Sistemas educacionais durante a pandemia do COVID-19
A pandemia do coronavírus nos EUA: professores relatam suas experiências

Devido às consequências da pandemia, os sistemas educacionais de todos os países do mundo se depararam com desafios nunca antes vistos. Nos EUA, um dos países mais afetados pelo vírus, as consequências foram muito drásticas para professores e alunos. As mudanças previstas nas escolas para o segundo semestre letivo, irão transformar as aulas em longo prazo. Aqui, um retrato da situação atual nos EUA.

A crise traz à tona desigualdades

Segundo um estudo da commonsensemedia, 4 de cada 10 adolescentes nos EUA dizem que não participaram ou só participaram irregularmente das aulas on-line desde o início da crise do coronavírus. É verdade que só foram entrevistados 800 alunas e alunos em escolas públicas, mas, mesmo assim, estes dados permitem identificar uma tendência geral nos EUA.

Alysha Holmquist Posner © Alysha Holmquist Posner Esta também é a opinião de Alysha Holmquist Posner, uma professora na Enumclaw High School, em Washington, vai nesta mesma direção, ao responder à pergunta: quais foram as mudanças imediatas em suas aulas devido à crise do coronavírus?

"A crise trouxe à tona desigualdades que, antes, talvez não tivéssemos percebido com tanta clareza. Alunos que vivem em condições precárias, por vezes, não têm acesso à Internet, o que é necessário para poder continuar participando das aulas, ou então, vivem (como é bem frequente aqui) em áreas rurais, sem conexão segura à Internet." Alysha Holmquist Posner

Funções elementares da escola se perderam

A crise mostra e reforça os desafios já substanciais do sistema público de ensino dos EUA. Funções extracurriculares importantes da escola não podem mais ser executadas na mesma medida, devido ao ensino à distância. Melanie Mello Chandler High School, Phoenix, Arizona também compartilha isso:

 © Melanie Mello "A crise atual reforça a necessidade de superar os obstáculos para proporcionar oportunidades de educação justas para todos. É preciso mudar a forma como as escolas públicas e seus alunos são financiados e providos de equipamentos, para assegurar que todas e todos tenham acesso igual a equipamentos eletrônicos e a uma conexão WiFi de Internet confiável. Já antes da pandemia a tecnologia na casa dos pais tinha um papel decisivo no desempenho escolar (...). Em muitas escolas, a participação dos seus alunos era inferior a 30%. Alunos de famílias que não têm condições de comprar um computador e acesso à Internet não terão estes recursos, se não lhes forem disponibilizados por uma organização externa. É neste sentido que a crise sanitária global inviabilizou aos meus alunos fazer qualquer coisa." Melanie Mello

Mesmo que a infraestrutura técnica e o meio familiar possibilitem a participalção ativa das aulas curriculares, nos últimos três meses, se perderam muitas das funções elementares da escola.

"Eu não acredito que, no futuro, as aulas on-line serão o principal meio de transmissão de conhecimentos no sistema educacional, pois as crianças continuarão recebendo a maior parte da sua formação no ambiente escolar tradicional. Ao menos nos EUA, a demanda por um lugar para deixar as crianças enquanto os pais vão trabalhar não irá desaparecer no futuro próximo. Além disso, as competências sociais aprendidas em sala de aula continuarão tão importantes como sempre." Melanie Mello
 

Chances para novos caminhos depois da crise

Para os alunos, o contato social no cotidiano é essencial. Para grande parte deles não basta poder interagir de modo digital, por exemplo, através das mídias sociais. Mesmo assim, a crise também gerou novas possibilidades para as aulas que podem ser muito bem aproveitadas no ensino de línguas estrangeiras.

