operário alemão com o espaço de trabalho que vai ficando vazio. Um som de violino acompanha a fala do homem,  que depois de tantos anos trabalhando naquele lugar, diz que criou afeto pelo local, pelos equipamentos e pelo próprio serviço: "Eu sou um pedaço do todo". Através da trilha sonora, composta por um violino, e dos enquadramentos fechados nos trabalhadores, os diretores imprimem dramaticidade ao documentário, expondo as dificuldades que os trabalhadores alemães enfrentam ao ter que auxiliar na desmontagem do lugar onde trabalharam por tantos anos e que agora se move para o oriente. Em seguida, o que vemos são imagens da fábrica ao pôr do sol, enquanto uma música asiática toca.

Losers and Winners (still) © Filmproduktion Loeken Franke GbR A cena seguinte vem logo na sequência da anterior. Numa cozinha pequena, um cozinheiro chinês cantarola enquanto corta alguns repolhos. "Você se mostra indiferente", este é o primeiro verso que o ouvimos cantar. A letra da música fala sobre estar sozinho e distante da pessoa amada. Ao mesmo tempo em que o ouvimos cantar, vemos imagens dos trabalhadores chineses andando no chão na fábrica e depois circulando pela cidade da Alemanha na qual o filme se passa. As placas, anúncios de loja e letreiros de ônibus que estão em língua alemã, evidenciam que eles estão em território estrangeiro, distante de suas casas. Explicita-se a desterritorialização do trabalhador chinês. “O quê, pergunto ao céu, nos separou?” diz a letra da música quando vemos os homens chineses usando cabines de telefone. O último momento da música traz o verso “você no leste, eu no oeste”, e no plano há um homem chinês falando ao telefone. Ao que o diálogo indica, ele está falando com seu filho. Num plano mais aberto, podemos ver que ele está no fundo de uma sala bem pequena. Ao longo de sua conversa, os planos vão se fechando cada vez mais em seu rosto. Quando ele pergunta “você sente falta do papai?”, vemos um plano detalhe de sua mão segurando um papel e fazendo movimentos repetidos e nervosos. A cena termina com um plano médio dele dizendo “também sinto a falta de vocês” e um suspiro de saudade.
 
Na transição entre as duas cenas descritas, são imagens da fábrica que separam as vivências e relatos dos trabalhadores alemães e chineses. É o espaço de trabalho o elo entre estes universos que se encontram e se distinguem. É no chão da fábrica que as culturas comungam uma relação ambígua entre mundo do trabalho e vida pessoal.
 
O filme trabalha essa dicotomia de "perder e ganhar" em vários aspectos. De um lado, o trabalhador alemão, que perde não só seu emprego, como toda a materialidade de que consistia seu trabalho. Do outro lado, os trabalhadores chineses que saem de seu país para enfrentar longas horas de trabalho no forasteiro, alimentados pela esperança de prosperidade da nação.
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