Ensino e aprendizado interculturais
Nova visão do ensino e aprendizado interculturais
As culturas não podem ser claramente diferenciadas entre si e, nem em si são homogêneas. Elas se definem mais por meio de relações dinâmicas e interações entre pessoas. – O que significam esses novos reconhecimentos para a conceitualização de cenários de aprendizado interculturais? Como esses critérios podem ser colocados em prática?
Cultura e interculturalidade em mutação: hoje em dia, a interconexão global é onipresente, seja na Economia, Ecologia, Logística ou Tecnologia da Comunicação. Atualmente, não só as estruturas políticas parecem estar se endurecendo novamente, mas também as limitações e delimitações têm aumentado e os movimentos de migração são contidos. Tudo isto acontece dentro de uma rede, em que as pessoas não se deixam mais isolar como ainda acontecia há poucas décadas. As culturas, independentemente de quão estreita ou distante seja a relação com este conceito, formam a sua identidade menos por si mesmas, mas sim, pela qualidade das suas relações com outros campos de atores culturais. A designação “campo de atores” refere-se principalmente a redes de pessoas, mas cada vez mais também a atores não humanos, como, por exemplo, no contexto da Internet das Coisas.
As culturas estão mais abertas, dinâmicas e mais fortemente interligadas entre si. Ao olhar por esta perspectiva até as últimas consequências, de modo consequente, chegamos ao conceito de transculturalidade. Por trás disso está a suposição de que as culturas são formas mistas e, de fato, não já uma linha clara de distinção entre elas. Nos anos 90, o filósofo Wolfgang Welsch reforçou esse conceito de transculturalidade em contraposição a um entendimento de interculturalidade, com foco fundamentalmente estrutural e marcado pelas comparações entre as culturas. Isso geraria, de acordo com Welsch, delimitações entre as culturas que sugerem homogeneidade cultural. A consequência desse entendimento são as generalizações e formações de estereótipos inadmissíveis, ou seja, o contrário daquilo que realmente é buscado pelo ensino e aprendizado interculturais. Essa crítica é justificada, porém o conceito de transculturalidade também tem seus pontos fracos. A perspectiva transcultural, que remove limitações, não responde às condições de delimitações, conflitos de estruturas e interesses de poder. Discursos atuais, que reivindicam a revisão da cultura e interculturalidade, tentam conectar o estrutural e o processual entre eles. Neste caso, a cultura representa a perspectiva da estrutura e a interculturalidade a perspectiva do processo, como se fossem dois lados da mesma moeda.
Alteração das premissas da pesquisa intercultural
Mesmo que os discursos atuais apresentem argumentos muito diversificados para uma nova orientação da pesquisa e do aprendizado interculturais, eles coincidem em relação às suas premissas: as culturas estão baseadas nas regras de atuação convencionadas dos seus atores, apoiadas por costumes, acordos ou regulamentações. Esses processos são complexos, porque as pessoas se sentem muitas vezes parte não só de uma, mas sim de várias culturas. Quanto mais diversificada é a negociação, mais problemático é descrever as culturas como redes homogêneas e claramente delimitáveis. Por este motivo, o próprio e o de outrem são interligados entre eles e formam apenas vértices em um espectro com muitas graduações de familiaridade e não familiaridade. Uma situação intercultural está presente quando, nela, a não familiaridade e indeterminação têm maior peso. Isto se deve ao fato de não existirem regras lógicas relativas ao comportamento e à atuação. A atuação intercultural competente consiste em poder negociar as regras incluindo os pontos de vista entre parceiros de interações. Se isso for possível, o processo intercultural com essa estruturação assume as primeiras formas de culturalidade. A atuação intercultural pode perfeitamente gerar mal-entendidos, mas deve poder ser entendida em primeiro lugar como uma chance de desenvolver novas coisas e desdobrar potenciais desconhecidos.Consequências do ensino e aprendizado interculturais