"A crise sanitária global teve impacto na minha atividade docente, no sentido de levar à realização de aulas virtuais. Dessa forma, por exemplo, eu pude integrar nas aulas videoconferências com palestrantes ao vivo, diretamente da Alemanha, o que deixou os meus alunos empolgados." Christine Conz Moll, Fleetwood Area School District, em Fleetwood, na  Pennsilvânia.
Mesmo antes da pandemia, havia a possibilidade de convidar palestrantes que dominam a língua lecionada como materna para uma participação com interação na sala de aula. Com a crise, porém, aumentou a necessidade de mais diversificação e de atividades mais atraentes em aula, de modo que surgem programas inovadores como, por exemplo, o programa virtual de intercâmbio GAVE do German American Partnership Programms (GAPP), que, normalmente, só apoia intercâmbios interculturais presenciais entre escolas parceiras.

Heike Wrenn © Heike Wrenn "Situações e tempos inéditos nos levam a procurar possibilidades inéditas. Enquanto um intercâmbio virtual carece de muitos dos aspectos fantásticos que empolgam os alunos participantes e os deixam ansiosos, por outro lado, também pode apresentar inúmeras vantagens, nas quais eu nem havia pensado antes... Por exemplo, alunos que não se sentiam confortáveis em se comprometer a morar durante duas semanas na casa de pessoas estranhas, não tiveram qualquer problema em "deixar pessoas estranhas entrar na sua sala de casa" e apresentá-las à sua família, fazendo rapidamente amizade com estas." Heike Wrenn, Boiling Springs High School, Boiling Springs, Carolina do Sul

Um aspecto decisivo, que contribui para o sucesso da aprendizagem e a participação dos alunos, é a adequação do material didático. Deixar os exercícios e as folhas com atividades de lado e focar na aula voltada para projetos e conteúdo interdisciplinar que oferece múltiplas possibilidades de aprendizagem aos alunos e lhes transmite de forma bem transparente a meta de aprendizagem. Mais importante do que os materiais didáticos é o acompanhamento de perto da professora/do professor, seu apoio contínuo no processo de aprendizagem, o feedback sobre as tarefas realizadas e a reflexão conjunta, sobre as experiências de aprendizagem individual ou em classe. No espaço virtual, a professora/o professor desempenha um papel ainda mais relevante, as suas tarefas, no entanto, se tornam mais diferenciadas e centradas nos alunos.

Encontrar a combinação adequada

Uma abordagem pedagógica que integra estes aspectos e representa a combinação de aula presencial e virtual é o blended learning ou ensino híbrido. Os alunos não ficam sozinhos na fase on-line, a professora/o professora faz a integração entre os dois formatos de aprendizagem, aproveitando as vantagens da aula presencial e as possibilidades da aula digital.
"Eu diria que estou aguardando com expectativa positiva o plano de aulas on-line/off-line ou também chamado de plano de aulas A/B. Penso que, se o número de alunos em sala de aula for menor, esta é uma ótima oportunidade de ter mais engajamento positivo e ficarei feliz em saber que os outros alunos podem estudar em casa e, assim, irão apoiar este engajamento." Heike Wrenn

O segundo semestre letivo foi muito complicado para alunos e professores e para todo o sistema educacional nos EUA. Mesmo no início do ano letivo (agosto/setembro), provavelmente, não será possível oferecer aulas presenciais regulares com todos os alunos juntos. Desse modo, se fazem necessários novos conteúdos e, principalmente, novos conceitos de metodologia que combinem a aprendizagem em sala de aula com a aprendizagem on-line, dando aos alunos a chance de adquirir os seus conhecimentos de modo mais autônomo, porém, proporcionando o contexto social com orientação e tutoria.

"Sim, acredito que a educação tenha mudado para sempre. Penso que esta situação nos permite ver possibilidades de aprendizagem com aulas invertidas e novas possibilidades de aplicação da tecnologia em sala de aula. Eu parto do princípio de que a abordagem do blended-learning será mantida quando retomarmos as aulas nas escolas em agosto/setembro." Alysha Holmquist Posner