Apesar da digitalização das mídias, ensinar e aprender continuam sendo processos analógicos. Atualmente, a pesquisa em educação tem voltado o olhar para o subestimado aspecto da relação professor-aluno. A qualidade desta relação tem um grande influência no rendimento – e pode ser trabalhada.
A digitalização do ensino é o assunto do momento. Não há nada que não deva ser melhorado, com sua ajuda: o rendimento dos alunos, sua motivação, talvez até mesmo a igualdade de oportunidades. Há pouco, um especialista em didática falava entusiasmado, nesta revista, que o talblet e a internet não são somente novas ferramentas. O real valor das mídias digitais, segundo ele, não consiste em atingir os objetivos mais rapidamente, mas sim em abrir dimensões completamente novas de objetivos. A “cultura da digitalidade” que está surgindo, está “inserindo toda a sociedade num novo caldo de cultura do pensamento, onde conceitos como “aprender” e “conhecimento” adquirem novos significados”.
Soa avassalador – mas estará correto isso que está surgindo de maneira tão atraente? Realmente há uma revolução do ensino a caminho? Estará, daqui a 10 anos, o ensino na escola realmente irreconhecível? Claro, ninguém é clarividente – será preciso observar como as coisas se desenvolvem. Mas o estado atual da pesquisa aponta para outra direção.
Em análise os efeitos da aprendizagem
O meta-estudo XXL “Visible Learning”, do neozelandês John Hattie (2009/2017) constata: Comparando-se com o progresso médio de aprendizagem dos alunos (força de impacto 0,4), o efeito da digitalização na aprendizagem fica um pouco abaixo da média. Não são as mídias e os recursos que são decisivos, mas sim o grau de ativação dos alunos e os impulsos dados pelo professor para ele se aprofundar no assunto. A questão de cada aluno ter ou não seu próprio lapttop é relativamente pouco significativa (0,16); entretanto, se as aulas são complementadas com vídeos interativos, isto pode auxiliar bastante (0,54). Mesmo nas aulas de ciências parece haver coisas mais importantes do que o uso de tecnologia digital (0,23), enquanto que nos casos de necessidades especiais o auxílio digital é incentivador (0,57).
Uma coisa se pode presumir: O gargalo analógico na aprendizagem não pode (visto que é condicionado antropologicamente) ser contornado nem ignorado; primeiro é preciso passar por ele, se o indivíduo quiser entrar no mundo sendo, pelo menos até certo ponto, um cidadão consciente, mesmo num mundo cada vez mais digital. É por este motivo que o pesquisador especialista em mídias Ralf Lankau escreve: “Nenhum ser humano aprende de forma digital”. Neste contexto, o potencial das novas ferramentas para a escola é indiscutível. Fazer exercícios e colocar o aprendido em prática são coisas que podem se tornar mais ricas e individualizadas, conclusões podem ser aprofundadas, há mais possibilidades para feedback e colaboração. Mas ainda não é possível vislumbrar um trabalho totalmente diferente e autodirigido de desenvolver novos contextos. Pelo contrário: o mantra pedagógico da autonomia perdeu reputação à luz do empirismo.
Relação professor-aluno – ultrapassado ou um novo sucesso?
Ao contrário, o gigantesco banco de dados de Hattie sobre efeitos ensino-aprendizagem faz o foco se voltar para um aspecto que muitas vezes é subestimado: ” o relacionamento professor-aluno está entre os efeitos mais poderosos em relação ao rendimento dos alunos”. Ou como o neurocientista Joachim Bauer formula: “ O ser humano é, para outro ser humano, a droga motivacional número um.” Resumindo em relação à escola: ensino é principalmente uma questão de relacionamento!
É que depende muitíssimo do clima do relacionamento com professor, se eu como aluno tenho coragem de me aproximar de assuntos complexos ou se desisto precocemente, se me disponho a me ocupar de temas incômodos, se eu consigo deixar de lado por algum tempo o meu cansaço ou minha irritação com meu colega ao lado.
Em contrapartida, a visão de ser humano e a capacidade de comunicação do professor influencia muito sua própria satisfação profissional. Se ano após ano, ele consegue se relacionar bem com os mais diversos alunos, se ensinar lhe dá alegria mesmo após décadas – isso depende muito de primordialmente se gostar de pessoas jovens, com toda a sua imaturidade e falta de disciplina (e principalmente dos “difíceis”); se se interessa por eles individualmente, se consegue se colocar no lugar deles; se consegue conduzir uma turma de maneira tranquila e segura, mesmo atravessando temas difíceis e situações turbulentas.
