Como um fio corrido na meia-calça de uma jovem mudou o destino de um oficial da Marinha dos Estados Unidos: Edward Mazurkiewicz relata as etapas de sua vida, fala sobre os encontros entre culturas e conta como Bremerhaven se tornou seu “porto de origem”.
Sou um cidadão estadunidense que vive em Geestland, Alemanha, perto de Bremerhaven, cidade portuária marítima da Alemanha, meu “porto de origem”. Nasci em Reading, Pensilvânia, no dia 5 de junho de 1940. Morei e trabalhei em muitos lugares, além de Reading, como no Brooklyn, Nova York, Fort Pierce, Flórida, Washington, D.C., Estados Unidos, No exterior, em Bremerhaven, Alemanha, Nápoles, na Itália, e Roterdã, nos Países Baixos. Muitas pessoas amigas e conhecidas já me perguntaram: “O que leva você a abandonar os Estados Unidos para viver em Bremerhaven?”. Com um sorriso no rosto, tenho prazer em dizer que gosto muito de comer sanduíches de arenque.Um oficial da Marinha dos EUA no mar
Naquela época, tinha que cumprir minhas obrigações militares, o que era exigido de todos os jovens com mais de 18 anos. Em vez de entrar nas Forças Armadas como soldado não designado por dois anos de serviço, alistei-me na Marinha dos EUA a fim de ver o mundo. Como tinha um diploma de ensino superior, preenchia as condições para frequentar a Escola de Oficiais com o objetivo de ser empossado como oficial da Marinha dos EUA. Pouco tempo depois, eu já estava no trem para o Centro de Treinamento Naval dos EUA, em Newport Rhode Island. Lembro-me bem daquela noite de 16 de outubro de 1962, quando o presidente J. F. Kennedy expediu ordens para o bloqueio naval de Cuba. Depois de concluir a escola, fui designado para o USS Neosho, um petroleiro militar com a missão de reabastecer outros navios de guerra militares no mar.
Apesar de passar a maior parte do tempo no mar, com longos turnos de trabalho dia e noite, tínhamos tempo para visitas aos portos e descanso e relaxamento. Desembarcamos em portos de Curaçao, Cuba, Espanha, Itália, Grécia e Turquia. O momento mais divertido do qual me recordo foi uma visita a Barcelona, na Espanha. Como era costume, o capitão do nosso navio fez uma visita diplomática ao Consulado Espanhol local. Ele voltou dizendo que uma senhora da família real espanhola gostaria de conhecer um oficial estadunidense. É claro que todos os oficiais casados disseram que não estavam disponíveis e não gostaram da ideia de conhecer uma mulher espanhola às cegas. Eu tinha 23 anos, era solteiro e o oficial mais jovem a bordo, então “recebi a missão” de acompanhar a senhora naquela noite. Em vez de conhecer uma solteirona idosa, como todos prevíamos, minha acompanhante se revelou uma mulher jovem e atraente, formada pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. É claro que fiquei impressionado e atordoado, e fui provavelmente um embaixador enfadonho para os EUA e o meu navio. Jantamos em um restaurante especializado em fondues escolhido por ela, e isso não me custou o salário de um mês.
Minha próxima viagem a serviço, em 1965, foi uma missão para o USNS Wm. O. Darby, um navio de tropas e civis que transportava membros das Forças Armadas e famílias, incluindo mulheres e crianças, entre o Brooklyn, Nova York, e Bremerhaven, Alemanha. Era como uma linha de ônibus pendular, indo e vindo do Brooklyn a Bremerhaven e de volta ao Brooklyn. O tempo de manobra era de aproximadamente 56 horas no porto, 10 dias rumo ao leste seguindo as correntes marítimas, e de 12 a 15 dias rumo ao oeste, com ondas violentas e pessoas a bordo passando mal, em direção aos EUA. Em algumas dessas viagens, testemunhei a empolgação de jovens casais recém-casados, noivas alemãs transbordando esperança e entusiasmo a caminho de uma nova vida nos EUA. Em contrapartida, observei mulheres alemãs solteiras e determinadas, algumas com crianças, voltando para seus antigos lares na Alemanha.
