A aproximação entre a produção artística de Guilherme Robaski e Bya de Paula à primeira vista pode parecer distante, porém ambos artistas expandem o campo da arte impressa através do uso de materiais e suportes que trazem a busca pela construção de novas realidades em conceitos bem particulares. Esta seleção para o V Concurso de Arte Impressa do Instituto Goethe aconteceu antes do período de isolamento social causado pela pandemia de Covid-19. Contudo, penso que os artistas já trabalhavam com uma perspectiva de arte que poderá ser desdobrada para além do momento em que vivemos, onde as tecnologias tradicionais e digitais se sobrepõem como possibilidades para se pensar em um futuro da arte.
Guilherme Robaski parte de uma produção gráfica em design, mas retorna ao papel utilizando uma técnica inusitada para esse suporte – o bordado. Com precisão cirúrgica, seus desenhos pensados no meio digital se transformam em linhas de tecido com formatos geométricos bem delimitados e cores marcantes. A partir do século XX, design e têxtil se aproximaram, fazendo a tradição manual adquirir status de obra de arte. Atualmente há um resgate da produção artística em bordado principalmente dentro das pautas identitárias e de gênero, que subvertem a técnica dando camadas políticas de significados às obras, normalmente associadas a uma narrativa pessoal. Nas obras de Robaski como Silêncio e Tempo, já no título conseguimos observar a relação com da prática artesanal, laboriosa e demorada, realizada em um fluxo contrário ao imediatismo em que vivemos. Porém, remetem a uma temática decorrente da computação, seus desenhos são criações de universos próprios, utopias pensadas no digital e reelaboradas no plano físico.
Guilherme Robaski - Tempo, 2020. Bordado sobre papel
Bya de Paula também utiliza materiais analógicos e digitais em sua produção artística. A partir de vestígios de mídias eletrônicos como fitas VHS, DVDs e CDs, a artista cria seu próprio método de impressão, expandindo o campo da gravura para diferentes suportes que são apresentados no espaço expositivo como instalações. A relação entre a arte e sustentabilidade se torna evidente, pois Paula pensa novas possibilidades para os materiais que seriam descartados, unindo em sua produção fatores éticos e estéticos, fazendo com que a obra adquira uma potência transformadora. O ato de gravar está presente tanto na técnica artística, quanto na natureza do material; se antes as mídias estavam a nosso serviço para o registro de memórias, a partir da intervenção da artista, com o atrito e a frotagem, elas mesmas contam suas histórias. Essa reflexão dá possibilidades para que a arte seja um agente da transformação que queremos, para pensarmos em um futuro onde os artistas também questionem a responsabilidade da preservação do ambiente, da memória e dos afetos.
Bya de Paula – Poeira Negra (2020). Monotipia/frotagem sobre acetato e adesivo
As produções de Robaski e de Paula participam de uma revolução da tradição do artesanal, agora pensadas em conjunto com o digital. Em meios a uma vida virtual proporcionada pelas novas tecnologias, quando eliminamos as dimensões de tempo e espaço, eliminamos também a suposição de causa e efeito, criando rupturas de significação, desentendimentos e falta de empatia. Assim, penso que o futuro da arte tenha esse desafio: reestabelecer os laços que possuímos com o outro, através de manifestações artísticas que envolvam as esferas políticas, críticas e sustentáveis.
Bya de Paula - Cinema rudimentar 1
Bya de Paula - Cinema rudimentar 2
Bya de Paula - escrita lucida
Bya de Paula - Escrita translúcida
Bya de Paula - Processo
Guilherme Robaski - Atenção, 2020
Guilherme Robaski - come over, 2020
Guilherme Robaski - Silêncio, 2020 1
Guilherme Robaski - Silêncio, 2020 3
Guilherme Robaski - Silêncio, 2020 5
Sobre o Concurso de Arte Impressa
O Concurso de Arte Impressa do Goethe-Institut Porto Alegre fomenta as manifestações de artistas contemporâneos no âmbito da gravura - campo de forte tradição no Rio Grande do Sul e na Alemanha. Em 2020, o Concurso privilegiou produções emergentes que exploram a arte impressa em um campo ampliado através de diálogos com outras linguagens.