Considerando o pano de fundo das versões teóricas modificadas, não resta dúvida de que inclusive as abordagens bem fundamentadas do ensino e do aprendizado interculturais devem ser repensadas. Exercícios que trabalham com “dos & dont’s”, ou tarefas que reduzam as culturas a culturas nacionais e tentam explicá-las com a ajuda de modelos dimensionais ou suposições padronizadas, dificilmente são compatíveis com os novos paradigmas. O mesmo é aplicável às encenações e simulações com duas culturas construídas de formas diferentes e representadas como se fossem homogêneas, ou para exercícios de “Culture Assimilator”, que explicam os mal-entendidos culturais como monocausais.Ainda não existem muitos novos tipos de exercícios para o aprendizado intercultural, que levam em consideração a mudança descrita acima. Foram lançadas iniciativas correspondentes, entre outras também o desenvolvimento do conceito de treinamento intercultural do Instituto Goethe. Entre os objetivos de aprendizado abrangente estão:
- Lidar de forma construtiva com situações de incerteza e insegurança
- Pensar sobre as perspectivas e agir de modo correspondente
- Compreender as diferenças quanto ao seu potencial de chances e não só de serem mal-entendidas
- Identificar e aplicar potenciais de sinergia
- Desenvolver a consciência das assimetrias de poder que podem surgir nas atuações interculturas, inclusive através de diferentes competências idiomáticas
- Encarar as culturas como redes de valor agregado, potencialmente abertas, que não possuem delimitações estritas entre elas
- Entender os desenvolvimentos culturais dentro das suas relações histórico-globais
- Estar motivado e também motivar para atuações interculturais
Potencial de mídias digitais
No que diz respeito à metodologia e didática, a questão é despertar a “fome de experiência” dos alunos e mostrar-lhes como podem descobrir por si mesmos as diferentes redes culturais. Além disso, os alunos precisam de métodos com os quais possam não apenas tematizar, mas também lançar a interculturalidade. Para isso, as mídias digitais abrem possibilidades que estão longe e terem sido totalmente esgotadas porque, através das salas de aula virtuais, os (grupos de) alunos em todo o mundo podem atuar no âmbito de jogos estratégicos e elaborar em conjunto temas atuais em projetos. Dessa forma, é a colaboração pode ser realizada dentro de condições multilinguísticas, com fuso horário e indefinição. Mesmo estando em diferentes locais, os alunos podem analisar esses processos no espaço virtual com a ajuda de screencasts. Esse tipo de cenário de aprendizado oferece interfaces com todas as metas aprendizagem mencionadas.O mesmo se aplica à aprendizagem “de descoberta” com suporte digital: o Google Earth e o Street View nos permitem realizar não só viagens de descobertas diferenciadas, mas também documentar ao mesmo tempo as mais diferentes perspectivas de um mesmo comportamento graças às fotografias e comentários de usuárias e usuários do mundo todo.
No entanto, também para cenários de aprendizagem não digitais, é possível desenvolver exercícios fáceis para um novo aprendizado intercultural: os “Positive Incidents” são eventos que não estão baseados em mal-entendidos, mas sim naqueles em que os potenciais dos participantes interagem entre si e permitem que surjam coisas novas que nenhum dos participantes teria feito sozinho. As encenações também fazem parte desses exercícios que abrangem identidades múltiplas dos seus atores, estudos de casos que documentam o desdobramento de potenciais de sinergias interculturais e também projetos de Co-Working, cujo centro é a valorização mútua e uma interconexão consciente. O jogo da torre de açúcar é um bom exemplo disto:
O que esses novos tipos de exercício têm em comum é sua meta de entender e exercitar a atuação intercultural como uma chance de interação e de conexão de campos de atores culturais partindo de uma perspectiva autocrítica. Nisso é preciso aceitar a igualdade do que é local e do que é global.
LITERATURA
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Helmolt, Katharina van/Berkenbusch, Gabriele/Jia, Wenjian (Hg.) (2013): Interkulturelle Lernsettings. Konzepte – Formate – Verfahren. Stuttgart: ibidem.
Thiagarajan, Sivasailam/Bergh, Samuel van den (Hg.) (2014): Interaktive Trainingsmethoden. Thiagis Aktivitäten für berufliches, interkulturelles und politisches Lernen in Gruppen. Schwalbach/ Ts.: Wochenschau Verlag.
Welsch, Wolfgang (2009): Was ist eigentlich Transkulturalität?