Chegando em Bremerhaven
Quando cheguei em Bremerhaven, essa foi a primeira vez que pisei em solo alemão. Eu meio que esperava que Bremerhaven fosse uma cidade antiga, ainda em obras decorrentes dos anos de guerra. Mas que surpresa! Bremerhaven estava reconstruída e suas ruas cheias de pessoas indo ou voltando do trabalho e fazendo compras. Quem fazia compras no centro de Bremerhaven usava suas melhores roupas, como se fosse domingo. Os homens tocavam levemente seus chapéus cumprimentando as mulheres quando se aproximavam delas nas calçadas. Isso foi o que mais me impressionou. E Bremerhaven, como minha cidade natal Reading, tinha bondes barulhentos, um teatro e cinemas, grandes ruas comerciais com bares e restaurantes, mercearias familiares locais e barzinhos de esquina com cerveja e pretzels. Tudo que eu vi me lembrava das coisas como elas eram em Reading na minha infância, 20 anos antes. Eu me senti em casa! Acho que minhas primeiras palavras em alemão foram: “Quero uma cerveja e uma bratwurst, por favor”.
Um “fio corrido” e amor à primeira vista
Estava com amigos no centro, procurando uma cerveja e bratwurst, e ficamos intrigados com duas jovens que paravam passantes fazendo perguntas, e que pareciam angustiadas. Nós nos aproximamos e perguntamos se precisavam de ajuda. Descobrimos que uma delas tinha um “fio corrido” na meia-calça. Todas as lojas tinham acabado de fechar e ela precisava de moedas para colocar em uma máquina de vender meias-calças, que ficava em frente a uma loja de roupas. Meus amigos e eu tínhamos dinheiro trocado suficiente para ajudá-la. Foi quando aconteceu: nós nos olhamos e foi amor à primeira vista. Seu nome é Waltraud, e continuamos casados e felizes até hoje. Trocamos endereços e, em nossas cartas, sempre tentávamos nos encontrar toda vez que o navio voltava a Bremerhaven.Depois de um ano, terminei meu compromisso com o serviço militar. Naquele momento, decidi que a vida militar, com seus deslocamentos frequentes, não era ideal para um relacionamento e para constituir uma família. Renunciei à minha posição como oficial e voltei a Bremerhaven na qualidade de turista civil. Encontrei um emprego no porto de Bremerhaven como despachante de cargas e, mais tarde, na instalação militar da Marinha estadunidense em Bremerhaven. Waltraud e eu nos casamos na Igreja Memorial de Bremerhaven em agosto de 1968.
Atravessando o Atlântico de lá pra cá
Minha nova carreira no Departamento de Defesa dos EUA exigia que eu e minha jovem família voltássemos aos Estados Unidos, ou perderia meu emprego. Esse foi um ponto de virada muito importante na minha vida: ficar e começar tudo de novo, desempregado, ou regressar aos Estados Unidos. Vi e senti o estresse traumático nos olhos de Waltraud: prometi que, caso partíssemos, faria todo o possível para voltar para Bremerhaven. Fui empregado de novo por minha agência de logística marítima em Washington, D.C. Depois disso, eu sempre procurava um novo posto no exterior que me trouxesse novamente para mais perto de Bremerhaven. Eu estava novamente qualificado para trabalhar no exterior e encontrei um emprego para gerenciar o Centro da Frota de Carga da Marinha dos EUA no porto de Nápoles, na Itália.P.S: Eu gosto de arenque!
Edward Mazurkiewicz escreveu sua história de próprio punho e disponibilizou fotos antigas para a publicação. As imagens atuais são de autoria de Manja Herrmann.
dward Mazurkiewicz hat seine Geschichte selbst aufgeschrieben und alte Fotos zur Verfügung gestellt, die aktuellen Fotos stammen von Manja Herrmann. Die redaktionelle Betreuung lag bei Jörn Müller.
Agradecimento
A redação agradece à Casa do Emigrante Alemão de Bremerhaven – especialmente à Hilka Baumann – pelo apoio incansável, sem o qual esse depoimento não teria sido publicado.
Outubro de 2024