Vic Sales

Vic Sales Foto: © Vic Sales Nascida no ano de 1992 sob o sol de capricórnio, é pesquisadora de imagens e memórias. Em 2022, integrou a exposição coletiva "2022: Modernismo Contemporâneo e os Novos Gritos da Independência", realizada pela Lateral Galeria. É autora dos livros Um Jazz pra Duas (2017) e Caos: Recortes de um Peito Negro (2019).

Processo - Puertos

Proceso - Puertos

Passei um tempo me perguntando o que queria dizer ao norte global, até que entendi que não há nada que eu queira dizer, não para o norte branco dito hegemônico, mas há algo a ser compartilhado com o norte nascido no sul. Muito do meu processo girar em torno da memória e registros familiares, durante a residência não foi diferente. Meu projeto inicial era a construção de uma bandeira, um bandeirão de afetos, quase como um manifesto visual da felicidade, do jubilo, um devir negro em sorrisos. Mas em trocas com Ana Lira, grande parceira que muito me ajudou e ajuda, mudei o produto, mas ainda no mesmo caminho. Sigo com a construção de um registro de afetos entre pessoas negras, mas agora em vídeo, uma vídeo carta a minha falecida avó. Como todos sabem perdi uma de minhas avós em novembro, mas já havia me despedido da minha avó materna em 2009, quando eu estava descobrindo minha sexualidade, terminando o ensino médio e começando a mostrar meus escritos.

Quando minha avó materna faleceu eu não tinha ⅓ da leitura de mundo que tenho hoje, não sabia o quanto me angustiada no futuro não saber sobre o passado. As perguntas não feitas, as lacunas, os "e se" coletivos assombram muitos assim como me assombram. Minha avó paterna nunca esteve muito presente em minha vida, a tentativa de aproximação veio coincidentemente pouco antes do diagnóstico de Alzheimer, foram poucos os momentos que ela esteve presente em nossas últimas conversas, assim como são poucas as coisas que sei sobre ela sem que um de seus filhos contasse. Por falta de contato com a família do meu pai optei por seguir o caminho da família materna e fazer a vídeo carta para minha avó Elenita. 

O vídeo tem imagens de minha mãe, alguns tios, minha irmã, amigos e fotos da infância mesclada com imagens da ladeira porto geral, local que faz parte das minhas memórias mais legais, pois era onde eu comprava material escolar e me sentia incrível com isso. Ir lá com Ana buscando depois de ano o que ainda me era familiar foi potente, me lembrar de como era ser criança uma criada no interior num mar de gente da cidade grande e notei que nunca deixei totalmente de me sentir como uma menina do interior.