Potsdamer Verlag 2005
Relacionamento professor-aluno – o que, na verdade, é isso?
O relacionamento professor-alunos, portanto, é um código secreto para eficácia e satisfação profissional, mas se constitui numa zona cinzenta na formação do professor.
Entretanto, a qualidade do relacionamento não é coisa do destino, nem algo mágico – os professores também podem aprender algumas coisas nesta área mais emocional. Por um lado, a relação professor-aluno sempre tem uma componente pessoal, mas deveria, ao mesmo tempo, ter um caráter profissional. Os alunos precisam da pessoa do professor como pessoa, para aprender – eles querem ser percebidos, auxiliados e direcionados como personalidades individuais.
Concretamente, isto se expressa no fato de o professor se interessar pelos seus alunos e valorizar cada um da melhor maneira; ao dar espaço para o que cada um fala e fazer perguntas para aprofundar; ao conhecer os lados fortes e as deficiências de cada aluno e agir de acordo, reconhecendo e encorajando; estando disponível para conversar fora da aula sobre assuntos pessoais; conhecendo os procedimentos na sala de aula, reconhecendo seus próprios erros e na medida do possível mostrando poucos sentimentos de irritação e menosprezo. O que não quer dizer que o professor deve querer quase ser “o melhor amigo”.
O segredo de uma boa condução da classe
Mas eu tenho 30 alunos todos diferentes – como posso estabelecer um relacionamento com cada um deles? E isso, possivelmente, seis vezes por dia? Felizmente os alunos, independente da idade, têm algo em comum: internamente estão voltados em direção ao professor competente e querem a atenção e ratificação dele. O professor só precisa saber disso – e exercer o seu papel de autoridade sem pudor. Se a relação estiver em ordem, simplesmente a turma é arrastada junto, mesmo no calor, mesmo atravessando uma parte difícil da matéria. Um classroom management eficaz, portanto, não é uma coisa técnica, mas se baseia mais na postura interna de liderança – aparece em cada vez que se fala, em cada decisão.
Mas dá para aprender isso?
Não dá para adquirir essa dimensão interpessoal por meio de uma coleção de receitas, mas pode-se expandi-la ao longo da vida profissional. Mas ela também é sensível, facilmente bloqueável, sujeita a distúrbios. Professores principiantes muitas vezes ficam inseguros em relação aos alunos, se estes o estão levando a sério; professores smais experientes sofrem com o estresse causado pelo currículo. Mas características pessoais do professor também podem atarapalhar: perfeccionismo, por exemplo, ou uma postura muito distanciada; ou se estiver lutando pelo reconhecimento por parte dos alunos, ou estiver evitando conflitos com eles, mostrando medo de liderar.
De maneira geral, o professor ou a professora rapidamente levam distúrbios durante a aula para o lado pessoal. Pensa: este alunos sempre faz estas perguntas esquisitas, certamente ele não gosta de mim; ou aquele outro quer atrapalhar a aula fazendo piadas toda hora; ou: ninguém dá valor ao meu trabalho de preparação. E logo fica de mau humor – ou atira com canhões em pardais. Talvez a menina, na verdade, só queira mostrar que idéias interessantes teve a respeito do tema; o menino pode querer estar desviando a atenção dos seus problemas de compreensão. Alfred Adler, pioneiro da psicanálise pedagógica, deu importantes impulsos para analisar as interrupções como sendo soluções subjetivas – e como canalizar uma energia desfavorável para algo útil.
Para continuar ouvindo: conversando com Michael Felten
LiteraturA:
Bleckmann, Paula und Lankau, Ralf (Hrsg., 2019): Digitale Medien und Unterricht. Eine Kontroverse. Weinheim: Beltz.
Dreikurs, Rudolf (2009): Psychologie im Klassenzimmer. Stuttgart: Klett-Cotta
Felten, Michael (2016): Nur Lernbegleiter? Unsinn, Lehrer! Lob der Unterrichtslenkung. Berlin: Cornelsen.
Felten, Michael (³2014, gemeinsam mit Elsbeth Stern): Lernwirksam unterrichten. Im Schulalltag von der Lernforschung profitieren. Berlin: Cornelsen.
Hechler, Oliver (2017): Feinfühlig Unterrichten: Lehrerpersönlichkeit - Beziehungsgestaltung - Lernerfolg. Stuttgart: Kohlhammer.